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Empresas Familiares – NOVOS CASES X LIÇÕES DE CASA (I)



Prof. João Mariano

A Gestão Familiar no Mundo Hoje

A medida que prosseguem as pesquisas que venho fazendo sobre Gestão de Negócios Familiares, com material nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola, vou captando informações,  que mostram que em vários países, os problemas deste tipo de negócio são muito parecidos.  Onde existem pais, prole, genitores, famílias, o processo de sucessão pressupõe os filhos como sucessores em primeira instância, principalmente em países como Portugal, Espanha, na Europa e os de língua espanhola, aqui na América do Sul.  Alguns países tem uma grande preocupação com esse tema, como Portugal, onde o assunto é tratado em faculdades e associações de jovens empresários, com muita intensidade.   Na América do Sul, Uruguai, Chile, Argentina, estão na frente, na intensidade com que tratam o tema Gestão Familiar, seja pelas universidades ou associações de classe, como de jovens empresários.

No Brasil, alguns estados, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina parecem estar na frente, em volume de eventos realizados, nas universidades e nas associações comerciais industriais, de classe, de jovens empresários.  Depois São Paulo e Rio de Janeiro também estão tratando o assunto com muita seriedade, com introdução até mesmo da disciplina de "gestão familiar", em grades curriculares.   Outros Estados, começam a buscar informações sobre o tema, a começar por Pernambuco e Bahia,  onde já existem profissionais do ramo em Recife e Salvador, com atuação ainda local, mas já trazendo o tema, para universidades e associações.

Estou relatando alguns cases, com os quais tomei contato pessoalmente nas minhas atividades profissionais, os quais acredito trarão interessantes "lições de casa", para refletirmos.

CASE I : um casal com 02 filhos homens, que desejavam criar seu próprio negócio particular....não desejando atuar no negócio dos pais...

O casal possuí uma rede de lojas 1,99 com mais de 40 lojas de porte, estão na faixa dos 50 anos e tem dois filhos, um com 23 e outro com 25 anos.....Numa primeira fase, ainda adolescentes, foram introduzidos na empresa, sem uma responsabilidade definida, para um primeiro contato com o negócio, orientados por um gerente.....  Por razões "indefinidas", a vocação deles migrou ainda na adolescência para o desejo de atuar em rodeios, principalmente com tropas e comitivas....Como é uma região onde existem rodeios famosos, como a Festa do Peão de Barretos, A EXPO de Fernandopolis e o Country Bull de Rio Preto, eram assíduos frequentadores e provavelmente sofreram influências do sucesso de grandes tropeiros, como Paulo Emílio, do Touro Bandido e outros.  O fato é que não querem mais tocar os negócios dos pais, como opção profissional.  Num primeiro momento houve uma forte reação do pai,  que chegou a impor a presença deles no escritório da empresa, dando-lhes algumas atividades administrativas.   Mas não funcionou, porque agiam com displicência, sem dedicação e os trabalhos não eram realizados.  A mãe, pressionada pelo pai de um lado e pelos filhos de outro, optou por apoiá-los e conseguiu convencer o marido a aceitar a opção dos filhos, inclusive investindo no negócio.  Felizmente, um final feliz, já estão com uma boa tropa e alugando seus equipamentos e animais para diversos rodeios, já com algum lucro.

Lições de Casa :

1) se houver compatibilidade entre vocação e atividade exercida, a possibilidade de sucesso será maior do que em outras circunstâncias...os pais precisam estar atentos para não exigir a presença dos filhos no negócio, se a vocação for diferente...

2)os pais devem entender que seus negócios foram "originados dos seus sonhos" e que seus filhos podem ter sonhos, metas e objetivos diferentes, sem atração alguma pelos negócios da família...que não vão deixar de ajudar se for preciso, mas é opção deles...

3) outra faceta é enxergar os conflitos de interesse pelo lado positivo, entender que sua empresa pode ter como missão "fazer a terraplanagem da estrada" que vai levar seus filhos ao futuro...e que eles poderão ser dar bem em outras profissões ou atividades....

CASE II – A família, um casal, com duas filhas e um filho adolescente...uma das moças formada em Direito e querendo advogar, a outra, ainda estudante atuando na empresa e o menor, desejando atuar em outro segmento....

A família tem um grande supermercado, que é gerenciado pela esposa, enquanto o marido atua no setor de transporte e depósito.  A filha mais velha formou-se em direito e tem como sonho ser promotora ou juíza.  Já vem estagiando em escritórios de advocacia na cidade, em busca do seu espaço e aos sábados vai para o supermercado ajudar a mãe e avó devido movimento.  Já tem seus objetivos e metas definidos e discutiu isso várias vezes com os pais, que parecem ter aceitado, mas guardam uma pontinha de esperança lá no fundo, que ela mude de ideia..... Ao conversarmos com a moça, ela comentou que sabe onde quer chegar e vai ser juíza.   A outra filha, também estudante de direito, atua no escritório do supermercado e comentou que primeiro quer se formar, para depois decidir...ainda tem dúvidas sobre suas  opções profissionais futuras.  O menino, de apenas 14 anos, alto e forte, vem brigando com os pais, porque não deseja trabalhar no supermercado e sim em sítios e fazendas.   Como a família tem um sítio, nos finais de semana, quando não tem aulas, ele quer ir para o sítio lidar com os animais, porcos, vacas, galinhas, enquanto os pais querem que ele venha ajudar no supermercado...essa ajuda acaba sendo na expedição, ajudando o pai a colocar entregas nos caminhões ou no depósito e nas descargas de mercadorias...Fisicamente, o menino é muito forte e tem porte para ser peão de rodeios, que é o sonho dele, conforme comentou conosco, quando conversamos com ele a pedido da mãe...Conversamos com os pais, que ficaram de conversar mais e pensar numa decisão.

Lições de Casa :

1) a vocação sempre é mais forte que a imposição de qualquer atividade, simplesmente por ser da família....vocação traz prazer na realização das coisas, faz com que elas sejam feitas com mais qualidade e isso traz melhores resultados....

2) as famílias precisam criar a estrutura funcional (...antigos organogramas....), com visão profissional, colocando profissionais adequadamente preparados nas funções, mesmo que tenha filhos formados que possam assumir, mas que não desejem fazer isso....

3) as empresas funcionam melhor, quando não desmontam as famílias e as famílias também, quando não desmontam as empresas...nada impede que se invista em atividades diferentes do negócio da família, gerando novos negócios para herdeiros que tem certeza do que desejam...

CASE III : o pai é viúvo, fez carreira em multinacionais e criou uma empresa pequena em volume, mas de alto faturamento e tem duas filhas, ambas químicas e um filho, formado em ciências contábeis...Uma das filhas atua na empresa, como química.  A outra estava concluindo  o mestrado na USP e pretendia atuar como professora.  O filho, atua na administração da empresa. Todos tem acima de 20 anos. 

O pai, após fazer carreira em multinacionais em São Paulo, atuando muitos anos no segmento automotivo e de autopeças, resolveu mudar para o interior do estado,  com as crianças ainda pequenas.   Após algum tempo pesquisando, optou por montar uma empresa que processa borracha in natura, gerando "latex", para fabricantes de preservativos.  A filha mais velha, formada em química, atua com ele, controlando os processos, que tem uma grande rigidez de especificações e qualidade exigida pelos compradores.   Faz também a regulagem das máquinas, todas eletrônicas, evitando fuga às especificações e manutenção do padrão do produto fornecido.   Basicamente, é a "alma da empresa".   O filho, já com mais de 29 anos, passou por um período de displicência muito grande, desligado do negócio e teve ajuda de um profissional "COUCH" (orientador profissional), que procurou ajudá-lo a encontrar seu rumo.   Conversando com o pai, ele comentou que a esposa havia  falecido há cerca de 4 anos atrás e  provavelmente a postura do filho tinha algo a ver com o fato.  Com relação à filha mais nova, que faz mestrado em Química na USP, ela deseja voltar para o interior, por pressão do namorado e atuar na área acadêmica.  O pai, espera que ela venha atuar na empresa.

Lições de Casa :

1) se a empresa não for grande o suficiente, pode não ter espaço para todos os filhos.  É preciso pensar bem antes de "forçar filhos a tomar decisões", que poderão gerar conflitos futuros e insatisfação pessoal....

2) mesmo pequena, a empresa poderá definir sua estrutura de forma profissionalizada, estabelecendo os níveis, as funções necessárias ao seu bom funcionamento....não é preciso fazer nenhum "AJEITOGRAMA" para encaixar membros da família, mesmo que os resultados da empresa sejam muito saudáveis atualmente....

3) nada impede que as duas irmãs atuem parcialmente juntas, uma estará ligada também à área acadêmica e poderá trazer "khow-how", novos conhecimentos para sua empresa, funcionando como uma "cientista", uma "técnica", que traz as novidades que poderão gerar maior produtividade, menor custo operacional....e a outra, irá aplicar isso na empresa....todos irão ganhar....

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