Controle (manejo integrado) da mosca minadora (Liriomyza)
Leia sobre o manejo integrado da mosca minadora (Liriomyza).

As espécies Liriomyza huidobrensis, Liriomyza sativae e Liriomyza trifolii possuem ampla distribuição no Brasil, ocorrendo naturalmente em quase todos os estados, acatando aproximadamente 14 famílias de plantas como o feijão, plantas ornamentais e olerícolas (batata, tomate, alface, melancia, melão etc.). Acredita-se que o uso sucessivo de inseticidas para a mosca-branca tenha reduzido os inimigos naturais da mosca minadora, causando a explosão populacional da praga.
Os adultos dessa praga são pequenos, com 1 a 3 mm de comprimento, com corpo preto e manchas amarelas.
As fêmeas depositam os ovos, de coloração esbranquiçada, no interior das folhas (entre a epiderme superior e inferior), podendo depositar 100 a 130 ovos durante todo o período de vida. As larvas de cor pálida ficam alaranjadas no final do ciclo, com cerca de 3 mm de comprimento, e conforme se alimentam nas folhas, causam as galerias ou minas.
Galeria causada pela larva minadora.
Quando a larva se desenvolve totalmente, abandona a galeria e se transforma em pupa, acima da folha ou no solo. A pupa fica exposta à umidade do solo, sendo a umidade de 30% a 70% ideal para o desenvolvimento da praga, valores fora desse intervalo prejudicam o desenvolvimento do inseto. Já os adultos, duram 7 dias em locais quentes, e até 30 dias em locais com temperatura amena.
Os danos causados nas culturas envolvem a redução da área fotossintética da planta, causada pelas minas feitas pelas larvas, ressecamento e desfolha da planta e abertura de portas para a infecção por patógenos.
Monitoramento e controle da mosca minadora
Para o monitoramento das moscas-minadoras, pode-se usar armadilhas adesivas amarelas, ou usar uma lupa para observar as folhas contra a luz, visualizando as larvas vivas. Em culturas com alto nível de infestação da praga, pode-se usar as armadilhas como método de controle.
As armadilhas adesivas amarelas são instaladas na cultura prevendo o ataque dos adultos, sendo instalados com graxa ou óleo (mineral ou vegetal), localizados nas bordas das culturas, capturando os insetos migrantes. Conforme ficam cobertos com insetos, devem ser limpos e o óleo reaplicado. Também pode-se instalar as armadilhas nas barras do trator durante a pulverização, atraindo insetos desalojados pelo movimento do trator.
Controle cultural e mecânico da mosca minadora
O controle cultural manipula o ambiente de produção agrícola para torná-lo inadequado ao desenvolvimento das pragas.
- Eliminação de plantas daninhas e hospedeiros alternativos: diminui os locais onde os insetos ficam durante a entressafra;
- Eliminação de restos culturais: a eliminação dos restos culturais elimina as larvas e pupas presentes nesses materiais, reduzindo / impedindo a reinfestação no plantio seguinte;
- Rotação de culturas: pode ser feita a rotação de culturas com plantas não hospedeiras da mosca minadora, como o milho e sorgo;
- Plantas-iscas: plantas como o girassol ao redor da área de cultivo atraem as moscas adultas para fora da cultura principal;
- Cercas-vivas: barreiras vegetais que impedem a dispersão da praga pelo vento atingindo novas áreas. As plantas utilizadas também podem servir também como iscas para a praga e/ou refúgio para inimigos naturais;
- Pousio: deixar a área sem plantas hospedeiras da mosca minadora durante um período quebra o ciclo da praga;
- Manejo nutricional da planta: uma planta bem equilibrada tem melhor capacidade de resposta ao ataque de pragas. O excesso de nutrientes, principalmente o nitrogênio, é usado como fonte de aminoácidos pelas pragas;
- Distribuição espacial dos cultivos: posicionar os novos plantios em sentido contrário a direção do vento predominante, reduzindo a migração dos adultos;
- Manejo da água: a oferta de água influencia o desenvolvimento da planta, o que interfere na atratividade das moscas;
- Revolvimento do solo: o revolvimento do solo expõe as pupas da praga aos predadores e à dessecação pelo sol.
Barreiras físicas para a mosca minadora
O uso de cobertura de algumas culturas com um tecido sintético TNT (tecido-não-tecido) impede o ataque de insetos nos primeiros dias da cultura até o florescimento. Após esse período, a manta deve ser retirada para não impedir a polinização das culturas pelas abelhas. Pode ser uma boa medida de controle para algumas culturas, como o meloeiro, pois evita o ataque da praga no período mais suscetível da cultura. Porém, acredita-se que a falta de contato da planta com o ambiente externo reduza a capacidade da planta em resistir ao ataque de pragas após a retirada da manta.
Controle biológico da mosca minadora
Algumas culturas atacadas pela mosca minadora recebem altas cargas de inseticidas químicos, o que resulta em uma diminuição dos inimigos naturais da mosca minadora. Dentre os inimigos naturais, podemos citar os predadores bicho lixeiro, aranhas e ácaros; e os parasitoides do gênero Opius, e as espécies Chrysocharis spp., Neochrysocharis spp.; Diaulinopsis callichroma, Closterocerus spp. e Diglyphus begini.
As vespas parasitoides das larvas emergem do pupário no solo ou até na mina formada pela larva, já dentre os predadores podemos dar destaque para o crisopídeo. Para preservar a vida destes inimigos naturais, devemos tomar cuidado com os inseticidas, evitando o uso de carbamatos, organoclorados, organofosforados e piretroides, pois são altamente tóxico para os inimigos naturais e não possuem tanta eficiência para o controle da Liriomyza spp.
Controle químico da mosca minadora
É uma das táticas mais comuns e importantes no controle da mosca minadora, porém, poucos princípios ativos são utilizados para o controle da mosca minadora, o que pode resultar no surgimento de resistências aos princípios ativos, causando a perda de eficiência do controle.
Pode-se usar também iscas de cartape misturadas com uma isca alimentar (açúcar ou proteína hidrolisada). As fêmeas da praga, antes de colocarem ovos, necessitam de carboidratos e ingerem a isca com o cartape, envenenando-se e evitando a oviposição.
Deve-se utilizar sempre produtos registrados para a cultura em questão, respeitando as orientações da bula.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BRAUN, A. R.; SHEPARD, M. Leafminer fly: Liriomyza huidobrensis. Clemson: The International Potation Center and Clemson University Palawija IPM Project, 1997. 7p. Technical Bulletin.
DOVE, J. H. The Agromyzidae leaf miner, Liriomyza trifolii (Burgess), a new pest of potatoes and other vegetable crops in Mauritius. Acta Horticulture, The Hague, v. 153, p. 207-218, 1985.
COSTA, E. M. da. Aspectos do manejo integrado da mosca minadora e conservação de polinizadores em meloeiro. 2016. 81 f. Tese (Doutorado em Agricultura Tropical) - Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2016.
GUIMARAES, J. A.; MICHEREFF FILHO, M.; OLIVEIRA, V. R.; LIZ, R. S. de; ARAÚJO, E. L. Biologia e manejo de mosca minadora no meloeiro. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2009 9 p. (Embrapa Hortaliças. Circular Técnica, 77). Tipo: Circular Técnica