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O PIB chinês e as exportações brasileiras de soja


Amélio Dall’Agnol
A China transformou-se no maior parceiro comercial do Brasil, tanto no volume que exportamos (18% do total), quanto no que importamos (16,3% do total). Mais de 70% do grão de soja que exportamos vai para a China, cujo ritmo de crescimento do seu PIB vem caindo desde 2011, o que gerou justificada preocupação entre os sojicultores brasileiros, pela possibilidade de a China reduzir a demanda pelo grão, com a consequente sobreoferta do produto no mercado global e a queda do preço. 
O PIB chinês cresceu consistentemente acima de 8% ao ano no período 2000 a 2011, com pico de incríveis 13% em 2007. Nesse período, as importações de soja pela China cresceram 600%: 10 milhões de toneladas (Mt), em 2000 vs. 60 Mt, em 2011. A partir desse ano, o crescimento do PIB chinês desacelerou, caindo para 6,9% em 2015, enquanto que as importações de soja no período seguiram o caminho inverso: foram de 60 Mt (2011) para, aproximadamente, 83 Mt (2015), indicando que a demanda de soja por parte da China cresceu, independentemente da magnitude do crescimento do seu PIB.  
A queda do crescimento do PIB chinês para “apenas” 6,9% ao ano, não deve preocupar os produtores brasileiros de soja, pois a demanda por alimentos dessa nação asiática de 1,35 bilhões de pessoas (mais do que as três Américas juntas) continuará crescendo e demandando mais alimentos, principalmente soja e milho, a principal matéria prima para a produção das carnes de suíno e de frango, que têm a China como 1º (mais de 50% da produção) e 2º produtor mundial. A carne suína, é bom lembrar, é a mais consumida no mundo (105 Mt), seguida da carne de frango (80 Mt) e da bovina (60 Mt). Os chineses consomem toda a carne que produzem e, adicionalmente, figuram como grandes importadores.
Grandes produtores de carne são, via de regra, grandes produtores de soja e de cereais, geralmente milho. A China é um grande produtor de carnes, embora não seja um grande produtor de soja, cuja dependência do mercado externo é enorme. Mas a China é o maior produtor global de grãos (607 Mt), seguida pelos EUA (560 Mt), Índia (500 Mt) e Brasil (209 Mt). 
A renda per cápita dos chineses ainda é menor que a do Brasil, mas cresce numa velocidade muito maior. Nossas supersafras de grãos poderão, portanto, continuar crescendo sem temor de sobreoferta, não só por conta do mercado chinês, mas, também, pela demanda de outros países em desenvolvimento (Índia, por exemplo), cuja renda não cresce no ritmo chinês, mas cresce. O aumento da renda da população está mudando seus hábitos alimentares, que passa a consumir menos grãos e mais carnes, feitas a partir da soja e do milho, os grãos mais produzidos pelo Brasil: 86% da produção nacional.
O que o Brasil precisa temer, mais do que a queda do PIB chinês, é o custo de logística, particularmente o transporte, que quando comparado com o do nosso principal competidor (EUA), a diferença é gritante: a melhor rota dos EUA para alcançar os portos chineses (Pacífico Norte) percorre 11.900 km, demora 28,6 dias e custa U$ 90,24/t. A nossa melhor rota (Porto de Santos) para alcançar os mesmos destinos percorre 21.800 km, demora 61,7 dias e custa US 124,30/t. Ademais, o nosso custo interno para levar o produto até o Porto de Santos é muito maior, porque utilizamos principalmente rodovias, enquanto os EUA utilizam majoritariamente o transporte fluvial, que corresponde a uma quarta parte do custo do rodoviário.
Outra preocupação que deveria inquietar os brasileiros, quanto ao comércio bilateral com a China, é o tipo de mercadoria que intercambiamos com eles: exportamos commodities, cujo valor agregado é baixo e importamos produtos industrializados, com alto valor agregado. 
Apesar disso, a China tem sido a principal alavanca do bom desempenho econômico do Brasil no período 2000/12, pela enorme demanda de minério de ferro e de soja, principais itens na pauta das exportações brasileiras. Seria desejável que essa demanda continuasse aquecida, mesmo com um PIB menor. A demanda de soja continua em alta, já a do minério de ferro arrefeceu.

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