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A inflação e os salários (II)


Argemiro Luís Brum


O fato de não se reajustar os salários e, particularmente, o salário-mínimo, no contexto da real inflação que o país vive, faz com que os assalariados paguem a conta de um sistema redistributivo a cada dia mais injusto. Isso ajuda a explicar o empobrecimento geral da população, pois este raciocínio vale para todas as classes de trabalhadores. Mesmo aquelas que negociam o reajuste salarial por dissídio, já que seguidamente não conseguem repor a totalidade da inflação. Tanto é verdade que mais de 50% das categorias que negociaram seus reajustes salariais em 2021 e 2022 ganharam menos do que a inflação. Com o passar dos anos, a defasagem salarial gerou uma concentração de renda brutal, ficando entre as mais altas do mundo. Em 2020, embora o auxílio emergencial tenha aliviado um pouco, o 1% mais rico da população recebeu, em média, 34,9 vezes a renda da metade (50% dos brasileiros) mais pobre. Nos últimos 10 anos este quadro se agravou porque os diferentes governos geraram um déficit público imenso, que descontrolou a economia. Isso nos levou a uma recessão importante, entre meados de 2014 e o final de 2016, com aumento do desemprego. Assim, em termos médios, somos um povo pobre morando em um país rico. Mais recentemente, a pandemia da Covid-19 e a guerra Rússia x Ucrânia, somadas com o desmonte das políticas públicas estruturais em favor dos mais pobres (medidas eleitoreiras de curto prazo, como as atuais, não geram efeito estrutural positivo), pioraram a situação do brasileiro. Agravada pelo fato de que o desemprego vem sendo superado pelo crescimento da informalidade e, em especial, pela retomada de empregos com salários menores. Hoje, cerca de nove em cada 10 brasileiros empregados ganha menos do que R$ 3.000,00 mensais, sendo que, em 2021, segundo estudo da FGV, cerca de 30% de todos os brasileiros viviam com menos de R$ 500,00 mensais, mesmo com o auxílio emergencial do governo (lembrando que o auxílio não irá durar). E uma economia somente se recupera se houver, também, demanda interna adequada. E, para isso, é preciso que essa demanda tenha renda. (segue)

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