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O agricultor em tempos de carestia


Amélio Dall’Agnol

Durante os primeiros anos desta década, boa parte dos agricultores brasileiros trabalhou pesado, mas ficou mais pobre, como resultado dos baixos preços pagos pelos produtos agrícolas. O produtor se descapitalizou e uma crise de inadimplência e de desânimo se estabeleceu no campo.

Em 2003, em razão de uma intensa estiagem que atingiu os Estados Unidos - maior produtor mundial de soja - a safra desse grão no país foi reduzida em mais de 10 milhões de toneladas. O preço da saca de soja reagiu na segunda metade desse ano e recebeu um novo impulso de alta no primeiro semestre do ano seguinte, quando outra estiagem - agora no sul do Brasil - acrescentou mais cinco milhões de toneladas às perdas mundiais de soja do período 2003/04.

No campo era só alegria. Muitos sojicultores amealharam pequenas fortunas no período com a comercialização da safra. Outros amargaram prejuízos porque guardaram a soja apostando em preços ainda maiores, e acabaram vendendo já com o preço em queda. Viram os preços despencarem para menos da metade dos vigentes no auge da alta, deixando frustração e desespero até entre aqueles que venderam a soja, mas investiram tudo na compra de mais terra, máquinas e veículos, comprometendo, inclusive, hipotéticos rendimentos de futuras safras.

Em 2007 e até meados de 2008, nova onda de preços altos dos produtos agrícolas reanimou os produtores rurais. Em plena euforia desse momento escrevemos, neste mesmo espaço, um artigo titulado: “O agricultor em tempos de fartura” e advertíamos o agricultor sobre a conveniência dele proteger-se contra déficits futuros, não comprometendo os superávits daquele bom momento e assim evitar os contratempos enfrentados em 2004, quando os bons preços pagos pela soja haviam sido mal aplicados ou o lucro não fora realizado pela ganância do produtor, que reteve a safra na esperança de faturar mais. Ou, ainda pior, a safra fora retida, mas os potenciais lucros de sua venda futura foram comprometidos com a aquisição de bens, gerando prestações impagáveis com a nova realidade de preços.

Questionávamos, em 2008, uma atitude bastante comum entre os produtores rurais, que é a de preferir utilizar os eventuais lucros de uma boa safra na compra de mais terra, ao invés de investir em mais tecnologia na terra que já possui. Os dividendos financeiros de uma área menor bem administrada, muito provavelmente serão maiores do que os de uma área maior, mas com manejo deficiente.

Produtor, os fatos teimam em se repetir: euforias são seguidas por frustrações. Altas e baixas se alternam. Se você não aproveitou surfar na boa onda de 2003/04 e também perdeu a de 2007/08, fique esperto porque estamos surfando numa nova onda, que já persiste por algumas safras. Administre bem esses ganhos extras dos tempos de fartura para socorrer-te nos tempos e carestia.

Tudo o que sobe, um dia desce. Esse dia pode ser amanhã, o próximo ano ou a década vindoura. Ninguém adivinha o futuro. Quem tenta fazê-lo está, na verdade, apenas dando um palpite, muitas vezes errado, infelizmente.

 

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