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Soja: a realidade


Argemiro Luís Brum

A realidade econômica da atual safra de soja, pelo menos aqui no Rio Grande do Sul, e com as estatísticas existentes até o início de março, não permite ufanismos. É verdade que a colheita será cheia, devendo ficar ao redor de 16,5 milhões de toneladas no estado. Tal volume será um pouco maior do que o do ano passado. Ao mesmo tempo, a produtividade média esperada, por enquanto, é idêntica (3.020 quilos/hectare). Assim, pelo lado físico a safra é excelente.

Porém, pelo lado econômico o quadro médio é pior. Se é verdade que Chicago trabalha com cotações bem melhores na atualidade (os primeiros 62 dias do ano registram a média de US$ 10,28/bushel neste ano, contra US$ 8,62 no mesmo período de 2016), também é verdade que o Real se valorizou muito no período. Nossa moeda, considerando o período dos primeiros 62 dias do ano, passou da média de R$ 4,01 em 2016, para apenas R$ 3,15 em 2017.

Resultado: o preço médio da soja no balcão gaúcho, que no ano passado foi de R$ 72,94/saco no período considerado, hoje é de R$ 66,40/saco. Isso representa um recuo nominal de 9%. Considerando a inflação oficial dos últimos 12 meses, a perda real no preço da soja sobe para quase 15% neste ano. Enfim, segundo dados da Embrapa e da Farsul, o custo de produção operacional médio subiu de R$ 48,23/saco no ano passado, para R$ 54,00 na atual safra. Isso significa que o custo operacional médio por hectare chega a R$ 2.718,00 neste ano, contra R$ 2.428,00 no ano passado.

Um aumento de 12%! Dito de outra forma, diante dos preços médios de balcão praticados, a receita líquida média operacional dos produtores gaúchos de soja recua, neste ano, em torno de 50% (passa de R$ 1.243,07/ha em 2016, para R$ 623,91/ha em 2017). É claro que os produtores que obtiverem uma produtividade maior, em relação à média projetada, terão melhores resultados. Ou, se a média final deste ano for maior, o resultado final melhorará.

Mesmo assim o resultado econômico final tende a ser menor neste ano. Por sua vez, aqueles produtores que venderam antecipadamente parte de sua safra, a preços superiores até o momento, também melhoram seu resultado líquido final. Mas, neste ano, até o início de março, apenas 24% da safra havia sido negociada antecipadamente no estado, enquanto na mesma época do ano passado o percentual era de 40% (cf. Safras & Mercado).

Assim, um número significativo de produtores gaúchos de soja está ameaçado de obter um resultado econômico bem abaixo do obtido em 2016. Portanto, a atual safra, sem dúvida positiva em termos físicos, nos coloca uma realidade econômica muito menos atraente. A mesma ajuda, mas será insuficiente para alavancar a economia na proporção que muitos esperam e todos gostariam que ocorresse.

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