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O que pode a agricultura familiar?


Marcos Marques de Oliveira
Intercâmbio de jovens rurais constata o potencial da agricultura familiar brasileira Percorrendo o interior do país acompanhando os participantes do II Intercâmbio da Juventude Rural Brasileira, estou vendo com os próprios olhos o que uma pesquisa realizada pelo NEAD (Núcleo de Estudos Agrários) e pela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) já demonstrou: o setor agropecuário familiar contribui expressivamente para a geração de riqueza, considerando a economia não só do setor agropecuário, mas do próprio país.

De acordo com os dados do respectivo estudo, entre 1995 e 2005, o segmento familiar do agronegócio brasileiro respondeu por cerca de 10% do PIB brasileiro – parcela bastante expressiva, considerando-se que a participação do agronegócio situa-se ao redor de 30% do PIB da nossa economia. Depois dos mais de 30 mil quilômetros que percorri desde do início do projeto – de responsabilidade da Rede de Fortalecimento Institucional do Jovem Rural (RFIJR), capitaneada pelo Instituto Souza Cruz – compreendendo mais de 10 estados (RS, SC, PR, MS, GO, TO, MG, BA, MA e PA) e dezenas de cidades, posso afirmar que é notável a contribuição econômica da agricultura familiar para parcela expressiva da população brasileira. Isso sem contar sua "função social", se levarmos em conta sua capacidade de absorção e geração de emprego e sua importância na produção de alimentos voltados para o autoconsumo, o mercado interno e, cada vez mais, para as exportações. Porém, uma outra constatação que a experiência nos permiti fazer é sobre a heterogeneidade dos nossos "campesinos" – como um jovem baiano insistiu em me dizer em uma das Oficinas de Comunicação que ministrei durante o II Intercâmbio. Não falo aqui das diversidades "positivas", referentes aos costumes e hábitos culturais, nem mesmo das variações geo-climáticas naturais numa nação tão extensa como a nossa. Refiro-me aos diferentes níveis de empreendedorismo e inserção mercadológica que venho encontrando Brasil afora.

Entre tantas variáveis explicativas, três me parecem fundamentais. Em primeiro lugar, a agricultura familiar surge como mais pujante nas regiões de maior nível educacional. Em segundo, nos lugares em que o poder público (especialmente o estadual e o municipal) são parceiros efetivos dos pequenos e médios proprietários. E, por último, nas regiões em que, seguindo as experiências dos países capitalistas mais desenvolvidos, alguma espécie de "reforma agrária" foi realizada. Mesmo que devidamente e legitimamente encampada como bandeira pelas esquerdas brasileiras, é preciso sempre lembrar que essa reforma (assim como outras, tais como as educacionais, de saúde e previdenciárias) também compõe o ideário de várias vertentes do "liberalismo".

Creio que se essas condições puderem ser universalizadas, a agricultura familiar terá condições de ampliar ainda mais sua contribuição para o desenvolvimento social e econômico do país. Como afirmam os autores da pesquisa supracitada, vencidas as adversidades de insuficiência de capital e concentração de terras improdutivas destinadas à especulação, as dificuldades de financiamento, a baixa disponibilidade tecnológica e a fragilidade da assistência técnica – e ampliadas as experiências educativas, associativas e cooperativas que auxiliam o sistema familiar em algumas regiões – os resultados da agricultura familiar irão contribuir para a melhoria da qualidade de vida não só do campo, mas também de toda a nossa população urbana. E, como os mesmos lembram, isso não é, necessariamente, tarefa "governamental". É preciso que toda a sociedade – especialmente os seus setores mais progressistas e dinâmicos – reconheça as virtudes da agricultura familiar para que ela seja efetivamente estimulada a contribuir para o desenvolvimento sustentável da nação brasileira.

Conferir, no número 9 da Revista Marco Social, no site www.institutosouzacruz.org.br, o artigo de José Martins Guilhoto, Silvio Ichihara, Fernando Gaiger Silveira e Carlos Roberto Azzonia.

Mais informações sobre a iniciativa no site www.jovemrural.com.br.

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