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Cadeia produtiva rejeita feijão transgênico da Embrapa

Diversos problemas técnicos já adiaram a apresentação da cultivar nos últimos anos


Com anúncio de lançamento programado para este mês de Abril de 2019, provoca uma rejeição generalizada o novo feijão transgênico BRS Pontal, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Diversos problemas técnicos já adiaram a apresentação da cultivar nos últimos anos, mas agora é a cadeia produtiva do feijão quem está se posicionando de forma contrária.

A rejeição é motivada por vários fatores, mas todos relacionados à aceitação pelo mercado – e não propriamente contra o uso de biotecnologia. De acordo com o Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e dos Pulses), trata-se de uma cultivar de feijão carioca que ninguém quer. O primeiro a rejeitar é o próprio agricultor, que não vê vantagens por sua pouca produtividade e aparência pouco atrativa.

Um segundo problema é o baixo nível de controle do Carlavirus, que é transmitido pela mosca branca (Bemisia tabaci) e tem o potencial de causar perda de até 30% da produção de feijão comum. A própria Embrapa já havia divulgado nota técnica admitindo que o evento transgênico 5.1 – resistente ao vírus do mosaico dourado (Bean Golden Mosaic Virus), acabou não controlando o Carlavirus, que estava “camuflado” sob a sintomologia do mosaico dourado.

O assunto foi discutido e decidido na última Reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Feijão, quando diversos especialistas e representantes do setor se posicionaram de forma contrária ao lançamento da BRS Pontal transgênica. Técnicos da própria Embrapa admitiram que não existem suficientes estudos de impacto ambiental e de interações com outras plantações de feijões convencionais ou mesmo outras espécies. Outro problema apontado é a inexistência de um “kit de identificação” do feijão geneticamente modificado – tal como já é usado para a soja. 

“Um pequeno agricultor vai querer produzir transgênico? Será que as pessoas vão querer consumir? Não temos nada contra a biotecnologia, mas hoje não existe no mercado uma boa aceitação para esse produto. Muito pelo contrário, a tendência mundial é que as pessoas busquem alimentos não transgênicos, e de preferência até orgânicos”, afirma o presidente do Ibrafe, Marcelo Lüders.

De acordo com ele, outro problema é a questão da imagem do Brasil: “Não importa se é transgênico ou não – o feijão que exportamos é só ‘brasileiro’. E nossos concorrentes estão sempre esperando um erro para explorar. Por que países como Índia, China e Estados Unidos, que teriam condições muito maiores de investir na biotecnologia para o feijão, ainda não fizeram?”

O Ibrafe também questiona a falta de investimentos em pesquisas de cultivares que o mercado aguarda com ansiedade, como é o caso do feijão branco BRS Ártico, uma semente que simplesmente se perdeu por falta de recursos e gestão. “Hoje, não temos a variedade e importamos feijão branco da Argentina”, lamenta o dirigente.

Segundo ele, ninguém se mostra favorável ao BRS Pontal da Embrapa: “Nem produtores, nem exportadores, nem mercados e sequer empacotadores querem trabalhar com feijão transgênico. Pesquisadores de dentro da Embrapa e também de grupos independentes que trabalharam com o Empresa pública não recomendaram a liberação da cultivar”.

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