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Biotecnologia promove sustentabilidade na agricultura

Análises de 15 anos de uso dos transgênicos no Brasil indicam grandes benefícios ambientais


Entrevistado: Marcelo Gravina de Moraes - Engenheiro Agrônomo, Ph.D. em Fitopatologia, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB).

Análises de 15 anos de uso dos transgênicos no Brasil indicam grandes benefícios ambientais e redução no uso de defensivos químicos.

A agricultura brasileira está entre as mais modernas e produtivas do mundo. Nos últimos 20 anos, o volume da produção brasileira cresceu mais que 100% enquanto a área plantada aumentou apenas 25%. Esse resultado aponta para uma relação mais sustentável entre agricultura e meio ambiente.


Segundo o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marcelo Gravina, a combinação de tecnologias contribuiu para esse desempenho. “A integração entre biotecnologia, genética clássica, uso de defensivos químicos e outras técnicas agrícolas é uma alternativa para melhorar ainda mais a relação entre a agricultura e a sustentabilidade”, defende.

Em entrevista ao Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), o professor Marcelo Gravina esclareceu em detalhes como ocorre a diminuição do uso de herbicidas e inseticidas quando usados em associação às plantas geneticamente modificadas. Além disso, ele comentou como o meio ambiente pode ser beneficiado pelo uso dos transgênicos e apresenta dados de pesquisas que exemplificam isso.

CIB: Embora o Brasil já seja o segundo maior produtor de organismos geneticamente modificados (OGMs) do mundo, algumas entidades levantam dúvidas sobre sua segurança e benefícios. Os transgênicos são seguros para o meio ambiente? Que vantagem eles trazem?

Marcelo Gravina: Os potenciais riscos ambientais dos cultivos transgênicos têm sido rigorosamente avaliados e monitorados e, após 15 anos de uso (1996-2011), os resultados indicam que os benefícios ambientais são muito mais evidentes do que os improváveis riscos. Os cultivos transgênicos proporcionaram melhorias das práticas de cultivo e o aumento da quantidade e da qualidade dos produtos agrícolas, resultando no aumento da renda dos produtores e no crescimento da economia dos países que adotaram a biotecnologia. O uso de plantas transgênicas também tem impacto positivo no ambiente, pois o aumento da produtividade dos cultivos diminui a necessidade de crescimento da área plantada, o que favorece a manutenção de áreas destinadas à preservação ambiental. É exatamente nas lavouras onde os cultivos transgênicos são plantados que os benefícios ambientais são mais evidentes. Nessas áreas, ocorre o uso mais racional de defensivos agrícolas, a redução do uso de água na agricultura, a redução do uso de combustíveis, a conservação do solo e a redução da emissão de gases de efeito estufa.

CIB: Os transgênicos realmente diminuem o uso de defensivos químicos na lavoura?

Marcelo Gravina: Sim, há trabalhos que mostram essa diminuição. Segundo o estudo sobre o impacto global de efeitos sócio-econômicos e ambientais entre 1996-2008 dos cultivos transgênicos (Brookes & Barfoot, 2009), o uso dessa tecnologia resultou na redução de 352 milhões de Kg de ingredientes ativos de defensivos agrícolas no período de 1996 e 2008 no mundo.

CIB: Como se dá a integração da biotecnologia com o uso de herbicidas?

Marcelo Gravina: No caso das plantas transgênicas tolerantes a herbicidas as vantagens ocorrem em virtude da diminuição das perdas por meio de um controle mais eficiente de plantas invasoras. As vantagens ambientais devem-se à redução da contaminação pelo menor uso de herbicidas e a adoção de princípios ativos menos tóxicos. Por exemplo, o glifosato usado na soja transgênica é menos tóxico que outros herbicidas, além de ser menos persistente no ambiente.

A adoção de cultivos transgênicos tolerantes a herbicidas resultou em diversas alterações de manejo em relação aos cultivos convencionais. Eles permitem o uso de um único herbicida de espectro amplo e que pode reduzir a necessidade de combinações de herbicidas que requerem aplicações múltiplas. Os dois herbicidas comumente usados em plantas transgênicas tolerantes, como o glifosato e o glufosinato de amônio, são de aplicação nas folhas, após o crescimento das plantas, o que geralmente permite o uso de herbicidas de um modo mais específico. Eles podem ser aplicados após o aparecimento das ervas daninhas, o que possibilita que áreas com altas infestações sejam identificadas e tratadas, enquanto que as áreas com baixas infestações acabem sendo tratadas com menores quantidades de herbicidas.


Herbicidas que podem ser usados depois de as plantas terem germinado geralmente são aplicados em menores quantidades do que aqueles usados antes desse processo. Além disso, esses produtos também se movem menos por meio da água do solo, se comparados com outros herbicidas, o que resulta em menor perda do produto químico por lixiviação e escorrimento superficial.

CIB: Quais técnicas agrícolas podem ser usadas em consonância com a biotecnologia?

Marcelo Gravina: O uso de cultivo mínimo e do plantio direto aumentou significativamente com o uso de cultivos transgênicos tolerantes a herbicidas uma vez que essa tecnologia aumenta a habilidade dos agricultores em controlarem as plantas daninhas, reduzindo a dependência do preparo do solo. O excesso do preparo pode causar alterações da estrutura, aumento da erosão e redução da umidade do solo. As perdas da camada superficial devido ao preparo excessivo causam danos ambientais permanentes. Por outro lado, o manejo conservacionista (cultivo mínimo e plantio direto) deixa uma camada de resíduos de plantas na superfície do solo, prevenindo a erosão, reduzindo a evaporação e aumentando a habilidade de absorção da umidade.

Além da redução da erosão e degradação do solo, a diminuição do preparo também resulta em um decréscimo na emissão de gases de efeito estufa, devido principalmente ao menor uso de combustível fóssil, neste caso óleo diesel. Em 2007, os 111 milhões de hectares de cultivos transgênicos no mundo resultaram na redução de 14,2 bilhões de Kg de CO2, equivalente a remoção de 6,3 milhões de carros das estradas durante um ano. A redução de gases de efeito estufa deve-se ao menor uso de combustível em função da redução do número de aplicações de herbicidas ou inseticidas e a diminuição da energia usada durante o preparo do solo. O combustível economizado devido à redução do número de pulverizações resultou na economia permanente de emissões de CO2.

CIB: Como a resistência a insetos em plantas transgênicas diminui aplicação de defensivos químicos?

Marcelo Gravina: Outro uso importante da biotecnologia na agricultura é o caso das plantas resistentes a insetos. Estas variedades possibilitam a redução do volume de ingredientes ativos no solo, redução do número de defensivos químicos utilizados e, principalmente, diminuição do número de aplicações de inseticidas na cultura. Isto favorece, entre outros fatores, a preservação dos inimigos naturais dos insetos-praga e a manutenção da biodiversidade local. Essa redução também implica em economia de energia devido à redução das pulverizações, do uso de equipamentos, da diminuição de embalagens descartadas e do tempo gasto com monitoramento da presença de insetos. Além disso, devem ser considerados os benefícios à saúde e à segurança dos produtores e trabalhadores rurais devido à diminuição do uso e do manuseio de inseticidas.

CIB: Existem estudos e pesquisas que comprovem os benefícios da biotecnologia?

Marcelo Gravina: Com certeza. Por exemplo, a redução no uso de ingrediente ativo no período de 1996/97 a 2009/10, nas lavouras com culturas transgênicas no Brasil, foi de 9,6 mil toneladas, segundo levantamento da elaborado pela consultoria Céleres (2011). Para as safras de 2008/09 e 2009/10 essas reduções foram de 1,3 mil toneladas e 2,7 mil toneladas, respectivamente. Mais da metade da diminuição de uso de princípios ativos em lavouras transgênicas na safra de 2009/10 se deu na cultura do milho. Por fim, segundo a projeção da Céleres (2011), o uso de ingrediente ativo para o período de 2010/11 a 2019/20, consideradas as premissas de adoção de biotecnologia, projetam uma redução no volume utilizado de 127 mil toneladas de ingrediente ativo.

CIB: É possível prescindir de tecnologias agrícolas de ponta e manter o nível de produção de alimentos necessário para o Brasil e para o mundo?

A proposta do desenvolvimento de uma produção denominada “agroecológica”, sem a adoção de transgênicos ou da aplicação de adubação química e de defensivos agrícolas é utópica. Por isso, não considero essa possibilidade aplicável na escala necessária de demanda da agricultura brasileira, seja de grandes cultivos como a soja, milho e algodão, como a de outros produtos. Uma diminuição de uso de tecnologias modernas resultaria na redução dos índices de produtividade e, muito provavelmente, na menor qualidade e segurança do produto colhido. O reflexo de tais medidas é o empobrecimento do produtor, com reflexos em toda a cadeia produtiva, em especial na renda da população de pequenas cidades e seu setor de serviços. O efeito poderá ser ainda ambientalmente mais perverso e contrário à solução do problema, pois acabaria resultando na necessidade de maior expansão da área cultivada para compensar as perdas de produtividade. Isso significaria em maior degradação ambiental.

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