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Propostas econômicas do novo governo: uma análise (Final)


Argemiro Luís Brum

No cenário internacional, a nova política de comércio exterior apontada pelo futuro ministro da Economia vai no caminho certo ao defender a ampliação de mercados e das exportações, visando alavancar a indústria nacional. Há uma clara evidência de que o eixo da política industrial mudará. A questão é: para onde? Alguns analistas indicam que teremos um “modelo centralizado no governo”. Ora, isso incorre no risco de criarmos novos subsídios e despesas públicas desnecessárias, exatamente o que se deve cortar. Mas a ideia de ampliar a abertura comercial, com redução de alíquotas de importação, e diminuir a burocracia no comércio exterior, é bem-vinda. O

problema é que, ao mesmo tempo, futuras promessas presidenciais na área das relações exteriores tendem a colocar por “água à baixo” nosso comércio exterior. Dentre elas está a ideia de mudar a embaixada brasileira em Israel, para a cidade de Jerusalém, assim como a de fechar a embaixada palestina em Brasília. Estaremos praticamente comprometendo grande parte do mercado árabe, além das boas relações existentes entre estes povos aqui no Brasil. E a escolha de Ernesto Araújo, para Ministro das Relações Exteriores, não dá garantias de impedir tais erros diplomáticos. Enfim, pode-se dizer que o novo ministro da Economia terá um curto período de “lua de mel” com o mercado, pois as cobranças logo virão, especialmente se as ações públicas forem mal executadas.

Neste sentido, a grande questão é como Paulo Guedes se movimentará no governo e como serão suas relações com o Congresso Nacional. Sabendo das dificuldades inerentes a estes movimentos, o mercado está esperando, para 2019, apenas uma reforma fiscal modesta. Afinal, a governabilidade não será fácil. Será preciso negociar com 30 partidos diferentes, além das bancadas, no Congresso. Boa parte destes partidos apoiaram Bolsonaro usando-o como trampolim para elegerem seus candidatos. A partir de agora as relações entre ambos tende a ser diferente. Assim, se o mercado e a sociedade estiverem acreditando em milagres, estão sendo muito ingênuos a respeito do presidente eleito e de seu futuro ministro Guedes.

Aliás, se a ideia é resolver os problemas econômicos do país “com um só tiro, a la Collor de Mello”, a mesma tem alto risco de fracasso. Para o tamanho da crise brasileira, será preciso ações graduais, porém, com firmeza e conhecimento de causa. E, neste ponto, a realidade é preocupante. Paulo Guedes, além de ser considerado por muitos economistas renomados um “megalomaníaco”, em suas declarações deixa tudo muito nebuloso, faltando poder de convencimento, na medida em que faz a maioria de suas declarações de forma intempestiva, sem base em cálculos técnicos aceitáveis, fato que o leva a constantes desmentidos, o fragilizando sobremaneira antes mesmo de assumir oficialmente o cargo de ministro.  

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