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Rios aéreos e o clima do Brasil


Amélio Dall’Agnol

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa

Rios aéreos ou rios voadores são imensas massas de vapor de água que circulam invisíveis na atmosfera, propelidos pelos ventos. A umidade contida nesses rios precipita na forma de chuva quando encontra condições meteorológicas propícias, como uma frente fria, por exemplo. 

O principal rio voador do Brasil tem origem na franja equatorial do oceano Atlântico (nordeste brasileiro), viaja para oeste rumo à Região Norte movido pelos ventos elísios e aumenta significativamente de volume ao incorporar a umidade da evapotranspiração da floresta amazônica. Parte dessa umidade cai como chuva sobre a mata tropical, que depois retorna à atmosfera como vapor de agua, dando início a um novo ciclo hídrico. Outra parte segue até encontrar a barreira da Cordilheira dos Andes, desde onde escorrega rumo ao sul do Brasil, promovendo chuvas nas regiões Centro Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina. Sem essa umidade, o centro-sul brasileiro seria alguma coisa parecida a um deserto. A Região Nordeste, apesar de ser o berço do rio aéreo amazônico, pouco se beneficia do mesmo.

Estima-se em 200 milhões de litros/segundo o volume de vapor de água que evapora da floresta amazônica e é transportada pelos rios aéreos da região. Esse volume de água, embora invisível, pode ter a mesma ordem de grandeza da vazão do rio Amazonas. Sem o acidente geográfico representado pela Cordilheira dos Andes, essa umidade seria conduzida para outros países ou para o mar, prejudicando o Brasil, que seria um país diferente; certamente pior. A floresta amazônica, possivelmente, não existiria sem a presença do enorme paredão de 4 km de altura da Cordilheira, que devolve a umidade para o interior do Brasil, inibindo a formação de desertos em nosso território.

Embora o rio aéreo amazônico seja o maior do Brasil, há duas dezenas de outras correntezas aéreas carregadas de vapor de água que cruzam o espaço aéreo brasileiro, a uma altura não superior a três km e responsáveis por chuvas que caem em diferentes pontos do território nacional. O próprio Rio Amazonas é resultado das precipitações da umidade contida nos rios aéreos que transitam sobre a região. 

Parte da umidade do rio aéreo amazônico que chega à Cordilheira dos Andes não é rebatida de volta ao continente, mas congelada no topo dessas montanhas, dando início aos inúmeros afluentes do Rio Amazonas, a partir do seu degelo. 

Os rios aéreos não são um privilégio do Brasil. Eles respondem pela maioria das precipitações pluviométricas que ocorrem pelo mundo. O clima brasileiro é muito dependente dos rios aéreos formados a partir da evapotranspiração da grande floresta tropical. Se o Brasil não tem desertos, ao contrário da maioria dos países de dimensões continentais como o nosso, devemos ao enorme volume de vapor de água que transita sobre nosso território, proveniente da floresta amazônica. 

A floresta amazônica é um patrimônio brasileiro que precisa ser preservado. Se bem possa parecer um desperdício deixar esta imensa reserva intocada, ela rende bilhões de dólares anuais em benefícios indiretos.
 

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