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Multilateralismo: um novo cenário (Final)


Argemiro Luís Brum

A partir do quadro exposto no comentário passado, destaca-se que a reunião do G20 mostrou uma nova recomposição de forças, com a Alemanha, França e China, seguidos de diversos outros países, inclusive o Brasil, defendendo o livre mercado e a continuidade das relações multilaterais globais, contra os interesses protecionistas dos EUA, Rússia e alguns outros seguidores.

Tal embate está apenas começando! Os aliados tradicionais dos EUA parecem iniciar uma estratégia de “represamento” aos interesses atuais do governo norte-americano. Tal estratégia passaria pelo recurso aos atores não-estatais, à sociedade civil, às empresas, às cidades, visando contrabalançar as decisões de Trump. Tal esforço já foi notado por ocasião das reações quanto à saída dos EUA do acordo de Paris sobre o clima e, agora, ficaram nítidos na reunião do G20 em Hamburgo (Alemanha).

A derrota política dos extremistas de todos os matizes, em países como a Holanda e a França, mostra que o mundo reage ao atraso. Isso abre novamente um grande espaço para o avanço do livre comércio positivo, com maiores integrações comerciais regionais e inter-regionais. É neste contexto que, se espera, o Mercosul venha a se reestruturar, pois um acordo comercial com a União Europeia ficou novamente mais próximo, após a paralisação das negociações desde 2004.

Espera-se aumentar o intercâmbio comercial entre as partes na razão de 50% ao que hoje existe. Portanto, a reação mundial ao protecionismo populista que começa a ser implantado nos EUA, e que afundou a economia de muitos países latino-americanos ultimamente, é salutar. Afinal, se não fosse o mercado externo, a lenta recuperação da economia brasileira, neste momento, estaria longe de ocorrer. Tanto é verdade que nos anos de 1990 nosso país possuía apenas 70 acordos comerciais, os quais cobriam menos de um terço de nosso comércio externo.

Hoje, tais acordos chegam a 400 e atingem a dois terços de nosso comércio com o mundo. Enfim, em termos mundiais, ganha espaço novamente a ideia do Estado do Bem-Estar Social, pois quanto mais eficiente ele for mais a globalização é aceita. A questão é que, para uma nação construir um Estado deste tipo, profundas reformas em seu funcionamento, estrutura e composição de interesses sociais e políticos devem ser realizadas.

Quem não as fizer ficará marginalizado, deixando uma minoria usar o poder político em benefício próprio, a partir da manutenção deliberada do atraso cultural, educacional, social e econômico dos seus cidadãos. Os acontecimentos dos últimos anos no Brasil cristalizam muito bem como isso é praticado e o quanto representa de perdas para a Nação, diante de um mundo cada dia mais globalizado e em mutação permanente. Mundo este que busca, justamente, a superação desta realidade retrógrada que hoje tentamos superar em nosso país. 

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