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Universitários mostram que algodão ainda é viável na região

Cultura já foi a base da economia agrícola do Paraná, mas perdeu espaço devido a pragas, custo da mão de obra e problemas climáticos


Aos 67 anos, o agricultor Luiz Turra teve ontem um reencontro com a cultura agrícola que por muitos anos fez a riqueza de sua propriedade rural, em Ângulo (a 31 quilômetros de Maringá). Ele atendeu a um convite dos alunos do Curso de Agronomia da Uningá para acompanhar uma colheita de algodão em uma área de 3 mil metros quadrados no Núcleo Experimental, anexo ao campus da Uningá, próximo à Venda 200.

Turra assistiu à colheita manual e até participou, “para matar a saudade”. Também puderam matar a saudade o chefe do Núcleo Regional de Maringá da Secretaria da Agricultura, agrônomo Romoaldo Carlos Faccin, e o professor Sérgio Ricardo Sirotti, coordenador do curso, que também já plantaram e colheram muito algodão nas décadas em que a planta substituiu os cafezais destruídos pela geada negra de 1975.

Segundo Sirotti, a colheita de ontem foi o resultado do plantio, em dezembro do ano passado, de três variedades desenvolvidas pelo Instituto Matogrossense de Algodão. Em poucos minutos, os alunos da disciplina Culturas Agrícolas 1 colheram cerca 450 arrobas de plumas, que serão doadas para instituições de caridade fazerem o enchimento de almofadas.

Para o coordenador, o volume esteve dentro das expectativas, com a vantagem de não ter sido necessária a aplicação de defensivos agrícolas. “Nas culturas normais, como acontece no Mato Grosso, os defensivos precisam ser aplicados pelo menos uma vez por semana, principalmente contra o bicudo-do-algodoeiro, uma das principais pragas que afetam a cultura”, explicou.

“O algodão foi um dos produtos agrícolas mais importantes do Paraná, desde as primeiras décadas do Século XX, sendo responsável pelo surgimento de cidades do Norte Pioneiro, como Uraí e Assaí, garantiu o funcionamento de praticamente todo um distrito industrial em Maringá, onde se instalaram indústrias como a Sanbra, Anderson Clayton, Esteves, Brasway, Cargill, McFaden e outras que ofereciam milhares de empregos”, lembrou Faccin.

Luiz Turra, que desde o início da década de 1950 plantava café em Ângulo, hoje cultiva soja e milho, mas tem boas recordações dos tempos em que plantava algodão. Ele chegou a ser conhecido como “rei do algodão” e diz que o produto fez a riqueza desta região, tanto pela pluma, destinada à indústria textil e à exportação para vários países, quanto pela semente, que produzia o óleo de cozinha mais utilizado até a década de 1990. Além disto, segundo ele, o algodão significava riqueza porque era a atividade que mais oferecia empregos, tanto nas indústrias quanto nas lavouras.

“O problema é que o produtor deixou de ser o dono de seu negócio. Os trabalhadores passaram a mandar na propriedade”, conta o produtor, esclarecendo que as leis trabalhistas obrigavam o produtor a registrar quem fosse trabalhar no plantio ou na colheita, os sindicatos de trabalhadores rurais ganharam força e o lucro da produção acabava indo para o pagamentos de encargos trabalhistas ou para ações na Justiça do Trabalho.

Outros problemas ajudaram a enfraquecer a cotonicultura no Paraná no final da década de 1990, como o excesso de chuvas nas épocas de colheita e o surgimento de pragas, entre elas o bicudo, que passaram a exigir diversas aplicações de defensivos durante o ciclo da cultura, elevando o custo de produção e reduzindo a margem de lucro.

Problemas e mais problemas empurraram os produtores para culturas mais fáceis, como a soja e o milho, que têm plantio e colheita mecanizadas, não dependem de mão de obra e têm mercado garantido.
750 mil

hectares de algodão foram plantados no Paraná em 1990, colocando o Estado como maior produtor brasileiro

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