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Porque o Brasil não prospera mais


Amélio Dall’Agnol

Nosso Planeta conta atualmente com 196 países, muito desiguais entre si no que concerne ao seu atual estado de desenvolvimento econômico e social, embora, nos séculos XVIII e XIX, eram muito semelhantes, todos vivendo na extrema pobreza. A partir dessa época, no entanto, algumas dessas nações prosperaram, enquanto outras ficaram estagnadas ou involuíram, fazendo com que as 25 nações mais prósperas do Planeta usufruam de uma renda média per capita anual de cerca de US$ 100.000,00 contra apenas US$ 1.000,00 anuais, ou até menos, das 20 nações mais miseráveis.  O Brasil não figura entre as 25 nações mais prósperas e nem entre as 20 nações mais pobres, embora, por sua riqueza em recursos naturais, poderia estar entre as mais desenvolvidas, se não tivesse perdido as oportunidades que se apresentaram ao longo dos séculos. 

Desde os seus primórdios, o Brasil é decantado como o país do futuro, sonho que nunca se realizou, com exceção, talvez, do setor agrícola que, no correr das três últimas décadas prosperou, deixando o resto do Brasil para trás. Segundo matéria veiculada no You

Tube, análises realizadas sobre os motivos que levam uma nação a prosperar e outras a estagnar, apresenta três causas principais, responsáveis por 80% do impacto. A primeira delas é a de maior importância (50%) e diz respeito ao funcionamento das instituições, as responsáveis por definir as regras do jogo de uma sociedade e gerir seus recursos. O desempenho delas é bastante influenciado pela herança recebida dos fundadores dessas sociedades, cujo maior ou menor empenho no respeito às regras do jogo desenvolveu sociedades prósperas e funcionais ou sociedades falidas. 

Corrupção é um dos principais freios ao desenvolvimento de uma nação e é um indicativo de que onde ela vigora, as instituições não funcionam. A correlação entre a corrupção e a pobreza é direta. Os países mais desenvolvidos são os menos corruptos e os mais miseráveis são, também, os mais corruptos. É regra nas nações mais pobres, que o poder seja exercido por um clã familiar ou político, onde os cargos gerenciais mais importantes são exercidos, não pelos cidadãos mais qualificados da comunidade, mas pelos mais próximos ou mais comprometidos com o clã dominante. Por causa disso, nações ricas em recursos naturais, mas com instituições disfuncionais, podem ter um restrito grupo de bilionários e o restante da população, miserável e sobrevivendo em piores condições do que nações desprovidas de riquezas minerais abundantes, mas com instituições funcionais. É a maldição do petróleo e outros recursos minerais. Exemplos claros de países com essa realidade são encontrados no continente Africano, com destaque para o Congo.

A segunda causa que mais afeta o desenvolvimento de uma nação, com peso de 20% sobre a performance dessa sociedade, é a cultura da população, a qual tem muito a ver com suas crenças religiosas. A intensidade com que o cidadão segue os princípios da fé religiosa pode leva-lo a desestimular-se pela busca da prosperidade, acreditando que não tem chance de prosperar e que seria melhor esperar pela recompensa que terá em outra existência, onde os ricos serão castigados, pois “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”, ensina a Bíblia. Em países desenvolvidos, a competência pessoal, dedicação ao trabalho e recompensa financeira estão acima das crenças religiosas. A prosperidade é encarada como uma conquista apoiada por Deus.

A terceira causa que leva uma nação a prosperar ou fracassar, e que tem peso de cerca de 10% na trajetória de desenvolvimento de uma sociedade, tem a ver com a geografia do país. O estudo indica como desvantagem a localização de um país próximo à linha do equador, dada a infertilidade e acidez dos solos tropicais e a maior ocorrência de pragas e doenças, que desfavorecem a produção agrícola, resultando em baixa produtividade, miséria e a fome. Em zonas tropicais as enfermidades humanas também são favorecidas e estão presentes em maior número e agressividade, desfavorecendo a força de trabalho. Por outro lado, rios navegáveis cortando o território ou território provido de uma costa marítima extensa contam positivamente para um maior desenvolvimento. Os restantes 20% são explicados por outras causas de menor impacto individual.

A percepção que os analistas tiveram de que em regiões tropicais predomina a baixa produtividade por causa da pouca fertilidade do solo e do ataque mais intenso de insetos-praga e doenças, é verdadeiro, mas não se aplica ao Brasil atual, que pode ser considerado uma exceção entre as nações tropicais de baixa latitude. A eficiência do Brasil na produção agrícola em tais condições, resultado da geração e disponibilização de um conjunto de tecnologias adaptadas para regiões tropicais é capaz de gerar a mesma quantidade de produto por unidade de área do que os solos localizados em regiões subtropicais ou temperadas. Graças a esses desenvolvimentos, o

Brasil, não apenas se autoabastece de produtos agrícolas, como gera excedentes exportáveis equivalentes a três vezes o consumo interno.

O Brasil é favorecido em recursos naturais (petróleo e minérios), tem 8.000 km de costa marítima, tem milhares de km de cursos d’água navegáveis e desenvolveu uma agricultura tropical pujante, exemplo para o resto do mundo. Isto, no entanto, não está sendo suficiente para torna-lo um país próspero. Aparentemente, o que faz falta ao nosso país é a funcionalidade das instituições políticas, jurídicas, sociais e econômicas. Para que se torne mais próspero faz-se necessário realizar as reformas a muito tempo demandadas e sempre postergadas no âmbito do legislativo, do executivo e do judiciário. As reformas econômica, política e da previdência já chegam com atraso, se vierem antes do colapso do sistema.

“É necessário pouco mais do que paz, impostos fáceis e uma boa administração da justiça para levar um Estado do barbarismo mais baixo ao mais alto grau de opulência; todo o resto será trazido pelo curso natural das coisas” (Adam Smith, em “A riqueza das nações”).
 

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