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A soja lidera com folga o agronegócio brasileiro


Amélio Dall’Agnol

Cerca de 15% das exportações totais do Brasil têm origem no complexo soja, representando ingressos de aproximadamente 30 bilhões de dólares anuais. Em termos financeiros, é destacadamente o principal produto exportado pelo Brasil e nada indica que essa liderança será perdida no curto e médio prazos, visto que a demanda de soja continua aquecida e os preços de mercado são satisfatórios.  

 

A área cultivada com a oleaginosa nas principais regiões produtoras do País e do exterior continua aumentando, um esforço necessário para atender a crescente demanda pelo produto no âmbito nacional e mundial. Proporcionalmente à área cultivada com os principais grãos em nível mundial, a área de soja tem sido a que mais cresceu no correr das últimas décadas e, mesmo assim, não houve a formação de estoques gigantes, promotores de queda nos preços. 

Segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na safra 2018/19 o Brasil poderá ultrapassar os Estados Unidos (EUA) na produção de soja (117 milhões de toneladas – Mt contra 116,5 Mt) e assumir a liderança global, que, desde os anos 50, pertence aos EUA. A atual safra americana sinaliza com uma queda de 3,5 Mt sobre a safra anterior (120 Mt), em parte porque houve redução da área cultivada (36,22 milhões de hectares - Mha vs. 35,79 Mha) e também, porque se estimou a produtividade da safra 2018 - em pleno processo de colheita - como sendo a média dos últimos cinco anos. Poderão haver mudanças, tanto na produtividade, quanto na área. Melhor esperar para comemorar o campeonato, embora seja bastante provável que, caso o Brasil não leve o troféu nesta oportunidade, seguramente o fará na próxima.

A produção mundial de soja em 2018/19 está estimada em 354,5 Mt, sendo que 81,65% desse total se concentra em três países: Brasil (33%), EUA (32,85% e Argentina (15,8%). No entanto, esta situação poderá mudar, visto que outros países estão indicando interesse pela sua produção (Canadá, Ucrânia, Rússia, além de Paraguai, Uruguai e Bolívia), dada a percepção de que o agronegócio da soja não é interessante apenas para os três líderes.

Era expectativa dos brasileiros de que, já na safra 2016/17, o Brasil superaria a produção americana, dado o quase esgotamento de áreas aptas e disponíveis naquele país para mais produção, dependendo de trade off entre culturas para o aumento de área. Isto já ocorreu em safras recentes com o algodão e o milho, entre outras. 

Seria compreensível se o produtor brasileiro estivesse angustiado com a possibilidade de queda nas cotações mundiais da soja, dada a sequência de supersafras colhidas nos EUA (117 Mt,120Mt e 116,5 Mt) e no Brasil (114 Mt, 117 Mt e 117 Mt), em 2016/17, 2017/18 e 2018/19, respectivamente. Contudo, mesmo frente a esta realidade, as cotações do mercado para os produtores brasileiros estão muito satisfatórias, em boa medida por causa do câmbio favorável e da briga China vs EUA, o que torna a realidade dos produtores americanos não tão colorida. 

Com o espetacular crescimento do PIB mundial no correr das últimas décadas (US$ 12 trilhões em 1980 vs. US$ 87 trilhões em 2018), a renda per capita das pessoas também aumentou, particularmente dos cidadãos que habitam os países em desenvolvimento (a maior parcela da população) e ainda muito carentes de proteínas animais. Com mais dinheiro no bolso, esses cidadãos passaram a consumir menos carboidratos (grãos) e mais proteína animal (carnes, leite e ovos), que têm no farelo de soja sua principal matéria prima.  

Embora o óleo não seja a razão principal para produzir-se mais soja, sua produção está, também, sendo muito requisitada para consumo doméstico e para biodiesel, indicando que a produção da oleaginosa é duplamente estimulada: como alimento humano e animal e como biocombustível. 

O Brasil se beneficia do aumento global do consumo de soja e de seus derivados, pois dispõe de muitas áreas aptas e disponíveis para aumentar o plantio, tem clima favorável para produzir o ano todo, desenvolveu tecnologias apropriadas para explorar zonas tropicais de baixa latitude e dispõe de água para irrigar, se a operação for economicamente rentável. 
 

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