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Pequena propriedade produtiva sustentável é foco de Dia de Campo em Ipameri (GO)

Um Dia de Campo reuniu agricultores familiares e estudantes a fim de tratar de tecnologias voltadas à pequena propriedade produtiva sustentável.


Um Dia de Campo realizado no sítio Sempre Verde, em Ipameri (GO), na quarta-feira (18), reuniu agricultores familiares e estudantes a fim de tratar de tecnologias voltadas à pequena propriedade produtiva sustentável. "Lançamos aqui hoje as sementes de um programa que certamente se tornará nacional. Essas sementes são tão puras e sadias que tenho certeza que em breve estarão germinando e dando frutos bastante positivos", afirmou o pesquisador da Embrapa João K., idealizador da iniciativa.

O evento foi realizado na propriedade da família do agricultor Alex Silva. Em 2014, com orientação da Embrapa, ele implantou na fazenda um sistema de Integração-Lavoura Pecuária-Floresta. Em uma das estações do Dia de Campo, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir o depoimento do agricultor que explicou como foi instalado o sistema no local. "Para acertar as linhas, usamos a trena e fomos marcando com papel higiênico. A gente realmente enfrenta muita dificuldade, não temos maquinário próprio, temos que alugar ou contar com os amigos. Temos sorte, pois amigos que nos apoiam e nos orientam a gente tem bastante", contou.

Alex destacou as vantagens do sistema. "As árvores proporcionam conforto para os animais, por conta da sombra. O eucalipto também funciona como quebra vento. Mais pra frente podemos vender a madeira ou mesmo utilizar aqui na propriedade. O gado fica solto aqui o ano inteiro, por conta dos piquetes que foram formados. Além disso, a arborização deixa o visual ainda mais bonito", ressalta. Segundo ele, a intenção agora é ampliar a área destinada à ILPF. Hoje a integração ocupa 4,5 hectares, dos 160 ha da fazenda. Pretendemos aumentar para mais quatro hectares e colocar cultura para recuperar a pastagem. Como os piquetes estão todos prontos, a gente vai isolar esses espaços para colocar milho com braquiária, fazer adubação verde, colocar mandioca, quanto mais diversificar melhor".

De acordo com o chefe-geral da Embrapa Cerrados, Claudio Karia, a ideia do Dia de Campo era mostrar como o pequeno agricultor pode adotar determinadas tecnologias. "Aqui não apresentamos pacote fechado. Cada produtor tem que fazer suas adaptações e escolher as melhores opções para sua realidade. Com os devidos ajustes, não temos dúvidas que os agricultores podem se utilizar de tudo o que será apresentado aqui de forma rentável", afirmou. "Estou aqui, pois sou muito curioso. Vim para ver o que posso colocar em prática lá na minha propriedade", contou o senhor Salatiel Pereira, um dos participantes do Dia de Campo.

Além da estação que contou com a participação do anfitrião do evento, a ILPF também foi tema de outra estação conduzida pelo pesquisador da Embrapa, José Humberto Valadares. Ele relatou a experiência bem sucedida de uma família de agricultores familiares do município mineiro de Unaí que, com orientação da Embrapa, implantou na propriedade um sistema de integração lavoura com pecuária. Após enfrentar uma situação extrema com a falta de alimentação para os animais, o senhor Júlio e a dona Maria concordaram em reformar a pastagem por meio da ILP. "Eles utilizaram sorgo para fazer silagem e, assim, garantir volumoso para a próxima seca e escapar daquela queda de produção", relatou o pesquisador.

Segundo José Humberto, a primeira medida a ser adotada foi fazer uma análise do solo do local. "Vimos que se tratava de um solo com muito alumínio, pouco cálcio e magnésio e pobre em fósforo, bem característico da região. Com um solo nessas condições, a nossa prioridade foi trabalhar na construção da fertilidade profunda", contou. Depois disso, segundo ele, o solo foi todo preparado. "O sorgo e a braquiária germinaram juntos e a braquiária não atrapalhou o sorgo, mesmo após os dois veranicos, o gesso permitiu que as raízes se aprofundassem. Como o sorgo é bastante tolerante à seca, ele acabou conseguindo uma massa bastante razoável para a silagem".  

O agricultor de Unaí colheu no total (sorgo + braquiária) 31 toneladas de silagem por hectare. "Para um ano com dois veranicos, foi um resultado sensacional", avalia o pesquisador. A qualidade da pastagem também melhorou muito e os animais puderam ficar mais tempo soltos no pasto. E o mais importante: a produção de leite ao invés de cair, como nos anos anteriores, subiu. Passou de 15 litros/dia, em 2011/2012, para 33 litros/dia, em 2014/2015. Em 2012/2013, quando o casal enfrentou os problemas, a produção era de apenas 7 litros/dia.  "Hoje ele estão conseguindo uma renda líquida de quatro salários mensais. Isso sem falar nos benefícios sociais, no tempo que ganharam ao deixar de ter que alimentar os animais, na qualidade de vida que aumentou", ressaltou o pesquisador.

Os participantes do Dia de Campo também tiveram a chance de conhecer um pouco do trabalho de pesquisa relacionado à fruticultura integrada com lavouras de grãos e hortaliças, uma das opções a serem adotadas em pequenas propriedades. Batizado de sistema FILHO (Fruticultura Integrada com Lavouras de grãos e Hortaliças) trata-se de um sistema de produção de culturas de ciclo curto nas entrelinhas de pomares, com irrigação, visando à intensificação produtiva em pequenas propriedades rurais no Cerrado. "Ao adotar esse sistema, o produtor cria uma ilha de produção de alimentos em que ele produz o ano inteiro", explicou o pesquisador Tadeu Graciolli.

Segundo o estudioso, as pesquisas se basearam no sistema de consorciamento. Como na fruticultura as fruteiras são instaladas em linhas, seguindo espaçamento amplos, nos primeiros anos sobra espaço que pode ser utilizado para a produção de alimentos. "Dessa forma, consigo fazer uma intensificação no uso da área, o que vai me trazer mais escala de produção, tanto para venda, quanto para consumo e troca". O pesquisador explicou como é desenvolvido o sistema. "Temos que escolher bem o que vamos produzir, quais as espécies e cultivares indicadas para aquela época de cultivo. Se eu produzir uma maior diversidade de culturas, será estabelecido um ambiente desfavorável à instalação de problemas fitossanitários. Também não posso colocar plantas que vão competir entre si. Nosso objetivo é que a fruteira seja afetada positivamente", ressalta.

De acordo com o pesquisador, ao adotar essa prática, na verdade o agricultor passa a ter que lidar com pequenos sistemas de produção dentro de um sistema maior. "E como agricultura é observação, julgamento e tomada de decisão, o agricultor tem que ficar de olho em pragas e doenças para que esses problemas não comprometam sua produtividade". Tadeu Gaciolli apresentou muitos exemplos que já foram testados. "Não tenho dúvida este é um sistema ideal para promover a intensificação produtiva de pequenas propriedades rurais", afirmou. No entanto, ele fez uma ressalva. "Essa tecnologia tem viabilidade agronômica, operacional e econômica, mas deve receber adaptações em função do local de cultivo, do perfil do produtor e das exigências de mercado. Quem vai dizer o que você vai produzir será o mercado. Com base nisso, o sistema funciona", afirma.

Agregação de valor – no Brasil, existem cerca de 1,8 milhão de pequenas propriedades rurais. "Mais do que dinheiro, o que essas famílias precisam são opções tecnológicas para produzir mais e agregar valor à produção", afirmou o pesquisador João K. "Tecnologias e opções temos muitas, mas não está chegando adequadamente. Precisamos começar a mudar essa realidade". Um dessas opções a que se refere o pesquisador está relacionada à produção de leite que, segundo ele, pode ser triplicada numa mesma área. Esse tema foi tratado no Dia de Campo pelo pesquisador Leo Matos, da Embrapa Gado de Leite.

"Leite em geral é para ser produzido da maneira mais simples possível, não é uma atividade complicada, a não ser pela intervenção do homem". Partindo dessa premissa, o pesquisador iniciou sua exposição. Segundo ele, dá muito trabalho convencer um produtor a fazer uma área bem formada de pastagem. "Mágicas não existem. Comida de vaca é capim, o resto é invenção do homem, muitas vezes o que é proposto é razoavelmente adequado para as vacas, mas, em geral, uma péssima decisão para o bolso do produtor", argumentou.

Ele defendeu que os produtores devem sempre priorizar o planejamento. "Seca não é emergência quando se sabe que ela vai vir todo ano. Algumas opções são mais caras, mas existem outras mais em conta, como a cana. Gastar dinheiro com ração a esse preço ou com silagem de milho colhido de forma mecânica, com gastos com trator, combustível, aí a coisa complica. Digo que nesses casos, o produtor gosta de produzir leite e não de ter lucro. E a atividade leiteira deve dar lucro", enfatizou.

Outra questão colocada pelo especialista é que o produtor sempre está numa busca "desenfreada" pela vaca que ele não tem. "Tenho doze vacas na minha propriedade, todas as doze famintas e eu quero financiar mais seis, daí serão 18 famintas, e mais famintas ainda. Isso não faz sentido". O pesquisador Leo Matos defendeu que o sistema de produção de leite tem que ser baseado num alicerce sólido, o que está intrinsicamente relacionado com a questão da qualidade dos solos da propriedade. "A qualidade do solo da propriedade é o maior patrimônio dos produtores. É isso que vai garantir a distribuição de alimentos para os animais. Só depois, é que o produtor deve se preocupar com os demais problemas", avalia.

No Dia de Campo também foram apresentadas máquinas agrícolas muitas delas especialmente desenvolvidas para atender as necessidades da pequena propriedade rural. O evento contou com o apoio da Prefeitura de Ipameri, da Emater, da fazenda Santa Brígida, da Associação dos mini e pequenos agricultores da região da Encruzilhada e da UEG – Unidade de Ipameri. A promoção foi daRede de Fomento ILPF, parceria público-privada formada pela Embrapa, cooperativa Cocamar e empresas John Deere, Dow AgroSciences, Parker e Syngenta, cujo objetivo é o de acelerar a adoção dos sistemas ILPF por produtores rurais.

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