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Rede Leite avalia resultados de 15 anos de atividade e prospecta futuro

Ganhos sociais, ambientais e econômicos dos sistemas de produção são exemplos de que o programa tem obtido sucesso em sua trajetória


Ganhos sociais, ambientais e econômicos dos sistemas de produção são exemplos de que o programa tem obtido sucesso em sua trajetória

Em um momento de desafios para a atividade leiteira gaúcha, integrantes da Rede Leite reuniram-se nesta quinta-feira (29), em Ijuí (RS), para debater seus principais resultados e avanços, assim como as perspectivas para o futuro do trabalho, que completou 15 anos em 2018. A 4ª edição do Fórum da Rede Leite foi realizada no campus da Universidade Regional do Noroeste do RS (Unijuí) e contou com a participação de cerca de 150 pessoas, entre produtores rurais, pesquisadores, técnicos da assistência técnica e extensão rural, professores e estudantes.

Durante o Fórum, uma série de exposições apresentou como a integração organizada entre as instituições e os produtores pode gerar ganhos para todos. No âmbito institucional, por exemplo, o avanço do conhecimento é facilmente percebido com a diversificação e fortalecimento da pesquisa científica, qualificação da assistência técnica e extensão rural e incremento da produção e formação acadêmica. Tudo isso tendo sempre como foco de trabalho e estudo os diversos aspectos que envolvem a atividade leiteira.

Mas o resultado mais vultoso e pragmático é visto, sem dúvidas, no campo, com famílias produzindo mais leite e com melhor qualidade. E se isso poderia ser o suficiente para muitos grupos organizados, para a Rede Leite é apenas uma das partes importantes. Temas como qualidade de vida, melhoria do ambiente, diversificação produtiva, saúde do trabalhador e sucessão rural, por exemplo, são tratados como fundamentais e são tão caros quanto a produtividade do sistema.

“Abrindo as porteiras para essas pesquisas, os maiores lucradores somos nós produtores. O conhecimento que chegou na nossa propriedade nos ajuda a ter mais renda, nos facilita muito o trabalho no campo, melhora o rebanho, a qualidade do leite”, destacou a produtora Renita Cavalini, durante a apresentação do primeiro painel do evento intitulado “Como a Rede Leite fortalece o trabalho dos agricultores, dos extensionistas, dos professores e dos pesquisadores”.

O relato da produtora Renita é reforçado com a constatação de que aspectos cruciais para todo o sistema produtivo funcionar em harmonia avançaram muito nas propriedades integrantes da Rede Leite ao longo dos 15 anos de trabalho. Passo importante para dar conta de abranger tantos assuntos do cotidiano rural foi a criação de Grupos de Trabalho (GT), que funcionam como guarda-chuva de grandes temas, mas que ainda assim conseguem perceber as especificidades de cada realidade.

A diversificação forrageira, melhoria das condições de oferta de água e melhoria das pastagens e da fertilidade do solo são pautas constantemente abordadas com os produtores através dos GTs das áreas de forrageiras e ambiental. O GT de qualidade do leite e sanidade animal, por outro lado, levanta temas como contagem de células somáticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT), higiene da ordenha e doenças reprodutivas, entre outros. O grupo Econômico e Fora da Porteira apresenta novas possibilidades para a organização da propriedade e acesso aos mercados.

Mas como já dito, os assuntos técnico-econômicos são parte de um trabalho que sempre tenta olhar o todo. O GT Social, nesse sentido, dá conta de abordar assuntos que muitas vezes são esquecidos no meio rural. “Quando pensamos em um trabalho com produtores logo se imagina o uso de disciplinas como agronomia ou medicina veterinária. No caso do Grupo de Trabalho Social da Rede Leite, muitas vezes englobamos disciplinas da área da saúde, como enfermagem, nutrição, fisioterapia, biomedicina, entre outros”, destacou a professora da Unicruz, Rosane Félix, durante a apresentação do segundo painel do evento, intitulado “Impactos positivos gerados na Agricultura Familiar: perspectiva social; ambiental e de alimentação animal; qualidade do leite e sanidade animal; econômica e de mercado”.

Exemplo claro disso foi o trabalho que envolveu 124 produtores, 42 extensionistas e 91 estudantes em dez municípios do Noroeste Colonial e Alto Jacuí, e que tratou de avaliar como estava a postura dos produtores antes, durante e após a ordenha, com a posterior indicação de alongamentos e práticas físicas para auxiliar no trabalho diário dos agricultores.

Desafios

Nos últimos três anos, o número de produtores de leite reduziu cerca de 20% no Rio Grande do Sul. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Ijuí, que abrange 44 municípios dos Coredes Celeiro, Noroeste Colonial e Alto Jacuí e onde está situada maior parte do trabalho da Rede também houve diminuição. Em 2015, havia nessa região 13.659 produtores vendendo leite para a indústria. Em 2018, o número caiu para 10.029 produtores. A produção, no entanto, não sofreu grandes oscilações no período, devendo fechar o ano em aproximadamente 787 milhões de litros, contra 800 milhões de litros produzidos no ano de 2015.

Com o cenário se postam também os desafios para o setor e para a Rede. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar e coordenador do Comitê Gestor da Rede Leite, João Schommer, surgem novas provocações e a Rede deve encontrar soluções criativas e inovadoras. “Uma das questões que se levantou para enfrentar esses desafios é a diferenciação desse produto, agregar valor, de forma a manter esses produtores na atividade. Temos um grupo qualificado, com instituições com grande potencial”, ressaltou.

"Considero que houve avanços significativos em diversos aspectos relativos à produção de leite e ao processo de gestão conduzido pelos agricultores familiares. Avanços que foram sistematizados pela equipe da Rede Leite e socializados nesse Fórum. Mas sabemos que novos desafios já estão postos, destacando-se a oportunidade de agregar valor em função da qualidade do leite e das possibilidades de transformar em outros produtos diferenciados com potencial de inserção em mercados específicos. Outro aspecto que motiva preocupação da Rede Leite é a saída de milhares de famílias da atividade leiteira, e as consequências desse processo", destacou o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul Gustavo Silva.

O professor do Departamento de Estudos Agrários da Unijuí (DEAG) e integrante da Rede, Roberto Carbonera, também comentou sobre o futuro da Rede. “Já estamos trabalhando na renovação do convênio entre as instituições parceiras. Além disso, foi tratado de perspectivas de Projetos entre essas Instituições, para alavancar recursos e desenvolver projetos na região”, observa.

O produtor do município de Nova Ramada, Neri Foguesatto, integrante da Rede Leite desde o início, observa que o grupo deve cada vez mais se fortalecer, com a participação ativa das instituições e dos produtores. “O programa é um incentivo para nós produtores, e cada vez temos de participar mais, para trocar conhecimentos, construir ideias. A gente vai buscando informações e vai melhorando a administração de toda a propriedade, com resultados excelentes não só na renda como na qualidade de vida da família”, disse.

Abertura do evento

Durante a abertura do evento, a reitora da Unijuí, Cátia Maria Nehring, destacou a importância da Rede para o universo acadêmico-científico e para os produtores da região, todos envolvidos em um ambiente de discussão e proposição sobre desenvolvimento sustentável. “Envolver diferentes sujeitos, a partir do pensamento que podemos fazer pesquisa e extensão com quem efetivamente está no campo, os agricultores, que estão fazendo a atividade principal”, destacou.

O prefeito de Ijuí, Valdir Heck, também reforçou a relevância dos trabalhos desenvolvidos pela Rede para que os produtores se mantenham na atividade. “Vamos seguir trabalhando pesquisa e desenvolvimento para abastecer nossas indústrias através da produção. Esse é nosso desafio, cada vez com mais leite de qualidade e renda para o produtor”, disse.

Compuseram a mesa de abertura de evento, também, o chefe-adjunto de Administração da Embrapa Pecuária Sul, Daniel Montardo, a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado Lígia Pegoraro, a reitora da Unicruz, Patrícia Bianchi, o gerente regional de Ijuí da Emater/RS-Ascar, Carlos Alberto Turra, o pró-reitor de Extensão da UFSM, Rudiney Pereira, o representante da Agel, Carlos Denis de Lima, o representante da Cooperfamiliar, Valmor Machado Soares e o representante do Instituto Federal Farroupilha Campus Santo Augusto, Francisco Flores.

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