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Evolução do cultivo da soja Intacta no Brasil


Amélio Dall’Agnol
Segundo levantamento do Rally da Safra de 2016, 94% da safra 2015/16 foi estabelecida com sementes de soja transgênica, sendo 46% de cultivares RR e 48% de cultivares Intacta RR2 PRO. As cultivares RR resistem ao glifosato, que controla a maioria das plantas daninhas da soja e as cultivares Intacta RR2PRO, além de resistirem ao glifosato, controlam algumas lagartas que atacam a soja (lagarta da soja, lagarta falsa medideira, lagarta das maçãs, helicoverpa, elasmo e broca das axilas) por possuírem a toxina da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) incorporada ao seu DNA, a qual mata essas pragas ao consumirem suas folhas. 
Chama atenção a velocidade do avanço das sementes Intacta, desde seu lançamento no mercado em 2013/14, quando o plantio foi adotado por apenas 4% dos produtores, chegando a 25% na safra seguinte e 48% na safra atual. Estima-se que o cultivo da soja Intacta poderá alcançar 70% na próxima safra, dada a aceitação dos sojicultores pelo controle biológico exercido pelas novas cultivares Bt, consideradas por muitos, como mais produtivas que as variedades tradicionais. No entanto, a eventual maior produtividade das cultivares Bt não pode ser atribuída à incorporação do gene que codifica a toxina da bactéria Bt, mas, provavelmente, a outras características genéticas das linhagens que receberam o gene. 
O avanço no cultivo da soja Intacta está ocorrendo, principalmente, à custa da soja RR, cujo cultivo, no Brasil, estava próximo dos 90% nas safras 2010/11, 2011/12 e 2012/13, caindo para 46% em 2015/16. A continuar no ritmo atual de adoção, dentro de poucos anos as cultivares Intacta estarão absolutas no mercado brasileiro, a menos que o produtor inviabilize a tecnologia deixando de adotar o refúgio ou que os detentores da tecnologia decidam extrapolar nos preços cobrados pela sua semente. O controle que o Bt exerce sobre essas lagartas reduz significativamente o número de aplicações de inseticidas, podendo reduzi-las a zero, caso não haja a presença de outras lagartas-praga não controladas pelo Bt (lagarta Spodoptera, por exemplo) e os percevejos. Com menos inseticida, o custo de produção é menor e o dano ambiental, também.
É necessário enfatizar a importância do agricultor adotar o refúgio como estratégia de preservação da tecnologia Intacta, evitando, assim, o surgimento de lagartas resistentes à toxina. O refúgio consiste em ter áreas de soja não Bt (convencional ou RR) no entorno da soja Intacta. As lagartas presentes nas áreas de refúgio devem ser controladas com produtos biológicos-não Bt ou com inseticidas seletivos, utilizando o Manejo Integrado de Pragas. Também, deve-se evitar a eliminação completa das lagartas presentes no refúgio, para que os adultos sobreviventes (mariposas) possam acasalar com os adultos das lagartas resistentes que porventura sobreviveram na lavoura de soja Intacta. 
As mariposas sobreviventes da lavoura com soja Intacta são resistentes à toxina Bt e, se acasalarem com as mariposas suscetíveis provenientes do refúgio, seus descendentes morrerão intoxicados pela toxina Bt.  Por outro lado, não havendo a opção de mariposas suscetíveis por perto, as mariposas resistentes da lavoura Intacta acasalarão entre si, resultando numa nova população de lagartas, todas resistentes à toxina Bt e, portanto, imunes ao controle da soja Intacta. 
A não utilização do refúgio no milho reduziu a eficiência do “milho Bt” para controle das lagartas. Portanto, é importante o agricultor ficar atento para que isso não ocorra também com a soja.

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