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Controle (manejo integrado) de plantas daninhas no arroz irrigado

Leia sobre as plantas daninhas no arroz irrigado e os métodos de controle.


Foto: Canva

As plantas daninhas no arroz irrigado competem com a cultura por recursos (água, luz, nutrientes), além de liberar substâncias alelopáticas que podem prejudicar a cultura, e servir de hospedeiras para doenças, insetos-praga e/ou nematóides. Além disso, podem ocorrer prejuízos indiretos, como quando as plantas daninhas interferem na operação de colheita, ou reduzem a qualidade dos grãos / sementes.

Geralmente a competição se inicia após a emissão da quarta folha definitiva. Caso não sejam adotadas técnicas de controle durante o ciclo produtivo, as perdas de produtividade podem ser de até 100%.

Quanto às plantas daninhas de folhas largas associadas ao arroz irrigado no RS, as principais são o angiquinho (Aeschynomene denticulata, Aeschynomene indica, Aeschynomene rudis e Aeschynomene sensitiva) e o chapéu-de-couro (Sagittaria montevidensis)


Plantas de angiquinho em de arroz irrigado. Foto: Matheus Bastos Martins / Embrapa.

 

Porém, as plantas daninhas que causam os maiores prejuízos são as espécies de folha estreita capim-arroz e arroz daninho.

  • Capim-arroz: essa espécie possui características que o fazem muito competitivo no ambiente do arroz irrigado, e é tolerante a alguns métodos de controle. Como possui metabolismo C4, é mais eficiente no aproveitamento de recursos do ambiente do que o arroz cultivado, produzindo grandes quantidades de sementes em pouco espaço de tempo, mesmo em condições que sejam adversas para a maioria das espécies. Outras características que favorecem o capim-arroz são a alta prolificidade, diferentes níveis de dormência e a capacidade de germinar em uma ampla faixa de condições favoráveis, resultando em grandes infestações durante o estabelecimento do arroz irrigado e início da irrigação.
  • Arroz daninho: possui um controle bastante complicado, pois é muito parecido geneticamente com o arroz, além de possuir vantagens adaptativas e biótipos resistentes aos herbicidas imidazolinonas, muito presentes nas lavouras de arroz irrigado no RS. A semente do arroz daninho degrane antes da colheita do arroz cultivado, aumentando o banco de sementes e a infestação de uma área, sem que a planta daninha possa ser colhida junto com a cultura e consequentemente retirada do ambiente. Os diferentes níveis de dormência dificultam o controle, causando infestações ao longo do tempo, e as sementes possuem maior longevidade do que as do arroz cultivado, além de poder emergir em ampla faixa de condições ambientais.
  • Outras gramíneas: outras espécies gramíneas daninhas estão sendo mais presentes em arroz, principalmente no cultivo de sequeiro. Dentre elas, podemos citar o papuã, milhã e capim-pé-de-galinha. As espécies costumam se desenvolver no topo das taipas, onde não há lâmina d'água. O solo saturado ou em capacidade de campo favorece o estabelecimento dessas espécies, principalmente em lavouras mais declivosas, onde as taipas ficam mais próximas entre si.

 


Capim-arroz.

 

Manejo integrado de plantas daninhas em arroz irrigado

Os métodos mais utilizados para o controle de plantas daninhas no arroz irrigado são o controle mecânico, cultural, físico-biológico e químico. O manejo integrado envolve o uso de dois ou mais métodos de controle de plantas daninhas, evitando prejuízos à produção da cultura com o mínimo de impacto ambiental.

A definição do método de controle e a sua eficiência depende das condições climáticas, tipo de solo, topografia, espécies de plantas daninhas, tipos de equipamentos etc. Adotar apenas um método de controle por anos consecutivos pode resultar em sérios prejuízos na área, como acúmulo de resíduos de herbicidas, seleção de plantas resistentes e adensamento do solo.

 

Controle preventivo de plantas daninhas no arroz irrigado

O controle preventivo de plantas daninhas no arroz irrigado consiste em impedir a entrada, estabelecimento e disseminação de espécies de plantas daninhas em áreas não infestadas. Uma estratégia bastante eficiente é o uso de sementes certificadas com alto grau de pureza. Além disso, deve-se evitar o uso de esterco, palha ou compostos orgânicos que contenham propágulos de plantas daninhas. Os equipamentos, máquinas e implementos devem ser higienizados antes de entrarem na lavoura, e as plantas daninhas próximas às margens dos carreadores devem ser controladas.

 

Controle mecânico de plantas daninhas no arroz irrigado

O controle mecânico é feito eliminando as plantas daninhas através da capina (manual e mecânica) e preparo do solo. A capina manual é mais comum em pequenas lavouras, pois é praticamente inviável de ser realizada em grandes áreas devido ao alto custo e mão-de-obra. Consiste em movimentar uma camada de 3 a 5 cm de solo, destruindo as plantas daninhas recém emergidas e as que estão germinando, sem trazer as sementes das camadas mais profundas para a superfície.

Já a capina mecânica é feita com cultivadores, porém possui a limitação de não controlar plantas daninhas na linha de plantio. Assim como a capina manual, não é eficiente em dias chuvosos, devendo o solo estar com pouca umidade. Recomenda-se fazer a capina com as plantas ainda jovens, pois quando adultas, o sistema radicular é mais desenvolvido, sendo necessário o controle em maior profundidade, podendo causar dano à cultura.

O preparo do solo com grade aradora favorece a germinação e proliferação das plantas daninhas em comparação à aração profunda, após a incorporação dos restos culturais com grade aradora, que coloca a maioria das sementes de plantas daninha em uma profundidade de aproximadamente 30cm, dificultando a emergência e favorecendo o apodrecimento. 

Em propriedades de arroz onde também existe pecuária, os rebrotes da resteva do arroz podem ser aproveitados como uma pastagem de baixo custo. Quando ocorre alta lotação de animais, o pisoteio dos animais coloca a resteva em contato com o solo, substituindo o revolvimento com arado ou grade aradora, bem como o enterrio da resteva com rolo-faca. Além disso, a palha presente na lavoura após a colheita em forma de leiras pode ser enfardada e ofertada para os bovinos em períodos de baixa disponibilidade de alimentos. Porém, remover o resíduo do sistema pode remover também altas quantidades de nutrientes, podendo ser necessário realizar adubações.

 

Controle físico de plantas daninhas no arroz irrigado

O arroz irrigado utiliza uma lâmina d'água no seu cultivo, sendo essa uma importante ferramenta de controle físico de plantas daninhas. A lâmina de água reduz o oxigênio no solo, impedindo o início da germinação das sementes de diversas espécies.

Em áreas onde ocorre diversificação da produção e/ou integração lavoura-pecuária, muitas vezes é feita a colheita em solo seco, o que reduz problemas causados por desestruturação do solo devido ao trânsito de máquinas. Além disso, conforme explicado anteriormente, a pecuária coloca os restos culturais em contato com o solo pelo pisoteio, acelerando a decomposição.

Essa incorporação dos restos culturais revolve muito pouco o solo, evitando que sementes de plantas daninhas nas camadas mais profundas do solo sejam trazidas para a superfície. Além disso, a palha na cobertura do solo reduz a infestação de plantas daninhas, reduzindo a incidência de luz e variação térmica, e atuando como barreira física à emergência. Porém, vale ressaltar que esses mesmos prejuízos irão ocorrer na cultura.

 

Controle cultural de plantas daninhas no arroz irrigado

O controle cultural visa favorecer a cultura e desfavorecer as plantas daninhas. Deve-se usar cultivares adaptadas ao clima e solo, sementes de qualidade, adubação equilibrada, semeadura em época adequada, uniformidade, profundidade e densidade de semeaduras que favoreçam a cultura etc.

As cultivares de porte baixo são pouco competitivas com as plantas daninhas, estudos apontam que arroz deve ter pelo menos 1m de altura no florescimento para um adequado controle das plantas daninhas. Além disso, cultivares competitivas possuem a primeira folha decumbente e as folhas superiores eretas e alta taxa de crescimento inicial.

O uso de maior densidade de plantio e menor espaçamento proporcionam maior sombreamento sobre as plantas daninhas, podendo causar um bom efeito no controle das mesmas, a depender da espécie a ser controlada e sua suscetibilidade à restrição de luz.

Podem ser usadas plantas de cobertura, rotação de culturas ou pastagens de alta qualidade durante a entressafra. O uso de diferentes espécies na área cria diferentes competições e possibilita o uso de diferentes tipos de herbicidas, favorecendo o controle de plantas daninhas. Além disso, os restos culturais das plantas podem causar efeitos alelopáticos e/ou supressivos sobre as plantas daninhas, assim, atuando também no controle biológico. 

A rotação de culturas exige a drenagem da área, e muitas vezes é feita com culturas como soja e milho, e o arroz é semeado na resteva do cultivo anterior. A rotação de culturas reduz o banco de sementes de plantas daninhas.

A semeadura antecipada também é um método de controle cultural, e evita fluxos de emergência de grandes populações de plantas daninhas que competem com a cultura nos momentos iniciais de estabelecimento de arroz. 

Já o plantio direto, por ter a maior concentração de sementes de plantas daninhas mais próxima a superfície, tende a diminuir as sementes no solo por indução de germinação ou perda de viabilidade. No sistema de plantio direto, ocorrem mudanças físicas, químicas e biológicas no solo, além de interferir a penetração de luz e umidade, reduzir a oscilação de temperatura, causar efeitos alelopáticos (a depender das espécies vegetais) e atuar como barreira física à germinação das plantas,o que resulta no esgotamento no banco de sementes de plantas daninhas. Para a manutenção do sistema de plantio direto, é fundamental realizar a rotação de culturas.

 

Controle químico de plantas daninhas no arroz irrigado

O herbicida de ação total glifosato é muito utilizado em lavouras onde o preparo do solo é feito logo após a colheita ou em áreas que ficam em pousio por mais de ano e tiveram o solo preparado durante o verão. O uso do herbicida controla a emergência de plantas daninhas na entressafra, em áreas onde o preparo do solo foi concluído e em áreas de pousio, reduzindo também o banco de sementes no solo.

O glifosato também é aplicado após a semeadura do arroz cultivado, antes da emergência da cultura, para controlar arroz daninho e capim-arroz já estabelecidos, evitando a competição inicial do arroz com as plantas daninhas.

A alta densidade de capim-arroz e arroz daninho influenciam muito o uso de herbicidas pré-emergentes. Alguns desses produtos possuem também efeito residual, controlando mais de um fluxo de emergência das plantas daninhas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ANDRES, A.; MARTINS, M. B.; Manejo de plantas daninhas. Embrapa. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/arroz/producao/sistema-de-cultivo/arroz-irrigado-na-regiao-subtropical/manejo-de-pragas/manejo-de-plantas-daninhas. Acesso em: 19/09/2023.

GARRITY, D. P.; MOVILLON, M.; MOODY, K. Differential weed suppression ability in upland rice cultivars. Agronomy Journal, Madison, v.84, p.586-591, 1992.

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MASCARENHAS, R. E. B.; COBUCCI, T. Controle de plantas daninhas na cultura do arroz de terra firme. In: ENCONTRO TÉCNICO: "TECNOLOGIAS PARA A PRODUÇÃO DE ARROZ NO SUDESTE PARAENSE", 1., 2008, São Geraldo do Araguaia. Anais: artigos e palestras. Belém, PA: Embrapa Amazônia Oriental, 2008. p. 51-66. Editado por Altevir de Matos Lopes.

SEGUY, L.; KLUTHCOUSKY, J.; SILVA, J. G. da; BLUMENSCHEIN, F. N.; DALL'ACQUA, F. M. Técnicas de preparo do solo: efeitos na fertilidade e na conservação do solo, nas ervas daninhas e na conservação da água. Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1984. 26p. (EMBRAPA-CNPAF. Circular Técnica, 17).

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