CI

Assistência de ar em gotas na aplicação de defensivos

Leia sobre a assistência de ar em gotas na aplicação de defensivos.


Foto: Canva

A assistência de ar em barras apresenta uma cortina de ar que incide sobre o jato de pulverização, aumentando a velocidade vertical das gotas e promovendo maior penetração de calda nas plantas. O uso de assistência de ar na barra de pulverização ao aplicar defensivos pode reduzir a deriva, aumentar a penetração das gotas no dossel da cultura e melhorar a distribuição da pulverização. Além disso, provoca também uma turbulência do ar com as gotas entre as folhas, mesmo nas partes mais inferiores e/ou baixas da planta, possibilitando maior cobertura da aplicação.

O sistema pode ser único, com o fluxo de ar paralelo ao jato de pulverização, ou angular independente (fluxo de ar em ângulo em relação ao jato de pulverização) podendo variar a altura do encontro do ar com o jato. Conforme o ângulo entre o fluxo de ar e o jato, altera-se a dinâmica de movimento das gotas, sendo uma opção interessante em algumas culturas como as gramíneas por exemplo. Também é uma opção em culturas como a soja, que produzem alta massa foliar e possuem alta densidade de plantas na lavoura, que dificulta que as gotas de pulverização atinjam o terço inferior da planta.

 

 

Os pulverizadores com esse sistema possuem um ou dois ventiladores, que costumam ser do tipo axiais, posicionados no centro da barra, atrás do trator, distribuindo o ar em um duto inflado montado em cima da barra. A velocidade do ar pode variar com a rotação do ventilador. Vale destacar que a relação entre volume de ar gerado e rotação do ventilador não é linear.

O uso da assistência de ar nas barras dos pulverizadores permite o uso de gotas menores e em maior número, e permite a redução de volume e consequentemente dos reabastecimentos, aumentando o rendimento. Alguns estudos ilustram a melhora da cobertura do alvo e o aumento da densidade de gotas por cm² nas folhas medianas e inferiores de culturas como a soja ou o feijão, resultando em aumento de produtividade.

Abaixo, vamos detalhar algumas destas características e aspectos da assistência de ar em barras na aplicação de defensivos.

 

Velocidade do ar sobre os jatos de pulverização

A velocidade e o volume de ar são relacionados ao estádio de desenvolvimento da cultura. Quanto maior o índice de área foliar, menores as perdas das gotas pela deflexão do ar. No caso de plantas de menor porte, o sistema de assistência de ar pode ou não trazer vantagens, ou até aumentar a quantidade de calda perdida para o solo. No caso de cereais, alguns estudos apontam que o uso de velocidade reduzida do sistema de assistência de ar aumenta a cobertura do defensivo na planta, reduzindo a perda do produto para o solo, que gera contaminação. Já em solo nu, sem a vegetação, a assistência de ar pode aumentar a deriva com a deflexão do ar proveniente do sistema.

 

Ângulo do jato e fluxo de ar

O ângulo de posicionamento dos bicos em relação à cortina de ar, bem como dos bicos e cortina de ar em relação à vertical influenciam muito no depósito e distribuição dos defensivos. Existem modelos de pulverizadores que as alterações dos bicos e cortina de ar em relação à vertical, a favor ou contra o deslocamento do conjunto são realizados simultaneamente com o comando em eixo único.

Alguns estudos apontam que o posicionamento dos bicos em 30º a favor do deslocamento em pulverizadores sem assistência de ar aumenta o depósito dos produtos nas culturas. Estudos com os bicos junto com assistência de ar a favor do deslocamento apontam também o aumento da deposição e redução da contaminação do solo.

 

Volume de calda

Um estudo feito por GARCIA et al. (2004) mostrou que o tratamento na dessecação da aveia-preta com dois herbicidas teve desempenho igual quando houve redução do volume de calda pela metade e uso de assistência de ar na barra pulverizadora. Porém, o efeito benéfico pode não ocorrer em alguns cenários, como a presença de outras plantas durante uma dessecação, por exemplo.

 

Deriva

O uso de gotas finas proporciona maior cobertura no alvo na pulverização de um defensivo, porém, quanto menor o tamanho das gotas, maior a chance de deriva. O uso de assistência de arpossibilita o uso das gotas finas de forma mais eficiente, reduzindo a deriva e aumentando a cobertura das plantas, além de aumentar a deposição em culturas mais adensadas.

Ocorre que, além de aumentar a velocidade de deslocamento das gotas em direção ao alvo, o sistema diminui os efeitos do vento ambiente na direção das gotas.

 

 

Penetração das gotas e variabilidade dos depósitos

A assistência de ar em pulverizadores agrícolas pode melhorar a penetração da pulverização no dossel da cultura, principalmente em culturas altas ou com densidade foliar, como a batata, feijão ou soja. Ocorre aumento dos depósitos na superfície inferior das folhas na parte inferior das plantas, melhorando o controle de de diversas pragas e doenças como pulgão, mosca branca ou ácaros.Já em solo nu ou em plantas em estádios iniciais de desenvolvimento, esse efeito positivo não ocorre.

Quanto à deposição, esta pode ser melhorada com a assistência de ar em culturas de cereais como o trigo por exemplo. Essas culturas são alvos praticamente verticais, em que a calda possui dificuldades para atingir. Assim, espera-se que as gotas se fixem à superfície pelo impacto causado pela turbulência do ar, e não pela sedimentação. Assim, pulverizadores com "cortina de ar" em ângulo com a pulverização podem aumentar os depósitos quando comparados com equipamentos onde a "cortina de ar" e pulverizações ficam em fluxos paralelos.

Nas espécies onde ocorre baixa retenção de gotas devido a presença de camada cerosa na cutícula, mais estudos são necessários quanto à assistência de ar.

 

Assistência de ar e diminuição das doses de defensivos

Em algumas culturas o uso de assistência de ar permite o uso de menores doses de defensivos mantendo o mesmo efeito de controle. Na cevada por exemplo, um estudo mostrou que a redução de um terço da dose de herbicida para controlar plantas invasoras, usando sistema de assistência de ar e 100 L de calda por hectare, proporcionou o mesmo resultado que 100% da dose utilizando 200 L/ha de calda com pulverizador convencional (sem ar). 

Já na beterraba, a aplicação de alguns defensivos com 50% da dosagem aplicados por pulverizador com assistência de ar proporcionaram um controle tão eficiente quanto o uso da dose inteira sem assistência de ar.

Estudos conduzidos no trigo com fluxo de ar em ângulo com a pulverização e 50% da dose também apontaram resultados iguais

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

CHRISTOVAM, R. DE S., RAETANO, C. G., AGUIAR JUNIOR, H. O., DAL-POGETTO, M. H. F. DO A., PRADO, E. P., GIMENES, M. J., & KUNZ, V. L. Assistência de ar em barra de pulverização no controle da ferrugem asiática da soja. Bragantia, v. 69, n. 1, p. 231–238, 2010.

GARCIA, L. C.; RAETANO, C. G.; JUSTINO, A.; PURÍSSIMO, C. Dessecação da aveia-preta (Avena strigosa Schreb) com herbicida de contato, em presença ou não de assistência de ar junto à barra do pulverizador, em diferentes volumes de calda. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, V.24, n.3, p. 758-763, 2004.

PRADO, E. P.; RAETANO, C. G.; AGUIAR-JUNIOR, H. O.; DAL POGETTO, M. H. F. A.; CHRISTOVAM, R. S.; ARAÚJO, D. de. Velocidade do ar em barra de pulverização na deposição da calda fungicida, severidade da ferrugem asiática e produtividade da soja. Summa Photopathologica (Impresso), v. 36, p. 45-50, 2010.

RAETANO, C.G.; BAUER, F.C. Efeito da velocidade do ar em barra de pulverização na deposição de produtos fitossanitários em feijoeiro. Bragantia, v.62, p.329-334, 2003.

RAETANO, C. G.; CUNHA, J. P. A. R. da. Assistência de ar e transferência de carga elétrica às gotas em pulverização: Interferências e potencial de uso das tecnologias em sistemas de produção.. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 125-148.

TOMAZELA, M. S. Efeitos do estádio de desenvolvimento de Brachiaria plantaginea (Link) Witch, ângulo de aplicação e tipo de ponta na deposição da calda de pulverização. 2001. 53 f. Tese (Doutorado em Agronomia / Agricultura) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.

STANISLAVSKI, Wilson Marcos. Otimização da tecnologia de assistência de ar em pulverizador de barras através da umidificação do fluxo de ar. 2012. vi, 61 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu, 2012. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/90557>.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.