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A quem beneficia o recuo da Selic


Argemiro Luís Brum

Entre outubro de 2016 e junho de 2020 a Selic recuou mais de 84%, passando de 14,25% para 2,25%. A redução do juro básico serve, especialmente, para animar a economia, deixando o dinheiro mais barato. Todavia, desde 2016 o efeito deste mecanismo, em nossa economia, é pífio em relação a este objetivo.

Hoje, reduzir a Selic beneficia especialmente a três setores: o Estado; os bancos; e os exportadores. O Estado, porque parte de sua dívida pública está indexada na taxa básica. Assim, a redução da mesma diminui o montante da dívida estatal. Os bancos, porque imediatamente à baixa da Selic eles repassam o recuo aos juros que pagam às aplicações de seus clientes (poupança, Renda Fixa etc...). Mas não baixam na mesma proporção os juros que cobram pelos empréstimos que realizam. Ao contrário, tais juros seguidamente têm aumentado, mesmo agora, em plena pandemia.

E os exportadores porque a redução da Selic, potencializada pela desorganização da política nacional, acelera a saída de dólares do país e freia a entrada de novos investidores externos. Assim, o Real se desvaloriza, melhorando os ganhos da exportação. No entanto, esta realidade aumenta os custos na importação, fazendo com que estes exportadores venham a ter custos bem mais elevados logo adiante, ao necessitarem repor seus insumos e máquinas, geralmente importados.

Sem falar no aumento do potencial inflacionário futuro. Os grandes perdedores são especialmente a maioria da população nacional, pois os juros que recebem pela sua poupança e/ou outra aplicação, em termos reais, já estão ficando negativos. Ou seja, estão rendendo menos do que a inflação oficial. Ora, um pouco mais de 60% do PIB nacional se deve ao consumo das famílias brasileiras. Retirando ainda mais ganhos destas famílias, sem uma contrapartida quanto a dinamizar a economia e gerar empregos, a redução da Selic acaba causando um efeito inverso ao esperado. Portanto, está mais do que na hora de o Copom repensar sua estratégia, encontrando o real equilíbrio entre o valor da Selic e as necessidades da população brasileira.  

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