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Recuperação de Pastagens na Amazônia. IV. Métodos Físico-Químicos


Newton de Lucena Costa

A necessidade de produzir alimentos e divisas para a região Amazônica tem motivado a utilização de áreas de florestas com diversas alternativas de exploração agropecuária, entre as quais a pecuária de corte e/ou leite. Esta opção surgiu em virtude das limitações ecológicas das pastagens nativas de áreas inundáveis e do baixo potencial produtivo daquelas de terra firme. Nos últimos 30 anos, com a abertura de novas rodovias e a implantação de dezenas de Projetos de colonização e Assentamento na Amazônia, foram implantados cerca de 30 milhões de hectares de pastagens cultivadas em áreas de florestas. Entretanto, estas pastagens têm apresentado com o decorrer dos anos um declínio gradual e acentuado de produtividade, o qual está diretamente relacionado com a fertilidade e as características físicas do solo. Contudo, outros fatores também contribuem para tal processo, tais como deficiências no estabelecimento das pastagens (sementes de baixa qualidade, mal preparo do solo etc.) e a utilização de práticas de manejo inadequadas. Em geral, a utilização das pastagens cultivadas tem sido realizada sob condições de altas pressões de pastejo, associadas ao sistema de pastejo contínuo ou com a realização de períodos mínimos de descanso, as quais não são compatíveis com a manutenção do equilíbrio do complexo solo-planta-animal que permita uma produtividade satisfatória da pastagem a longo prazo.

O manejo deficiente da pastagem, além de concorrer para o declínio mais rápido da produtividade, também provoca aumento da população de plantas invasoras, erosão laminar e de profundidade pela ação direta das chuvas, perdas por lixiviação da maior parte dos nutrientes disponíveis no solo, compactação e, finalmente, a degradação, em alguns casos, quase irreversível. Atualmente, cerca de 40% das pastagens cultivadas da Amazônia, como consequência da utilização de práticas de manejo inadequadas, já se apresentam diferentes estádios de degradação.

Na Amazônia, as práticas mais utilizadas para deter o declínio de produtividade das pastagens tem se restringido ao controle de plantas invasoras, através de métodos manuais, químicos ou físicos, isolados ou integrados. Estes são, geralmente, associados com queimas periódicas e seguidos de um período de descanso variável, com a finalidade de reduzir a competição da comunidade de plantas invasoras e favorecer um melhor desenvolvimento da planta forrageira. Entretanto, na maioria dos casos, mesmo um descanso prolongado das pastagens não tem proporcionado o efeito desejado, tornando-se os processos de limpeza cada vez mais freqüentes e menos eficientes, pois, geralmente, não é suficiente para que as gramineas e/ou leguminosas forrageiras recuperem seu vigor. Como as plantas invasoras são, na maioria, nativas e perfeitamente adaptadas às condições edafoclimáticas da região e, dificilmente são consumidas pelos animais, tendem a predominar no ecossistema.

Dentre as causas que tem levado as pastagens cultivadas à degradação, o esgotamento da fertilidade do solo, as alterações em suas propriedades físicas (consistência, taxas de infiltração, porosidade, densidade etc.) e o manejo inadequado são os mais comuns. As pastagens são consideradas em degradação quando a produção de forragem é insuficiente para manter um determinado número de animais por um certo período de tempo. Entretanto, quando a produção de matéria seca diminui sensivelmente, a ponto de ser notada através da redução da carga animal, a planta forrageira já reduziu drasticamente o sistema radicular, o perfilhamento e a expansão de novas folhas e os níveis de reservas de carbohidratos nas raízes e base dos colmos. Para plantas de Panicum maximum var. trichoglume uma redução de 8% na produção de matéria seca implicava no decréscimo de 3,8 vezes do sistema radicular; de 4,0 vezes no nível de carbohidratos de reservas e de 1,7 vezes nas taxas de produção de novas folhas. Desse modo, o sucesso na recuperação de pastagens degradadas depende da eficiência com que se reestabelece o sistema radicular, o perfilhamento e os demais mecanismos que a planta utiliza para prolongar sua persistência.


Diversos trabalhos de pesquisa, desenvolvidos na Amazônia, fornecem contribuições significativas em tecnologias bioeconomicamente viáveis para evitar o declínio da produtividade das pastagens ainda produtivas, bem como para melhorar a produtividade ou recuperar aquelas em vias de degradação. Quando o principal fator da degradação da pastagem é a compactação do solo, a utilização apenas de métodos físicos pode proporcionar bons resultados. No entanto, esta prática só tem sucesso quando, paralelamente são combatidas as causas da compactação, notadamente o superpastejo. Ademais, torna-se imprescindível a recuperação da fertilidade do solo para que os efeitos de métodos físicos sejam ressaltados e a planta forrageira tenha acesso aos nutrientes de forma compatível com suas taxas de crescimentos e potencial produtivo. Em um Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico, a adubação (42 kg de N/ha e 44 kg de S/ha ) mostrou-se agronomicamente eficiente para a recuperação de pastagens de Brachiaria decumbens, o uso apenas da gradagem, por si só não proporcionou efeitos positivos. Em pastagens de Panicum maximum degradadas, a efetiva recuperação de sua produtividade foi obtida com os seguintes tratamentos: descanso, limpeza manual, fogo, subsolagem ou gradagem, todos asssociados com a aplicação de 50 kg de N/ha. Os maiores rendimentos de forragem foram obtidos com o tratamento fogo + nitrogênio, o qual produziu 12,5 t de matéria seca/ha. Para pastagens de B. decumbens, a utilização de tratamentos mecânicos sem fertilização não melhorou o desenvolvimento da pastagem nem de sua produtividade. A fertilização completa (22 kg de P/ha, 45 kg de N/ha; 25 kg de K/ha; 18 kg de Ca/ha e 15 kg de S/ha), resultou nos efeitos mais benéficos (4,26 t/ha de matéria seca e 73% de cobertura do solo), sendo a maior resposta encontrada quando esta foi combinada com a queima. Na Amazônia colombiana o método mais eficiente para a recuperação de pastagens de B. decumbens consistiu na gradagem (uma ou duas passagens), seguida da aplicação de 22 ou 44 kg de P/ha. Em Rondônia, a aração, gradagem e aração + gradagem, associadas à aplicação de 22 kg de P/ha, foram os métodos mais eficientes para a recuperação de pastagens degradadas de Brachiaria brizantha cv. Marandu.

A recuperação de pastagens degradadas pode ser tecnicamente viável através da utilização conjunta de métodos físicos e químicos. No entanto, a adoção de práticas de manejo que envolva a utilização de germoplasma forrageiro com baixo requerimento de nutrientes e com alta capacidade de competição com as plantas invasoras e sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema, podem ser considerados como a chave para assegurar a produtividade das pastagens cultivadas por longos períodos de tempo, nas áreas de floresta da região amazônica.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá

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