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Agricultura 4.0: Automação e tecnologia elevam produtividade de grãos

Expectativas para a safra 2022/23 são altas


Foto: Divulgação

São boas as perspectivas para a safra de grãos 2022/23. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), espera-se em todo o Brasil a colheita de 313 milhões de toneladas de grãos – aumento de 15,5% em relação ao último ciclo, ou quase 42 milhões de toneladas a mais. O crescimento está amparado na estimada elevação na área plantada da soja. De acordo com a Companhia, cerca de 43,2 milhões de hectares em todo País devem destinados para a semeadura da oleaginosa, com produtividade esperada em 3.551 kg/ha. Para o milho, a expectativa é que a produção total seja de 126,4 milhões de toneladas. Já entre as culturas de inverno, o destaque é a safra recorde de trigo: a Conab prevê que os agricultores colham 9,5 milhões de toneladas do grão nesta safra, valor 23,7% maior que o ciclo anterior.

Os números animam e colocam em evidência aquela que é o braço-direito dos produtores que trabalham com grandes volumes: a tecnologia. “É e sempre será uma constante o uso de tecnologia e automação na produção rural brasileira. Os produtores estão sempre adquirindo novas tecnologias na busca pela otimização de suas máquinas e operações, e a consequente maior economia de insumos e aumento de produtividade”, analisa Gustavo Chavaglia, integrante da Comissão Técnica de Cana de Açúcar e Energia Renovável da FAESP e produtor de soja.

Esta percepção é compartilhada pelo coordenador da Comissão Técnica de Grãos da FAESP Márcio Antônio Vassoler. “A agricultura está em um processo de modernização nas últimas décadas. O aumento da eficiência de processos e um controle maior de atividades são os objetivos. Por isso, o conceito de agricultura 4.0 tem sido bastante discutido no campo. Tratores, semeadoras, pulverizadores e colhedeiras vêm sendo automatizados. A avaliação de lavouras por meio de drones e softwares de gestão de recursos humanos também”, afirma.

Sabendo que a tecnologia é fundamental para o aumento da produtividade, vale a pena analisar como a automação é utilizada nas diferentes culturas de grãos. Os caminhos são muitos, explicam os especialistas. É possível encontrar recursos automatizados em diversas etapas da plantação, desde antes do plantio, passando pelo cultivo, colheita e chegando à armazenagem. “Hoje em dia podemos automatizar vários processos dentro do manejo de grãos na fazenda. Desde o plantio até a colheita, temos opções de acompanhamento em tempo real de todas as etapas, graças as tecnologias de GPS e a melhora na qualidade do sinal 3G e 4G”, observa Alexandre Volpon, coordenador adjunto da Comissão Técnica de Grãos da FAESP. Dessa forma, diz ele, é possível acompanhar o rendimento das máquinas, quantos hectares já foram plantados, o gasto de semente e de combustível em tempo real e se houve alguma falha no plantio.

Inovação do plantio à colheita

Evitar desperdícios, utilizar recursos de forma mais eficiente e garantir uma alta produtividade do solo e de insumos são os principais objetivos do uso de tecnologias de automação no campo. No caso dos grãos, áreas de cultivo extensas ensejam ainda mais a aplicação de tecnologias de controle da produção, que também evitam a ocorrência de falhas nas lavouras, excesso ou desperdício de insumos.
O trabalho das máquinas começa antes do plantio. “Desde a preparação do solo, sistemas de GPS contribuem para otimizar o uso de máquinas e equipamentos, mas principalmente na economia de combustíveis e aplicações com doses certeiras podendo ser variáveis a depender da necessidade pontual de correção do solo”, explica Chavaglia. Na etapa de plantio, equipamentos podem fazer a distribuição de sementes com sensores em cada linha de plantio, garantindo o bom aproveitamento do solo e dos materiais.

O manejo durante o crescimento das plantas também está marcado pela automação. “Em pulverizações de defensivos e adubos foliares, novamente podemos usar sensores, que possibilitam o uso correto na área de aplicação com o chamado corte de seção, evitando desperdícios e remonte de produtos”, conta ele. Segundo Volpon, equipamentos que dirigem em piloto automático ajudam ainda mais a produtividade nessas primeiras etapas de produção. “Tratores com sistema de piloto automático já fazem a condução dessas máquinas em cada etapa, eliminando a interferência humana e os possíveis erros que isso pode trazer, e com precisão de poucos centímetros”, explica. Mas para tanto é preciso que o software operacional esteja muito bem alinhado ao projeto da área.

A colheita automatizada, por sua vez, já pode ser considerada uma “velha conhecida” – sobretudo entre os produtores de soja. “Na colheita, máquinas atuais, com telas computadorizadas e sensores direcionados, trazem leitura da produção no momento da colheita, como umidade do grão e desperdícios na limpeza. Estas máquinas possuem diversos sistemas de automação e geração de informações tanto da máquina – como panes – como da cultura que está sendo colhida”, explica Chavaglia.

A tecnologia também agrega valor à produção no pós-colheita. Volpon explica que, de posse dos dados apurados pelo maquinário ao longo de uma safra, é possível obter informações valiosas sobre a produção e preparar melhor as próximas. “Temos a possibilidade de enxergar a produtividade em cada talhão e cruzar essas informações para ter uma análise completa de todas as operações. Essas informações são essenciais para que o produtor possa analisar cada metro quadrado de sua propriedade, otimizando ao máximo o uso de insumos e trazendo ao mesmo tempo economia e aumento da produtividade. Assim, o produtor pode ser mais eficiente, tornando seu negócio mais sustentável e lucrativo”, observa.

Últimas tecnologias e dicas para produtores

Os principais equipamentos disponíveis hoje no mercado são sensores, que leem em tempo real tudo que acontece em cada operação – por exemplo os fluxômetros que contam as sementes nas semeadoras e com o uso de GPS georreferenciam essas informações. Outro exemplo do uso da tecnologia está na pulverização de defensivos, na qual sensores detectam a existência de ervas daninhas e decidem onde se deve ou não aplicar cada produto, trazendo ganho econômico e ambiental, com a racionalização do uso dos insumos.

O drone – ou vant, sigla para veículo aéreo não tripulado – é outra categoria de equipamento que vem sendo cada vez mais utilizada dentro das propriedades. Eles fazem a leitura de níveis de massa verde ou mapeiam as ervas daninhas, trazendo a possibilidade de uso eficiente de fertilizantes e defensivos.

“Além desses equipamentos, os softwares são também partes importantes nesse processo, pois são eles que analisam e processam todas essas informações, entregando dados mais concisos e precisos, para que o produtor possa usar em suas tomadas de decisão. Hoje em dia, o produtor tem à sua disposição uma vasta opção de softwares de gestão agrícola, auxiliando no controle de estoques de defensivos, fertilizantes e outros insumos, além de controle financeiro e contas a pagar”, completa Volpon.

As vantagens de se mergulhar a fundo nesse admirável mundo novo da tecnologia são muitas, mas também é preciso cautela. “O produtor deve tomar cuidado e planejar muito bem quando for pensar em automatizar suas operações, pois nem todos equipamentos e softwares são compatíveis entre si, o que pode ser um problema na hora da execução de seus projetos”, diz Volpon. Já Chavaglia alerta para a equação entre custo de aquisição de uma nova tecnologia e resultados obtidos por ela no campo. “Muitas das tecnologias voltadas ao campo já estão consolidadas, porém muito ainda há por vir e o produtor tem que estar atento para acompanhar a evolução, além de ter cautela na aquisição, pois os custos de implementação destas tecnologias têm de seguir um compasso entre o ganho trazido e custo de implementação”, diz. Ou seja, antes de comprar uma nova tecnologia é preciso analisar financeiramente a aquisição de modo que o investimento seja sustentável, lembrando que, além de oferecer benefícios, a automação exige treinamento da força de trabalho, constantes inovações e manutenções.

Este é, no entanto, um caminho sem volta. “O futuro das propriedades agrícolas certamente será a automação total de todas as etapas, com tratores e colheitadeiras que não mais necessitarão de condutores para operá-las, trazendo assim mais rendimento operacional e menor risco de falhas humanas. Hoje em dia já temos vários protótipos que fazem isso, e sua chegada ao mercado em escala comercial é questão de poucos anos”, antecipa Volpon.

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