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Morre em SP, aos 100 anos, um dos mais importantes agrônomos do País

Carlos Alves de Seixas foi pioneiro da aviação agrícola no País


Faleceu na noite desta quinta-feira (06.08), em São Paulo, o engenheiro agrônomo Carlos Alves de Seixas. Ele completou 100 anos no dia 13 de julho e foi um dos formandos da primeira turma da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), após a incorporação à Universidade de São Paulo (USP), em 1937. Era cunhado do empresário Osmar Amaral, fundador da indústria de agroquímicos Nortox, onde exerceu o cargo de diretor técnico. Apesar da sua idade, Seixas tinha escritório na Avenida Paulista, onde dava expediente todos os dias. Em entrevista no ano passado ao “Jornal do Engenheiro Agrônomo”, Seixas deu a sua receita para manter o raciocínio rápido e a memória ativa aos 99 anos: ser um leitor e um trabalhador contumaz.

Em seu escritório, gostava de mostrar às visitas, na parede, o certificado declaratório de sua participação no Movimento Constitucionalista de 1932. Mostrava também a cicatriz deixada em sua cabeça ao ser atingido por uma bala, durante combate na Frente de Queluz (SP). Como fitossanitarista do Instituto Biológico (IB), em São Paulo, protagonizou momentos históricos da agronomia nacional, como a descoberta do meio químico de controle da broca do café, uma praga que prejudicou sensivelmente a cafeicultura e a economia nacional na década de 40. Também esteve à frente da bem-sucedida operação que combateu e controlou o surto de gafanhotos na Média Sorocabana e na Região Norte do Paraná. Além disso, foi pioneiro na prática da aviação agrícola com os polvilhamentos aéreos em lavouras cafeeiras.

De tradicional família baiana, seu pai era um homem de negócios que se estabeleceu em São Paulo e, dentre outras atividades, possuía fazendas no interior do Estado. Ferido na cabeça durante a Revolução de 32, Seixas foi para a fazenda do pai para se recuperar, lá permanecendo por três meses. Nascia ali o agrônomo. “Quando voltei, completei o meu ginásio e comuniquei a meu pai minha decisão de me tornar engenheiro agrônomo. O contato contínuo na fazenda com a lavoura, com o gado e principalmente com o pessoal me despertou o interesse”, comentou Seixas.

Formado, além do IB atuou em órgãos como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Além disso, tornou-se referência no meio acadêmico e na área de pesquisa. Tanto que em 2006 foi destaque no livro “USP 70 Anos – Imagens de uma história vivida”, de Shozo Motoyama. Seixas e Einar Kok foram citados como testemunhos em favor da pesquisa. Kok tornou-se um bem-sucedido executivo do setor industrial, tendo sido também secretário de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. “Seixas, após uma passagem frutífera pelo campo da pesquisa, embrenhou-se com êxito no setor empresarial, sendo hoje um grande pecuarista”, relatou Motoyama no livro, que trouxe também foto dos veteranos.

Em junho de 2014, em solenidade realizada no auditório do Crea-SP, foram homenageados vários engenheiros com mais de 80 anos, escolhidos em função de sua contribuição para o desenvolvimento tecnológico do Estado de São Paulo e do Crea. Seixas foi homenageado como profissional mais idoso em atividade. Representando todos os homenageados, Seixas, ex-conselheiro do Crea-SP, fez uso da palavra e impressionou o público com raciocínio e eloquência admiráveis para os seus 99 anos.

Além de trabalhar seis horas diárias em seu escritório e ocupar a mente com leituras, o engenheiro agrônomo também mantinha contato diário com a família. Viúvo, deixou três filhos, oito netos e 11 bisnetos. Contava que não sabia carregar bebês no colo, mas que em compensação se dava muito bem com os adolescentes. Para os 
agrônomos de hoje, deixou uma mensagem em favor da união e do associativismo. “O profissional sem associação, principalmente em uma classe que trabalha dispersa como a nossa, se sente isolado. E o isolamento é o pior conselheiro para o ser humano”, afirmou. Sobre a crise que atinge o Brasil, demonstrava serenidade. “A história de um país passa por crises, mas elas são transpostas. Nossos problemas serão superados pela melhoria da educação, saúde e prática política”, avaliava.

Questionado sobre sua filosofia de vida, respondeu com uma frase de Benjamin Disraeli (primeiro ministro britânico, em 1868 e de 1874 a 1880, e principal responsável pelo desenvolvimento da democracia na Grã-Bretanha): "Não reclame, não se queixe, cuide bem do seu objetivo". “Essa frase me penetrou. Minha vida se alterna entre resignação e luta”, resumiu Seixas. 

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