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A economia no caos político


Argemiro Luís Brum

Um dos desafios para o Brasil sair da crise econômica era superar a crise política. Infelizmente, desde que esta última se cristalizou no país, ainda em 2005/06 com o “mensalão”, o país somente afundou na mesma. O impeachment da ex-presidente Dilma foi apenas um capítulo do processo, pois a ascensão de seu vice (Michel Temer), em termos de confiabilidade e ética política, deixava a desejar.

O que aliviou momentaneamente a crise foi a consolidação de uma equipe econômica, aceita pelo mercado porque capaz de adotar medidas de ajustes. Entretanto, era sabido que sem o ajuste fiscal profundo, acompanhado das reformas estruturais adequadas, o ensaio de recuperação econômica seria “um voo de galinha”.

O atual governo já vinha claudicando neste sentido ao ceder em pontos importantes das reformas, construindo uma “meia sola” insuficiente para as necessidades dos ajustes fiscal e econômico. Agora, com o escândalo da JBS na mesa, e todas as suas consequências nos diferentes escalões da República, além de evidenciar que os últimos governos (Lula, Dilma e Temer), juntamente com muitos deputados e senadores, estiveram e estão fortemente comprometidos com a corrupção endêmica nacional, mostra que o impacto na economia é enorme (mais uma vez).

E a “caixa preta” do BNDES apenas começou a ser aberta! As evidências até aqui existentes mostram como o dinheiro público, através deste banco de fomento, foi utilizado indevidamente por alguns privilegiados (somente a JBS, a partir de 2007, praticamente ganhou cerca de R$ 10 bilhões, sem falar no caso Eike Batista, nos financiamentos à investimentos no estrangeiro para sustentar governos afinados com a ideologia de quem nos governava e assim por diante).

O efeito imediato sobre nossa economia é de paralisação, com a manutenção do país na recessão após um primeiro trimestre que deu uma pequena esperança de recuperação, mesmo que parcial. Assim, a recuperação de empregos fica comprometida (quem irá investir diante de tal quadro político-policial?). E até o quadro se definir o país viverá alta volatilidade cambial, bursátil e vê comprometida sua política de redução do juro básico (Selic).

No âmbito internacional, as agências de risco voltaram a reduzir nossas notas de crédito e o Brasil passa a ser visto, novamente, como uma “republiqueta bananeira”, onde boa parte do poder público se vende facilmente. Se o Ministério Público e a Polícia Federal decidirem ir a fundo, o Brasil poderá ser outro em futuro próximo, e para melhor. Mas, para isso, temos que limpar esse cancro político que fundeou este capitalismo de compadres entre parte dos políticos, de todos os matizes, e do empresariado aqui instalado.

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