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A próxima recessão chegará mais cedo do que o previsto (Final)


Argemiro Luís Brum

Como vimos na coluna anterior, sinais começam a piscar indicando a proximidade de uma nova recessão econômica internacional. Isto se deve, em grande parte, ao fato de que os mercados financeiros estarem inundados de liquidez, fazendo subir o preço dos ativos sem conexão direta com a economia real (no Brasil, entre 20/04/17 e 20/04/2018, enquanto o Ibovespa subiu 32,9%, o PIB provisório brasileiro cresceu apenas 1,4%, ou seja, uma diferença de 23,5 vezes).

No caso dos EUA, no setor imobiliário comercial, na Bolsa e nos Fundos existem mais de 1,1 trilhão de dólares líquidos prontos para serem investidos. Um recorde que vai levar a se pagar qualquer coisa por qualquer preço. E o pior é que esta exuberância não parece estar se acalmando, pelo contrário. A reforma tributária dos EUA, lançada em dezembro/17, acaba alimentando a engrenagem. Teoricamente ela busca estimular os investimentos visando melhorar o crescimento da economia local.

Na prática, as multinacionais estadunidenses não precisavam da reforma para aumentar seus investimentos, se assim o desejassem. Afinal, os seus lucros, antes do pagamento de impostos, estão no mais alto nível histórico. O fato é que tais empresas não têm interesse em aumentar os investimentos. Assim, os ganhos adicionais, obtidos com a reforma, irão para a especulação, alimentando a bolha financeira. Tanto é verdade que, hoje, elas preferem direcionar 80% de seus lucros (contra apenas 25% nos anos 1980) a seus acionistas, sob forma de dividendos e de recompra de ações.

Ora, a maioria direcionará tais valores às aplicações financeiras, inchando ainda mais a bolha. Em síntese, o mercado está sendo inundado de liquidez, a ponto de o diretor geral do Bridgewater Associates, um dos maiores fundos especulativos do mundo, prevenir em Davos (Suíça), no final de janeiro passado, “que o setor financeiro mundial entra, sem dúvida, na reta final do ciclo de alta antes do grande estouro da bolha e o desmoronamento do sistema”.

Ou seja, o mundo parece nada ter aprendido com a crise de 2007/08, pois falta consenso internacional e liderança das instituições supranacionais para construir alternativas que evitem tais crises. O próprio FMI, em recente relatório, estabelece o período entre 2020 e 2024 para o surgimento de nova recessão internacional. E a mesma será mais difícil de resolver em comparação as anteriores. E o Brasil nisso tudo?

Pois nossa economia, diante da incapacidade estrutural de ser corrigida, em muito pela incompetência e desinteresse político de parcelas da sociedade, além da fraqueza do Executivo e do Congresso Nacional, corre o sério risco de ser engolida pela nova crise sem nem mesmo, antes, ter conseguido superar a crise atual. E, dependendo do resultado das eleições de outubro próximo, o quadro ainda pode piorar.

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