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Manejo e Utilização de Pastagens Tropicais


Newton de Lucena Costa

As plantas forrageiras apresentam duas características principais que as tornam extremamente viáveis para a exploração pecuária: a sua capacidade de recuperação após  o pastejo e  o seu valor nutritivo. O pastejo é um processo impactante sobre a planta, pois remove suas folhas, elimina os meristemas apicais, reduz a reserva de nutrientes da planta e promove mudanças na alocação de energia e nutrientes da raiz para a parte aérea, a fim de compensar as perdas de tecido fotossintético. Contudo, promove benefícios às plantas pelo aumento da penetração da luz dentro do dossel, alterando a proporção de folhas novas, fotossinteticamente mais ativas, pela remoção de folhas velhas e ativação dos meristemas dormentes na base do caule e rizomas. A habilidade das plantas em sobreviver e crescer em sob pastejo decorre de dois mecanismos: escape e tolerância. O primeiro envolve mecanismos para reduzir e evitar a severidade da desfolha e  o segundo mecanismos para promover crescimento sob condições de  desfolha  Os mecanismos de escape são constituídos de atributos da arquitetura da planta, dissuasão mecânica e compostos bioquímicos que reduzem a acessibilidade e palatabilidade dos tecidos da planta, enquanto que os de tolerância constituem-se de processos fisiológicos capazes de promover o crescimento após desfolha.

A intensidade de pastejo determina a amplitude das respostas plásticas que as plantas têm que desenvolver e também a escala de tempo que dispõem para adaptar-se a  mudanças  no ambiente, podendo ser mensurado através do IAF remanescente. O pastejo afeta a fisiologia das plantas desfolhadas e exerce um efeito indireto na modificação do micro- ambiente das plantas vizinhas. Desfolhas intensas induzem a menor eficiência fotossintética inicial das folhas que, sendo o tempo diretamente proporcional à sua severidade. Quanto maior a intensidade de pastejo, menor é a taxa inicial de rebrota e maior é o tempo necessário para que a planta atinja sua máxima  eficiência fotossintética e sua máxima taxa de crescimento. A adoção de diferentes intensidades de pastejo promove modificações na estrutura da pastagem. Incrementos na intensidade de sua desfolha podem resultar em pastagens com estrutura mais prostrada, o que pode contribuir para a prevenção do alongamento dos entre-nós, aumentando a relação folha:colmo.

A freqüência de pastejo também interfere na estrutura subseqüente do pastagem. Sob desfolhas freqüentes há pouca competição por luz, as plantas podem desenvolver uma resposta fotomorfogênica em resposta a um micro-clima  com altas intensidades luminosas. Nessa situação, as plantas desenvolvem folhas pequenas e alta densidade populacional de perfilhos. Sob baixa freqüência de desfolha, a competição por luz aumenta durante o período de rebrota e nesse caso, as plantas desenvolvem folhas maiores e pequena densidade populacional de perfilhos. O padrão de desfolha depende primariamente do método de pastejo empregado. A intensidade de desfolha é diretamente dependente da taxa de lotação e da duração do período de pastejo, ambos determinados pelo método de manejo. O pastejo contínuo cria uma situação onde o processo de desfolhação é lento o suficiente para permitir uma simultânea reconstituição da camada pastejada enquanto que, em pastejos rotativos, os processos de desfolha  e rebrota são mais claramente separados no tempo e distinguíveis.

Em síntese, a utilização da forragem pode ser analisada em termos de balanço entre o seu crescimento e o consumo exercido pelos herbívoros em pastejo. A eficiência de utilização da forragem, em sistemas de pastejo, corresponde a proporção de forragem disponível que é consumida pelos animais antes que se inicie o processo de senescência. A otimização da eficiência de utilização da pastagem requer o conhecimento da DVF e a compreensão dos fatores que influenciam a severidade de desfolhação. No pastejo contínuo há um conflito entre a manutenção de altas taxas de crescimento, associada a elevados índices de área foliar, e a maximização da forragem consumida,  decorrente  da utilização de altas taxa de lotação e maior freqüência de desfolha. Na resolução desse impasse, a manutenção de um IAF entre 2 e 4, em sistemas  rotacionados, permitiu o  equilíbrio  entre esses dois objetivos, sendo as rotações realizadas no momento em que o acúmulo líquido de forragem eram máximos. Para pastagens manejadas sob lotação intermitente, uma maior intensidade de pastejo contribui diretamente para uma utilização mais eficiente da colheita de forragem disponível e, indiretamente, para a redução nas perdas por senescência e morte de tecidos no período de rebrota, contudo há uma redução na eficiência de utilização, ou seja, produto animal produzido por unidade de forragem acumulada por área, o que introduz o conceito de conversão da forragem ingerida em produto animal.

Newton de Lucena Costa (Embrapa Roraima, Boa Vista Roraima), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte, Parnaíba, Piauí)

 

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