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É sustentável a produção agrícola do Brasil


Amélio Dall’Agnol

Produzir sustentavelmente, conforme o próprio termo indica, significa que o recurso natural que sustentou o avô, o pai e o filho, precisa manter-se produtivo para a sobrevivência do neto, bisneto e tataraneto. Nenhuma geração tem o direito de abusar do recurso que recebeu produtivo, desfruta-lo irresponsavelmente e repassa-lo para a geração seguinte em condições piores do que o recebeu.

Via de regra, os processos produtivos da agricultura brasileira são sustentáveis. Nossa produção agrícola, no correr do último meio século, cresceu mais em função do aumento da produtividade do que pela incorporação de novas áreas de cultivo. A soja foi o motor dessa transformação, dado o aumento da demanda mundial pelo grão e pelos bons preços de mercado daí decorrentes. 

O Brasil não merece as críticas sistemáticas que vem recebendo de nativos e de estrangeiros, quanto aos métodos de exploração agrícola do seu território. Contrastando, por exemplo, a área de 34 milhões de hectares (Mha) e produção de 58 milhões de toneladas (Mt) de grãos das lavouras brasileiras de 1990, com a área e produção atuais (63 Mha e 247 Mt), resulta uma produtividade de 1.706 kg/ha em 1990 (58/34) e de 3.921 kg/ha em 2019/20 (247/63). Fica evidente, portanto, que para produzir a atual safra de 247 Mt de grãos com a produtividade de 1990 precisaríamos, não 63 Mha, mas de 145 Mha (247/1,706); 82 Mha adicionais.  Esta é a área teoricamente salva do desmatamento pelo aumento da eficiência produtiva dos campos de produção brasileiros.

A evolução do Código Florestal do Brasil foi essencial para proteger nossas florestas do desmatamento. Contudo, outro aspecto positivo deve ser enfatizado: segundo levantamento da Embrapa Monitoramento por Satélite, tomando como base os registros do CAR (Cadastro Ambiental Rural), mais de 20% da vegetação nativa brasileira é preservada dentro das propriedades, sem nenhum pagamento ao proprietário por esta renúncia involuntária de área produtiva. Em outras palavras, o agricultor brasileiro reconhece a importância de se preservar as matas nativas. 

Mas a sustentabilidade não pode ser considerada apenas desde uma perspectiva ambiental. Também é importante proteger outros ativos ambientais, como o solo e a água, por exemplo.  Para ser completa, a sustentabilidade precisa considerar, também, os aspectos sociais, os tecnológicos, os trabalhistas e os econômicos. Uma propriedade agrícola ambientalmente bem administrada, mas que escraviza seus colaboradores ou uma propriedade altamente produtiva, mas que fecha o ciclo de uma safra com prejuízo porque seus custos de produção ultrapassaram o valor de comercialização da colheita, são insustentáveis.

E as ferramentas utilizadas na busca por sustentabilidade não param com o estabelecimento do CAR. Num futuro próximo, a preocupação chegará às gôndolas dos supermercados, onde estarão disponíveis mecanismos de averiguação sobre a sustentabilidade da cadeia produtiva que gerou os produtos disponibilizados nas prateleiras do estabelecimento, desde uma perspectiva ambiental e também social.
 

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