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O desafio da soja


Dirceu N. Gassen

             A agricultura brasileira experimentou mudanças dignas de destaque na história da evolução do agronegócio.  Desenvolveu tecnologias para climas tropicais e subtropicais, inexistentes em outras partes do mundo, com méritos à pesquisa e aos órgãos de transferência de informações.

            O sistema de produção organizado na década de 1970, com atribuições definidas para a pesquisa, extensão e interferência do Estado no financiamento e comercialização determinaram a expansão de área da cultura da soja no Brasil.

            A necessidade de preservar o ambiente e de reduzir custos levou produtores inovadores a adotar o plantio direto, com o mérito de reduzir em mais de 90 % a erosão do solo e em 60 % o consumo de combustível, além de manter e melhorar a fertilidade e restabelecer intensa atividade biológica no solo.

            O esforço dos agricultores foi insuficiente para a viabilidade econômica da produção rural, diante da combinação de fatores adversos do mercado aberto e da relação de câmbio da moeda brasileira.  Para a maioria dos agricultores o negócio de produção de grãos, com base na safra de 2006, tornou-se inviável.

            A economia mundial, as relações de negócios e as garantias do governo à produção mudaram nas últimas décadas, exigindo nova postura dos produtores rurais.  Passou a fase de dependência de governos ou de apoio externo.  Chegou o momento da organização profissional e comprometida dos componentes das cadeias de produtos no agronegócio.  Se não houver comprometimento e organização entre agricultores dentro do País, com certeza os compradores de soja ou os concorrentes na produção serão os maiores beneficiados.

            O Brasil, a Argentina e os Estados Unidos produziram 79,2% da soja do mundo, no período entre 1990 e 2005.  O grão de soja contém aproximadamente 40% de proteína e não há outra cultura que possa ser cultivada em escala, nem disponibilidade de área de terras com clima que possam substituir a produção de soja.

            Parece tão evidente que os produtores de soja deveriam trabalhar em conjunto, com parcerias efetivas, objetivando fazer o melhor negócio com os clientes, que são os países asiáticos (China e Índia) e a Comunidade Européia.  Os Tigres Asiáticos inundam a América com produtos industrializados, com base na mão-de-obra barata e em impactos negativos sobre o ambiente.

Produção de soja na Argentina, Brasil, Estados Unidos, soma dos três países e total no mundo (várias fontes). Clique aqui para ver o gráfico.

            O Brasil e a Argentina produzem com a melhor tecnologia de proteção de recursos naturais (plantio direto), sem proteções e subsídios governamentais e a comercialização é submetida à capacidade de barganha dos países compradores.

            É o momento estabelecer novas estratégias, organizando os produtores de proteína à semelhança da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) com a mesma sigla (Organização dos Países Exportadores de Proteína) se posicionando de forma determinada e previsível para o negócio de alimentos.

            Os três maiores produtores e exportadores de soja (Brasil, Estados Unidos e Argentina) unidos teriam a possibilidade de organizar a produção e posicionar políticas de preço praticadas nas estratégias de negócios internacionais.  O Brasil deveria começar pelo fortalecimento da Associação dos Produtores de Soja, como representante e interlocutor do negócio.

            Nesse momento, não é uma opção, mas uma necessidade, organizar os paises exportadores de proteína.  É momento de agir com sabedoria, deixar disputas e interesses pessoais de lado e pensar em negócio de escala, em conjunto, buscando estabilidade, com a organização interna e parcerias efetivas e harmoniosas com a Argentina e com os Estados Unidos.

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