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Um Brasil a ser descoberto


Marcos Marques de Oliveira

        E o II Intercâmbio da Juventude Rural Brasileira chega ao seu fim. Com a última etapa realizada na Paraíba, mais especificamente no Sítio Farias, território que abrange os municípios de Serra Branca e Parari, onde atua o Programa de Apoio à Educação Rural (PAER), foram 115 jovens que percorreram o interior do Brasil para conhecer diferentes projetos de desenvolvimento rural sustentável.

        De acordo com Maria Ieda Lopes da Silva, coordenadora da iniciativa, o objetivo foi favorecer a integração das juventudes rurais do país, estimular a troca de experiências entre eles para que uma nova imagem do campo brasileiro possa emergir. “Como pessoas que participam de projetos alternativos de educação, eles formam um grupo diferenciado da média da juventude do campo. Acreditamos, por isso, que eles têm condições de, ao tomar contato com realidades distintas, produzir uma narrativa inédita sobre a nova ruralidade que começa a emergir”, acredita a educadora.

        Maria Ieda fazia referência às oficinas de comunicação recebidas pelos jovens no início de cada etapa do II Intercâmbio, que visavam estimular o registro em imagens e textos daquilo que eles estavam vendo e vivendo. “Esses registros estão sendo utilizados na alimentação de um blog (www.jovemrural.com.br) e servirão  de base ao livro ‘Vozes e visões do campo’, que eternizará os momentos de aprendizado mútuo proporcionado por essa iniciativa da Rede de Fortalecimento Institucional do Jovem Rural”, explicou a coordenadora.

Abrangência
        A Rede de Fortalecimento Institucional do Jovem Rural é um projeto coletivo capitaneado pelo Instituto Souza Cruz, que também é responsável pela realização das Jornadas Nacionais do Jovem Rural - cuja terceira edição vai acontecer em setembro de 2009, em Pernambunco, tendo como tema "Trabalho e sustentabilidade do campo".

        Do II Intercâmbio, participaram mais 13 organizações: a Associação das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil (ARCAFAR-SUL); a Associação das Escolas Famílias Agrícolas do Centro-Oeste e Tocantins (AEFACOT); Associação Mineira das Escolas Famílias Agrícolas (AMEFA); Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Pará (Arcarfar-PA); o Centro de Desenvolvimento do Jovem Rural (CEDEJOR); a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI); a Fundação Odebrecht; o Movimento de Educação Promocional do Estado do Espírito Santo (MEPES); o Movimento de Organização Comunitária (MOC); a ONG Formação; o Programa de Apoio à Educação Rural (PAER); a Rede Nacional de Mobilização Social (COEP); e o Serviço de Tecnologia Agrícola (SERTA).

        No período de vigência da iniciativa, os intercambistas, oriundos de 14 estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Maranhão e Pará) tiveram uma vivência de duas semanas em outro meio rural, quando puderam conhecer o trabalho realizado por instituições congêneres e trocar informações visando o aperfeiçoamento mútuo e a melhoria da formação da juventude brasileira que vive no campo.

        Nas 10 etapas, os intercambistas foram alojados em um mesmo número de famílias – mobilizando, portanto, mais 460 moradores da quase uma centena de municípios. Contabilizados outros 140 jovens e educadores que também tiveram acesso às Oficinas de Comunicação, chega-se ao total de 715 pessoas beneficiadas diretamente com a iniciativa.

Brilho nos olhos
        Questionada sobre o que mais havia lhe chamado atenção na etapa paraibana, a coordenadora Maria Ieda ressaltou o brilho no olhar dos que vivem numa das regiões com maior estiagem de chuvas do Brasil. “Eu estou encantada com a força de vontade dessa meninada em permanecer no campo, mesmo em condições tão adversas. Na verdade, senti isso em todas as outras etapas. Mas, nessa última, aqui na Paraíba, talvez pela grande dificuldade em conviver com a seca e a falta de recursos, tenho me surpreendido com tanta sabedoria e bravura. E se eu, com toda minha mentalidade urbana e algumas décadas de dedicação e militância no campo social, tenho sentido isso, imagine o que essa experiência esteja significando para os jovens rurais que vieram de lugares tão distantes e diferentes”, respondeu a educadora.

        E um dos olhares que mais chamavam a atenção dos visitantes era do paraibano Rubenildo Campos, que depois de ser intercambista na etapa catarinense sediada pela ARCAFAR-SUL, mostrava-se radiante em receber os novos amigos em sua região de origem. “Espero que eles estejam sendo tão bem recebidos como fui em Santa Catarina. Trouxe muita coisa de lá e creio que eles também vão levar bastantes coisas daqui. Apesar das gritantes diferenças, dá para perceber que temos muito em comum”, afirmou Rubenildo.
Mas no olhar do jovem sinalizava uma preocupação a mais. Mistério esse que só foi desvendado à noite, quando os intercambistas foram recebidos em sua casa para um legítimo forró da Paraíba, com direito a musica ao vivo e comidas típicas da região. Era só o começo de uma série de atividades que iriam rechear o restante dos dias de visita àquela terra árida em sua paisagem, mas repleta de sentido em todos os seus detalhes.

        Histórias que começaram a ser colhidas pelos jovens nos dois primeiros dias da já citada oficina, mas que foram vivenciadas com mais acuidade durante o tempo em que ficaram com as famílias de agricultores. Histórias essas recolhidas na avaliação final da estadia, que nos contam como é o dia-a-dia sob o sol escaldante do interior da Paraíba, assim como são as suas noites frescas, cujos ventos trazem alívio e esperança. Histórias essas, por fim, que retornarão nas páginas do livro do II Intercâmbio, em imagens e depoimentos de jovens rurais de todas as regiões do Brasil.

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