CI

Caruru-palmeri impõe desafio urgente ao manejo agrícola no Brasil

Planta daninha afeta produtividade de soja em diversas regiões produtoras


Foto: Divulgação

Uma das plantas daninhas mais agressivas da agricultura está avançando silenciosamente pelo campo. Trata-se do caruru-palmeri (Amaranthus palmeri), espécie invasora originária das Américas, que vem se consolidando como ameaça concreta às principais cadeias produtivas do país. Com resistência comprovada ao glifosato — herbicida base no manejo de culturas transgênicas — e capacidade de produzir até 600 mil sementes por planta, o caruru já compromete a produtividade de lavouras em estados como Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul.

 “Uma planta sozinha pode gerar um banco de sementes com milhões de unidades viáveis por ciclo. Isso facilita a infestação de novas áreas, principalmente quando não há controle eficiente”, explica Anderson Cavenaghi, professor da Univag-MT.

Além da alta produção de sementes, o caruru-palmeri apresenta crescimento acelerado — podendo atingir 4 cm por dia —, porte elevado (até 2 metros de altura) e fotossíntese do tipo C4, mais eficiente em condições tropicais. Tais características o tornam um competidor feroz por luz, água e nutrientes.

Estudos apontam que o caruru pode reduzir em até 91% a produtividade do milho, 79% na soja e 77% no algodão. Além das perdas diretas, a planta dificulta a colheita mecanizada e favorece o surgimento de pragas e doenças secundárias. Em propriedades onde há resistência múltipla, os custos com herbicidas já aumentaram até 70%, segundo levantamento realizado no Mato Grosso.

“O controle químico isolado já não funciona. Temos casos de resistência cruzada a inibidores da ALS e da EPSPS, o que torna o manejo químico muito limitado”, afirma Cavenaghi.

O papel dos pré-emergentes no combate

Frente à ineficácia do glifosato, o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação é apontado como estratégia prioritária. Um dos aliados nesse processo é a piroxasulfona, herbicida pré-emergente que atua antes do nascimento das plantas daninhas. Aplicado corretamente, cria uma janela de crescimento livre de competição, favorecendo o estabelecimento saudável da cultura principal.

“É fundamental que o produtor invista em pré-emergência com ativos eficazes e realize o manejo integrado, que inclui a limpeza de máquinas, rotação de culturas e uso de plantas de cobertura”, ressalta o pesquisador.

Identificação

A correta identificação do caruru ainda nos estágios iniciais é desafiadora, especialmente pela semelhança entre espécies. “A distinção entre A. hybridus e A. retroflexus, por exemplo, só é possível com análise laboratorial ou já na fase de inflorescência”, aponta Cavenaghi.

Para conter o avanço do caruru, entidades de pesquisa têm investido em tecnologias de identificação precoce, como sensores ópticos e algoritmos de visão computacional. Ao mesmo tempo, campanhas educativas em cooperativas e sindicatos rurais visam ampliar o conhecimento técnico entre pequenos e médios produtores.

“O combate ao caruru exige uma atuação coordenada entre agricultores, consultores, empresas e órgãos de pesquisa. Não podemos subestimar o risco de novas infestações e o impacto sobre a rentabilidade das lavouras”, conclui Cavenaghi

Como o produtor pode agir hoje contra o caruru-palmeri

- Adote herbicidas pré-emergentes eficazes: Utilize ativos com mecanismos de ação diferentes, como a piroxasulfona, para impedir a emergência do caruru logo após o plantio.

 - Realize a rotação de culturas: Alternar culturas reduz a pressão seletiva e dificulta o ciclo reprodutivo do caruru.

- Limpe maquinários e equipamentos: Evite a contaminação cruzada entre áreas ao lavar colheitadeiras, tratores e implementos após uso em áreas infestadas.

- Participe de projetos de monitoramento: Envie amostras de sementes para análise de resistência. Universidades, Embrapa e empresas de pesquisa recebem esse material e retornam com orientações técnicas.

- Evite deixar plantas atingirem a fase de sementes: Uma única planta pode gerar até 600 mil sementes. Eliminar os focos antes da floração é essencial.

- Fique atento aos sinais: Folhas ovadas com marcas em V, inflorescências densas e caules espessos são indícios de Amaranthus palmeri.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.