CI

Geração de novas alternativas para controle de nematoides é desafio

31º Congresso Brasileiro de Nematologia


Encontrar novas opções de controle e manejo de nematoides é um dos principais desafios para os nematologistas brasileiros nos próximos anos. Os caminhos para conseguir atender à crescente demanda por soluções a esta praga foram discutidos durante o 31º Congresso Brasileiro de Nematologia, que terminou nesta quinta, em Cuiabá (MT).


Durante quatro dias, cerca de 420 pesquisadores do Brasil e do exterior, professores, estudantes de graduação e pós-graduação, agrônomos e produtores participaram de palestras, mesas redondas e sessões de pôsteres. Além de acompanharem as novidades da pesquisa na área, eles puderam discutir os desafios e as principais demandas a serem trabalhadas.

Os sistemas de produção baseados em monocultura ou na sucessão contínua de culturas hospedeiras têm contribuído para o aumento considerável das populações de espécies de fitonematoidesque causam queda de rendimento da planta e perdas de produção, como os nematoides de galha (Meloidogyne sp.), de cisto (Heterodera sp.), reniformes (Rotylenchulus sp.) e das lesões radiculares (Pratylenchus sp.).

Com o aumento constante destas populações nas lavouras, os problemas ocasionados por eles são agravados. Na cultura da soja, por exemplo, pesquisas indicam prejuízos de até 40%, dependendo do tamanho da infestação, da espécie da praga e das condições naturais da região.

“Os nematologiastas agrícolas têm o desafio de enfrentar e resolver os problemas nematológicos que vêm se agravando e ampliando no Brasil. Na medida em que a agricultura vai se expandindo, o agronegócio vai se modernizando, tem se agravado e surgido novos problemas com os nematoides fitoparasitas. O desafio é dar conta e responder esta maior demanda. Para isso precisamos atacar em várias linhas. Vai desde a taxonomia, com a identificação de quais são as espécies que estão dando problema no campo, até a busca por materiais resistentes, fazer testes com produtos químicos e investir no controle biológico, porque há uma demanda da sociedade por menor uso de pesticidas. Então são várias frentes”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), Ricardo Moreira de Souza.

Para reduzir o problema já existem algumas alternativas de controle químico, biológico, por meio de variedades resistentes e com rotação de culturas. Uma das soluções mais indicadas é a rotação com crotalaria spectabilis ou crotalaria ochroleuca. Como a cultura não é hospedeira de espécies nocivas, como o Pratylenchus brachyurus, por exemplo, ela interrompe a chamada ponte verde, que garante o fornecimento constante de alimento. Assim, tem-se a redução da população destes vermes. Entretanto, ao fazer isso, o produtor precisa abrir mão da renda de uma safrinha de milho, o que dificulta a aceitação.

Segundo o pesquisador da Esalq/USP Mário Inomoto, são poucos os produtores que entendem a necessidade de fazer esta rotação como maneira preventiva. Assim esta solução é utilizada somente em casos extremos. Por isso, defende a necessidade de se encontrar alternativas mais viáveis para os produtores.

“É um desafio desenvolver técnicas mais amigáveis para o produtor. Que ele não tenha que renunciar desta renda do milho ou da soja. Técnicas que sejam mais aceitáveis do ponto de vista econômico para o produtor”, afirma.

Para o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Guilherme Asmus parte da solução está no melhoramento genético, com o desenvolvimento de cultivares resistentes aos nematoides mais prejudiciais às culturas. Segundo ele, a Embrapa tem trabalhado nesta linha e também nas alternativas de manejo.


“A Embrapa trabalha intensivamente o melhoramento vegetal na busca de cultivares resistentes às diferentes espécies de nematoides. A segunda linha de pesquisa da Embrapa é de manejo das culturas para reduzir o problema dos nematoides. Quando eu falo em manejo é definindo sistemas de rotação ou de sucessão de culturas mais adequados para áreas infestadas”, explica.

A mesma solução é apontada também para outras culturas prejudicadas pelos nematoides, como as olerícolas, por exemplo. Segundo o pesquisador da Embrapa Hortaliças Jadir Pinheiro o desenvolvimento de cultivares resistentes ao Meloidogyne enterolobii é uma das principais demandas no momento.

“Esta espécie é uma ameaça potencial para as hortaliças. Em 2006 foi detectado em algumas solanáceas como pimenta e pimentão que tinham genes de resistência a Meloidogyne javanica eMeloidogyne incognita. Ele quebra esta resistência. O gene que funciona para estas espécies não funciona para Meloidogyne enterolobii. Então um dos grandes desafios seria desenvolver um produto ou porta enxerto que seja resistente a esta espécie”, afirma Jadir.
 
Mais atenção à área

O caminho para o surgimento de novas soluções tecnológicas passa também pela maior valorização da área da nematologia. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Nematologia estão sendo formados nematologistas, mas universidades e instituições de pesquisa absorvem uma parcela pequena destes profissionais.

“Precisaremos de mais nematologistas. A maioria das universidades brasileiras tem um fitopatologista, mas não tem nematologista. Os cursos de pós-graduação estão formando nematologistas, mas não há abertura de vagas nas universidades e nos centros de pesquisa para absorver”, afirma Ricardo Souza.

Outra medida adotada será a internacionalização do periódico editado anualmente pela SBN. A decisão foi tomada durante assembleia da instituição, realizada durante o Congresso.

“O periódico atual é basicamente nacional, com pesquisas brasileiras e publicado em português. A Sociedade decidiu criar um novo periódico, a partir de 2014. Um periódico de nível internacional, publicado em inglês. Tenho certeza que irá captar artigos científicos do mundo todo e ao ser publicado em inglês, vai permitir que os trabalhos dos brasileiros tenham uma circulação internacional muito maior”, afirma.
 
Congresso
 
Esta 31ª edição do Congresso Brasileiro de Nematologia foi realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Centro Universitário de Várzea Grande (Univag) e Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT).

Em 2014, a 32ª edição será em Londrina (PR), com realização do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.