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Pragas no armazenamento do trigo: o que fazer?

Leia sobre as características das principais pragas que atacam o trigo armazenado.


Foto: Paulo kurtz/ Embrapa

As pragas podem causar grandes prejuízos na qualidade de grãos armazenados, além de abrir espaço para outras contaminações, como fungos e micotoxinas. Além disso, apenas a presença de insetos nos produtos finais também causa prejuízos, causando perdas econômicas além de ser algo indesejável pelos consumidores. Caso seja encontrado um inseto vivo no trigo, o produto é desclassificado para comercialização. Abaixo você pode ler informações acerca das características, danos e controle das pragas que atacam grãos armazenados de trigo.

Para eliminar as pragas nos armazéns de trigo, é necessário realizar o "Manejo Integrado de Pragas" na unidade armazenadora. O manejo integrado é composto de diversas medidas que agem em conjunto para controlar a população desses organismos indesejáveis:

 

Manejo das pragas no armazenamento do trigo

Mudança de comportamento dos armazenadores

É uma medida extremamente fundamental. Todas as pessoas que trabalham na unidade armazenadora devem participar do processo. Estas pessoas devem ser conscientizadas sobre a importância das pragas, como ocorrem os danos e a importância do manejo integrado.

 

Conhecimento da unidade armazenadora

Todos que trabalham na unidade armazenadora vem conhecer a estrutura e o funcionamento, desde a chegada do produto até a expedição. A inspeção da unidade deve identificar e prever os possíveis focos de insetos-praga dentro do sistema. Também deve ser elaborado um histórico do controle de pragas nos anos anteriores na unidade armazenadora.

 

Limpeza e higienização da unidade armazenadora

O uso de equipamentos de limpeza como aspiradores de pó, vassouras, escova em moegas, túneis, secadores, passarelas, fitas transportadoras, eixos sem-fim, máquinas, elevadores e instalações resulta em grandes ganhos no manejo integrado. Focos de infestação como resíduos de grãos, poeiras, sobras de classificação devem ser eliminados. Após a limpeza, deve ser feito um tratamento periódico de toda a estrutura armazenadora com inseticidas protetores de longa duração, evitando a reinfestação.

 

Identificação precisa do inseto-praga e dos seus danos

Os insetos-praga presentes na unidade armazenadora devem ser corretamente identificados através de seus aspectos morfológicos, genéticos, físicos e reprodutivos. Apenas a correta identificação permite a correta medida de controle, evitando maiores prejuízos com a praga em questão. Nessa página você pode ler sobre as características destas pragas, visando uma identificação correta.

Além disso, devemos entender qual a capacidade de dano pela praga em questão, pois esta informação irá determinar a viabilidade de comercialização dos grãos.

 

Considerar casos de resistência a inseticidas

A resistência de pragas a defensivos é um problema bastante comum na agricultura. Ao aplicar inseticidas para o controle de pragas, devemos nos informar sobre casos de resistência, evitando aplicações que podem acentuar o problema ou causar prejuízos financeiros através do uso de produtos sem eficiência.

 

Tratamento preventivo da massa de grãos com inseticidas

Após a limpeza e secagem dos grãos, caso sejam armazenados por longos períodos, os grãos podem receber uma aplicação preventiva com inseticidas protetores, garantindo a eliminação de pragas que venham a infestar o produto durante o armazenamento.

Este tratamento é realizado no abastecimento, podendo ser feito através de pulverização na correia transportadora ou em outros pontos de movimentação dos grãos, buscando sempre realizar uma mistura perfeita e homogênea dos produtos com a massa de grãos. Podem ser usados inseticidas químicos ou naturais. Os naturais não são tóxicos e mantêm inalteradas as características alimentares dos grãos. Podemos aplicar inseticidas também em grãos armazenados em sacaria.

 

Tratamento curativo da massa de grãos com inseticidas

Quando ocorre a presença de pragas na massa de grãos, deve ser feito o controle com produto à base de fosfina. Esse controle é feito em armazéns, silos, câmaras de expurgo, porões de navios ou vagões, sempre vedando o ambiente e respeitando a dosagem e o período mínimo de exposição de cinco dias para o controle de todas as fases da praga.

 

Monitoramento da massa de grãos

Os grãos armazenados devem ser frequentemente monitorados durante todo o período de armazenamento, de modo a detectar as pragas no início da infestação. O monitoramento deve ser realizado através de uma boa amostragem, e identificando as variáveis como temperatura e umidade de grãos. 

 

Identificação das pragas

Pragas primárias

Estas pragas atacam os grãos inteiros e sadios, sendo classificadas como:

  • Pragas internas - penetram nos grãos para completar seu desenvolvimento, se alimentando do interior do grão. Além disso, ao perfurarem os grãos, facilitam a penetração de patógenos que irão deteriorar o grão. Como exemplo destas pragas, podemos citar o gorgulho-dos-cereais (Rhyzopertha dominica) e o gorgulho do milho (Sitophilus zeamais).
  • Pragas externas - destroem a parte exterior do grão e, após, alimentam-se da parte interna, porém não se desenvolvem no interior do grãos. Como exemplo podemos citar a traça-indiana-da-farinha (Plodia interpunctella).

 

Pragas secundárias

Para que estas pragas ataquem os grãos, é necessário que estes já estejam danificados / quebrados para possibilitar o ataque. Caso o grão esteja íntegro, estas pragas não conseguem atacá-lo. Possuem a capacidade de se multiplicar rapidamente, causando grandes prejuízos. Como exemplo podemos citar os besouros Cryptoteles ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis e Tribolium castaneum.

 

Descrição das pragas de grãos armazenados de trigo

Besourinho dos cereais - Rhyzopertha dominica

Devido à incidência e grande dificuldade de controle, esta é a principal praga de pós-colheita do trigo. É capaz de se adaptar rapidamente a condições climáticas adversas, sobrevivendo até em temperaturas extremas. Os ovos desta espécie possuem um formato cilíndrico, são inicialmente brancos e posteriormente rosados e opacos, com cerca de 0,59 mm de comprimento e 0,2 mm de diâmetro. As larvas são brancas, porém com a cabeça escura, medindo aproximadamente 2,8 mm de comprimento. As pupas possuem quase 4 mm de comprimento e 1 mm de largura, são brancas, evoluindo para uma cor castanha próximo à emergência dos adultos. Quando adultos, possuem 2,3 a 2,8 mm de comprimento, cor castanho-escuro e uma cabeça escondida pelo protórax.

Os ovos desse inseto são colocados isolados ou em grupos, em locais como fendas ou rachaduras de grãos ou até mesmo na massa de grãos. A fêmea pode colocar cerca de 250 ovos por ano, a depender da qualidade dos grãos, e das condições de temperatura e umidade, que influenciam diretamente o comportamento da espécie. O período de incubação dos ovos é de 4,5 dias a 36ºC, ou de 15,5 dias a 26ºC. As larvas duram cerca de vinte e dois dias, as pupas cinco dias e os adultos 29 dias, em condições de 30ºC e 70% de umidade relativa.

 

Danos do besourinho dos cereais

Como este besouro é uma praga primária interna, possui grande capacidade de deterioração dos grãos, podendo destruir aproximadamente 5 vezes o seu peso por semana. O inseto perfura os grãos, deixando grande quantidade de farinha, e é capaz de atacar diversos grãos como trigo, triticale, cevada, arroz e aveia.

 

Gorgulho dos cereais - Sitophilus oryzae e Sitophilus zeamais

Trata-se de espécies muito semelhantes, que ocorrem juntas na mesma massa de grãos e se diferenciam apenas pela genitália.

As larvas desta espécie possuem uma cor amarelo-clara, com cabeça marrom-escura. As pupas são brancas. Os adultos possuem 2,0 a 3,5 mm de comprimento, com cor castanho-escura e manchas mais claras nas asas anteriores. Possuem uma cabeça projetada à frente, em formato de rostro curvado.


Adulto de Sitophilus oryzae.

A fêmea possui longevidade de aproximadamente 140 dias, coloca aproximadamente 282 ovos, com período de oviposição de aproximadamente 104 dias. A incubação é de aproximadamente 3 a 6 dias, e o ciclo de ovo até a emergência dos adultos é de aproximadamente 34 dias.

 

Danos do gorgulho-dos-cereais

Trata-se de uma praga primária interna (tanto as larvas quanto adultos atacam grãos inteiros), que pode atacar diversas espécies como milho, trigo, arroz, cevada e triticale. Penetra profundamente na massa de grãos e pode infestar os grãos tanto no campo quanto no armazém, sendo assim, uma praga bastante importante. Como a postura de ovos é feita nos grãos, as larvas se desenvolvem na parte interna destes, empupam e transformam-se em adultos. Assim, o dano se dá pela redução do peso e da qualidade do grão.

 

Besouro castanho - Tribolium castaneum

São besouros com coloração castanho-avermelhada, corpo achatado e que medem entre 2,3 a 4,4 mm de comprimento. As larvas possuem cor branco-amarelada e medem até 7 mm de comprimento. As fêmeas podem colocar entre 400 a 500 ovos em fendas, na sacaria ou até sobre os grãos.

Danos do besouro castanho

Como o besouro é uma praga secundária, depende do ataque de outras pragas para conseguir atacar os grãos. Pode consumir os grãos de várias espécies e causar prejuízos até maiores do que as pragas primárias.

 

Oryzaephilus surinamensis

São besouros de cor vermelho-escuro, alongados que, quando adultos, o comprimento varia entre 1,7 mm e 3,3 mm. No segmento torácico após a cabeça (pronoto) possui seis dentes laterais, que permitem a identificação da espécie. As fêmeas colocam entre 50 e 300 ovos, colocando-os no interior da massa de grãos ou em orifícios nos mesmos.

 

Danos do Oryzaephilus surinamensis

Por ser uma praga secundária, apenas consegue atacar grãos quebrados, fendidos ou restos de grãos. Geralmente aparece em unidades armazenadoras, deteriorando os grãos pela elevação acentuada da temperatura. Como é bastante tolerante à inseticidas, geralmente é uma das primeiras pragas a colonizar os grãos após a aplicação desses produtos.

 

Besouro escaravelho - Cryptolestes ferrugineus

São pequenos besouros ágeis, marrom-avermelhados, com, aproximadamente, 2,5 mm de comprimento, com antenas longas e alta capacidade de reprodução. As fêmeas colocam os ovos na superfície ou no interior da massa de grãos, colocando entre 300 e 400 ovos. Dependendo das condições de temperatura e umidade na massa de grãos, o ciclo de vida pode durar de 17 a 100 dias.

 

Danos do besouro escaravelho

Como o besouro é uma praga secundária, consegue atacar apenas grãos rachados, quebrados ou fendidos. A praga consome os grãos, elevando a temperatura da massa de grãos e causando o deterioramento. Também é bastante presente em armazéns, sendo tolerante ao tratamento com inseticidas, surgindo logo após às aplicações. Possui grande facilidade de reprodução em massas de grãos armazenados.

 

Traça-dos-cereais - Sitotroga cerealella

Esta espécie é uma mariposa, com 6 a 8 mm de comprimento e 10 a 15 mm de envergadura. As asas anteriores são franjadas, com cor amarelo palha, e as posteriores mais claras, com franjas maiores. Estes insetos vivem entre 6 e 10 dias, a fêmea pode colocar entre 40 a 280 ovos, dependendo do substrato, colocando-os sobre os grãos, preferentemente naqueles quebrados / fendidos. As larvas são brancas com mandíbulas escuras e, ao eclodir, penetram no interior do grão, se alimentando deste por cerca de 15 dias, atingindo aproximadamente 6 mm de comprimento. Já no estágio de pupa, a cor vai de branca, no início, até marrom-escuro, quando perto da emergência do adulto. Este período de ovo a adulto dura aproximadamente 30 dias em média.

 

Danos

É uma praga primária, ou seja, atacam grãos sadios. As larvas destroem o grão, alteram o seu peso e qualidade, e também consomem a farinha, deteriorando o produto pronto para consumo.

 

Traça-dos-cereais - Plodia interpunctella

Trata-se de outra mariposa, com 20 mm de envergadura, que possui a cabeça e tórax com cor pardo-avermelhada e asas com manchas avermelhadas. A fêmea pode colocar entre 100 e 400 ovos na superfície dos grãos, e o desenvolvimento do ovo até a fase adulta dura cerca de 28 dias. As larvas são brancas com algumas partes rosadas e, após se desenvolverem, fazem um casulo de seda para empupar. Os locais para empupar geralmente são fendas de parede ou bordas de sacaria.

 

Danos

É uma praga primária externa que não causa grandes prejuízos ao trigo e milho armazenados, pois causam danos apenas na superfície exposta da massa de grãos. No caso de grãos armazenados em sacaria, os prejuízos são maiores devido à maior superfície exposta. A praga se alimenta preferencialmente do embrião dos grãos.

 

Traças - Ephestia kuehniella e Ephestia elutella

Trata-se de duas espécies muito semelhantes entre si. Os adultos são mariposas com cor parda, com aproximadamente 20 mm de envergadura, com asas anteriores longas, cinzas e com manchas escuras, e asas posteriores mais claras. A fêmea  pode colocar entre 200 a 300 ovos, que formam larvas rosadas, com pernas e cabeça castanhas. Podem atingir até 15 mm de comprimento, e posteriormente irão fazer um casulo de seda para empupar.

 

Danos

Como as larvas se desenvolvem em resíduos deixados pela ação de outras pragas nos grãos, é classificada como uma praga secundária. O seu ataque deixa bastante resíduos, deixando o produto inviável para consumo. 

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

BORÉM, A.; SCHEEREN, P. L. Trigo: do Plantio à Colheita. [S. l.]: Universidade Federal de Viçosa, 2015.

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