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Crestamento foliar ou Mancha púrpura na semente de soja


Amélio Dall’Agnol

CRESTAMENTO foliar ou mancha púrpura na semente de soja

Amélio Dall’Agnol e Ademir Assis Henning, pesquisadores da Embrapa Soja

 

Esta é mais uma doença causada por fungos em soja. Está disseminada por todas as regiões produtoras de soja do País e ataca todas as partes da planta. Nas folhas, os sintomas se manifestam através de pontuações escuras, castanho-avermelhadas, que se juntam formando grandes manchas escuras, resultando em uma severa queima superficial das folhas e desfolha prematura. Estas manchas dão nome à doença: crestamento foliar. As sementes são atingidas pelo fungo através da infecção da vagem, causando manchas púrpuras no tegumento e afetando o valor de mercado do grão. A doença é reconhecida pelas denominações populares de mancha púrpura da semente ou crestamento foliar de cercospora e o fungo leva o nome científico de Cercospora kikuchii. Mais recentemente, outras espécies de Cercospora têm sido associadas à doença, como C. cf. flagellaris e C. cf. sigesbeckiae.

Esta doença faz parte de um complexo de doenças conhecidas como doenças de final de ciclo (DFC), que inclui, além do crestamento, a mancha parda causada por Septoria glycines. Quando os sintomas desta doença ocorrem simultaneamente com as do crestamento, é difícil identificar quem é quem no complexo de sinais e os danos são avaliados no conjunto, não individualmente. Inclusive, os sintomas foliares podem ser confundidos com a fitotoxidade causada por alguns fungicidas que possuem óleo na sua formulação e as aplicações são feitas sob forte calor.

O ataque de Cercospora kikuchii no Brasil ocorre em todas as regiões produtoras de soja e é mais severo em ano com clima chuvoso e temperaturas amenas, como as que prevalecem no período primavera/verão nas áreas mais altas do Bioma Cerrado. O seu ataque é favorecido por temperaturas na faixa de 23°C a 27°C, mas a infecção dos tecidos é mais intensa com temperaturas entre 28ºC e 30ºC.

Geralmente, o fungo é introduzido na lavoura por sementes infectadas e sobrevive nos restos culturais da soja cultivada anteriormente, razão pela qual, em áreas contaminadas, se recomenda a rotação da soja com espécies de plantas não hospedeiras. Por isto, o agricultor deve utilizar sementes livres do patógeno e tratadas com fungicidas de ação sistêmica e de contato. A parte aérea deve ser pulverizada preventivamente entre o florescimento e o enchimento de grãos, com fungicidas dos grupos dos benzimidazóis, triazóis e estrobilurinas em mistura com um fungicida do grupo dos “multissítios” (oxicloreto de cobre, clorotalonil, etc).

As novas cultivares de soja, caracterizadas como hábito de crescimento indeterminado e ciclo precoce - preferência de cultivo da absoluta maioria dos produtores - parecem apresentar maior suscetibilidade ao fungo, acendendo um sinal de alerta sobre o potencial impacto econômico da doença no futuro. Estudos mostraram que o fungo não tem efeito negativo sobre a qualidade da semente, mesmo com elevados índices de infecção (até acima de 60%), quando a semente possui boa qualidade fisiológica (mínimo de danos mecânicos, deterioração por umidade ou danos de percevejo).

Tem sido reportado recentemente, a ocorrência de isolados ou novas raças de Cercospora kikuchii, que apresentam resistência aos fungicidas, principalmente do grupo dos triazóis. É um alerta, pois a doença pode tornar-se mais destrutiva.

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