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Fale pouco e bem e ter-te-ão por alguém


Amélio Dall’Agnol
Os humanos, possuímos uma das mentes mais complexas do reino animal, o que interfere no nosso comportamento. Somos afetados, positiva ou negativamente, pelos indivíduos com os quais compartilhamos o ambiente. Freud explica: “o caráter de um homem é formado pelas pessoas com quem ele convive”. 
Somos todos diferentes, não apenas fisicamente, mas também na maneira como agimos, que externa o que somos internamente, que não é visto mas pode ser percebido pelas atitudes e manifestações que protagonizamos. 
A ninguém é oferecido o privilégio de escolher as pessoas com quem compartilhará o meio. Na maioria das vezes somos forçados a conviver com quem o destino nos coloca no caminho, que poderão ser pessoas agradáveis ou inconvenientes. Quem já não se aborreceu com interlocutores que falam pelos cotovelos, não escutam o que dizes, falam muito de si mesmos, e parecem evitar o fôlego para não oferecer-te a oportunidade de interrompe-los? Não dizem nada que seja do teu interesse, mas você se vê na contingência de escutá-los, para não parecer indelicado. 
Toda vez que me defronto com tagarelas desagradáveis, busco me analisar para saber se não sou assim também. Concluí que talvez não seja mais tão inconveniente quanto já fui, pois a idade me ensinou alguma coisa, alertando-me, entre outros cuidados, a não buscar o protagonismo que eu não tenho e nunca tive. 
A sabedoria vem do escutar; do falar vem o arrependimento, ensina um proverbio do Velho Continente. Dizem que até o tolo quando se cala é tido por sábio, porque o seu silêncio é interpretado como atitude de alguém que está pensando.
Quando li o livro “Infância” de Graciliano Ramos, anotei a frase que dá título a este artigo, porque ela mexeu com lembranças remotas do meu passado vivido no interior. Fez-me recordar das inúmeras vezes que banquei o idiota falando muito e mal, em eventos sociais ou de trabalho. Lembro-me, por exemplo, de um encontro familiar, na minha própria casa, quando tive a infeliz iniciativa de comentar algo inconveniente sobre uma família, cujos membros estavam presentes e me escutando. Quem muito fala se arrisca a dar bom dia para cavalo, gosta de repetir o meu sogro, lá de Brasília.
Além das próprias idiotices que protagonizei, fui testemunho do ridículo pelo qual outras pessoas passaram no meu entorno, tentando fazer-se engraçadas com comentários inapropriados a respeito de fatos ou de pessoas e eventualmente constrangendo ouvintes relacionados a elas, o que nos reporta ao velho ditado: “por apenas falar e pouco pensar, as pessoas cometem erros difíceis de reparar”, o que comprova o que disse Freud: “o homem é dono do que cala e escravo do que fala”.
Comenta-se que o tagarela não escuta o que os outros falam porque está ocupado demais pensando no que dirá seguidamente. Quando parece estar te escutando, está, na verdade, apenas atento esperando que pauses a fim de retomar a palavra e continuar a tecer autoelogios. 
Não é fácil ficar calado, mas pior é falar sem ter o que dizer. Quando falares, ensina um proverbio oriental, cuida para que as tuas palavras sejam melhores do que o teu silêncio, ao que Abraham Lincoln, ex-Presidente do Estados Unidos acrescentou: é melhor calar-se e deixar os outros pensando que somos tolos, do que falar e acabar com essa dúvida. 
Fale pouco e bem, sem falar mal de ninguém, eis um bom conselho que nos chega da sabedoria popular, ciente de que “aquele que contigo fala dos defeitos dos outros, com os outros fala dos teus” (Diderot, filósofo francês).

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