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Saímos da recessão, não da crise


Argemiro Luís Brum

No final do mês de outubro o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CoDaCE), grupo independente formado por sete economistas brasileiros com “notório conhecimento em ciclos econômicos”, informou que finalmente, em 2017, o Brasil saiu da recessão econômica. Esta informação foi acompanhada de alguns importantes pontos complementares que confirmam nossas análises passadas:

1) esta última recessão brasileira durou bem mais tempo, tendo iniciado em 2014. Sua duração, portanto, foi de 11 trimestres ou 33 meses;

2) a perda acumulada no PIB brasileiro foi ainda maior do que se pensava, tendo chegado a 8,6% no período (não é por nada que se considera, esta, a maior recessão da história);

3) a recuperação iniciada já a partir de janeiro/17 destoa do padrão observado em outros momentos recessivos, pois é muito lenta;

4) em função desta lenta recuperação o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), informa que, considerando o aumento populacional no período, o país somente irá recuperar a situação de 2014, no ano de 2022;

5) tal recuperação, todavia, dependerá do ritmo anual de retomada a partir de agora. Para ser mais exato, precisaríamos crescer 4,3% ao ano a partir de 2019 para, em 2022, voltarmos ao estágio de 2014. Ou seja, no somatório jogamos fora, no mínimo, oito anos. É bom lembrar que se espera crescimento de 0,7% em 2017 e 2,6% em 2018;

6) o movimento de recuperação está se dando muito mais devido a um cenário externo favorável, onde o crescimento econômico está sendo retomado e os juros ainda continuam muito baixos, do que em função do cenário interno, o qual continua com muitas incertezas em função de uma crise política sem fim, além da enorme indefinição quanto ao que virá com as eleições presidenciais de 2018. Como já cansamos de alertar, sem um real ajuste fiscal, o qual depende da concretização das reformas estruturais, a recuperação da economia brasileira poderá se transformar em voo de galinha daqui a três anos;

7) para corroborar o ponto anterior, fica claro que a saída da recessão está se dando sem investimentos. Ora, sem investimentos estruturais, não há crescimento que se sustente no tempo;

8) enfim, um dos membros do CoDaCE confirma o que já se sabia há muito tempo: “A estratégia (do governo Lula) para sair rapidamente da recessão de 2008/2009 (provocada pela crise internacional) gerou desequilíbrios que provocaram essa recessão longa e profunda pela qual passamos e têm de ser corrigidos. O tempo necessário para isso se traduz em saída lenta.” (cf. ZH-31/10/2017, pp. 10 e 12). E isto se o dever de casa, representado particularmente pelo ajuste fiscal, for realizado. O risco é enorme de as reformas não se realizarem a contento e, portanto, tal ajuste fracassar, como aliás fracassou ao longo de 2017. Em resumo, a recessão terminou, porém, a situação de crise econômica continua! 

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