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A caixa preta do BNDES (Final)


Argemiro Luís Brum

Dando sequência à coluna passada, vale dizer que a caixa preta do BNDES é bem mais profunda! Em 2016 Joesley Batista teria solicitado, via o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que o presidente Temer interviesse no BNDES a fim de que o banco não vetasse a mudança da sede para o Exterior. Na oportunidade a ideia era ir para a Irlanda.

Ou seja, a política de subsidiar com dinheiro público as ditas “campeãs nacionais” (e aí entra, além da JBS, as empresas de Eike Batista e muitas outras) acabou indo para o ralo da corrupção. O BNDESPar, que é dono de 20% das ações da JBS, tentou vetar a saída da empresa, porém, cerca de 80% das operações da mesma já estão, não na Irlanda, mas nos EUA de Donald Trump. Além disso, no final de abril passado os donos da JBS estavam em um grupo de empresários que reclamou da gestão de Maria Silvia Bastos Marques no BNDES, pois a mesma estava tentando passar um “pente fino” em todas as ações, principalmente as obscuras. Rapidamente a mesma foi “apeada” do cargo e substituída por alguém mais afinado, em princípio, aos interesses do Planalto.

O escolhido, Sr. Paulo Rabello de Castro, embora conhecedor da área, foi o mesmo que, na presidência do IBGE provocou desconforto entre analistas ao mudar a metodologia nas pesquisas do comércio e serviços para o cálculo do PIB nacional, fato que elevou o resultado de janeiro passado (cf. ZH, 29/05/17, p. 15). Diante destes fatos, é justo imaginar que a Operação Lava-Jato está mostrando que o roubo do dinheiro público é muito maior do que se pensa.

Não é por nada que a maioria de nossos deputados e senadores, secundados por ministros e presidentes da República, trabalham arduamente para frear a ação do Ministério Público e da Polícia Federal. Enquanto isso, os brasileiros pagaram em impostos, que alimenta boa parte desta ciranda, 41,8% do PIB nacional em 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Em 2017 foram necessários 153 dias de trabalho para pagarmos todos os impostos que sobre nós recaem. Isso é o dobro do que se trabalhava na década de 1970.

Um dinheiro que não volta em serviços públicos adequados à sociedade, pois grande parte é roubada da forma que, agora, estamos tomando conhecimento. E isso que a caixa preta do BNDES apenas começou a ser aberta. Se quisermos um Brasil melhor é preciso que se faça uma limpeza completa da corrupção nas entranhas políticas do país, em todos os níveis. Isso, mesmo que a correção de rumo de nossa economia sofra atrasos e nos deixe por mais tempo na recessão. É melhor atacarmos definitivamente o problema nacional agora que começamos, do que fazermos novamente uma “meia sola” que voltará a inviabilizar politicamente o país, e obviamente sua economia, logo adiante. Resta esperar que a sociedade brasileira acorde finalmente para tal realidade e deixe de agir como avestruz.

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