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Centenárias araucárias paulistas são responsáveis por toneladas de pinhão

Ao todo, apenas Cunha comercializa durante o período cerca de mil toneladas


Foto: Marcel Oliveira

Este ano, quem não teve ainda a oportunidade de saborear os famosos pinhões de Cunha, cidade reconhecida como a que tem o melhor pinhão da região, provavelmente só contará com nova chance no próximo ano, quando terá início a nova temporada da colheita do fruto da araucária e, certamente, voltará a acontecer a famosa Festa do Pinhão, realizada no mês de abril, que chega movimentar em torno de 10 toneladas de pinhão vendido in natura e também preparado das mais variadas formas: cozido, em compotas, bolos, farofas e outras preparações culinárias. Além de Cunha, na Serra do Mar, também são fornecedores de pinhão os municípios de Campos do Jordão e Santo Antonio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira. Ao todo, apenas Cunha comercializa durante o período cerca de mil toneladas.

O fruto da araucária, árvore que muitas pessoas costumam chamar simplesmente de “pinheiro”, é nativa nas regiões das Serras da Mantiqueira e do Mar, porém em ambas está em extinção e como ainda não há cultivos de araucária, trata-se de uma atividade puramente extrativista. Em Cunha, a coleta é feita exclusivamente por pequenos produtores que têm as árvores em suas propriedades ou coletam de propriedades vizinhas, tornando-se meeiros daqueles que atuam em outras cadeias produtivas e não têm interesse no comércio direto. Já Campos do Jordão e Santo Antonio do Pinhal contam com apenas 40 produtores rurais que fazem a coleta, sendo a maior parte do pinhão encontrado por lá trabalho dos muitos catadores, geralmente famílias moradoras na região e feirantes que procuram abastecer suas barracas e revender aos hotéis e restaurantes. “Significa um importante incremento na renda para várias famílias que vivem nessa região turística”, conta Maria Asunción Azcue Lizaso, assistente de planejamento da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Pindamonhangaba, que é responsável pelo atendimento aos dois municípios.

A situação é diferente em Cunha, na Serra do Mar, onde a maioria dos que fazem a coleta do pinhão é formada por produtores rurais familiares que veem na atividade - a qual dura praticamente de um a dois meses, de abril até meados de junho - uma alternativa de renda a suas atividades rotineiras, geralmente dedicadas à pecuária leiteira. “Apesar de a época ser de meio de ano, costumam dizer que a renda significa para eles o 13.º salário”, explica a engenheira agrônoma Priscilla Menezes Souza, técnica sediada na Casa da Agricultura local, que é de área de atuação da CDRS Regional Guaratinguetá.

Cunha tem área urbana pequena, porém grande área rural, que conta com mais de três mil Unidades de Produção Agropecuária (UPAs), sendo cerca de 1.300 pequenos produtores e destes, 80% estão na atividade leiteira. Priscilla alerta para o fato de as araucárias se encontrarem em risco de extinção.“Queremos ajudar a reverter essa situação e, para isso, temos um projeto embrionário que está nascendo de conversas ainda isoladas entre a Casa da Agricultura de Cunha, o Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí, da área de atuação do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da CDRS/SAA e a Associação dos Moradores dos Bairros do Paraibuna Rio Abaixo e Sítio (Amprasp) para escolhermos, juntos com as famílias agricultoras/coletoras, as matrizes mais produtivas, precoces e de maior variabilidade genética, com o objetivo principal de apresentarmos diretrizes para um manejo sustentável, produtivo e econômico do pinhão e, assim, naturalmente incentivar o interesse dos proprietários em ter a araucária como alternativa de produção e renda e voltarem a repovoar para tirar a araucária desse perigo de extinção”, avalia Priscilla. Para levar adiante tais propostas, a técnica tem contado com o apoio da CDRS Regional Guaratinguetá, na figura do diretor técnico, Jovino Paulo Ferreira Neto.

Outra ação relativa ao pinhão é o Programa de Garantia de Preço Mínimo (PGPM-Bio), da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), voltado aos que praticam extrativismo de produtos da sociobiodiversidade, como o babaçu, o palmito juçara e, no caso, também o pinhão. Priscilla conta que, em 2019, já foram cadastrados alguns agricultores, mas a ideia é aumentar o número de cadastrados. “O problema é que nessa área do extrativismo há muitos atravessadores e o produtor rural geralmente não tem a nota fiscal, há dificuldades no acesso à internet e para se cadastrar no Programa é preciso ter a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional da Agricultura Familiar (DAP) ativa, preencher um requerimento, informar documentos pessoais e fazer o cadastro no Sistema de Cadastro Nacional de Produtores (Sican), pois tratam-se de itens obrigatórios a serem cumpridos para se ter acesso. “No ano passado, os cadastros foram feitos na Casa da Agricultura, com nosso auxílio, mas eles próprios podem se cadastrar, nosso papel tem sido o de divulgar e auxiliá-los no que precisam. No ano passado, cada família cadastrada no PGPM-Bio recebeu cerca de R$ 3.000,00, um dinheiro que caiu direto na conta do produtor”, argumenta a técnica.

No ano passado, só Cunha foi responsável por comercializar 10 toneladas de pinhão durante os quatro finais de semana da Festa do Pinhão e rendeu, só na praça onde é realizada a Festa, mais de R$ 1 milhão. “Este ano também foi muito bom para os catadores da região, pois o valor que era no ano passado de R$ 1,50/R$ 2,00 o quilo pago às famílias de catadores, chegou a R$ 5,00, foi a ‘febre do pinhão’. Isso aconteceu, provavelmente, devido à falta de pinhão nos dois grandes Estados fornecedores, Paraná e Santa Catarina, enquanto São Paulo teve grande produção em função do clima mais propício deste ano, com chuvas na época ideal. “Este está sendo um ano atípico”, relatou Priscilla, “no entanto muito bom para aqueles que se dedicaram à coleta do pinhão e conseguiram fazer um caixa extra para estes tempos difíceis de pandemia e perda de muitos produtos e renda em várias cadeias produtivas”. Em Cunha, o pinhão já acabou, porém ainda há o pinhão da Serra da Mantiqueira para ser degustado.

Alimento nutritivo

O pinhão é um alimento altamente energético, em cada 100 gramas do produto, há 174 Kcal. Muito nutritivo, ele é rico em carboidrato de baixo índice glicêmico, fibras e gorduras monoinsaturadas, o que contribui para a maior saciedade e o bom funcionamento intestinal.

A nutricionista Sizele Rodrigues, da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro), informa que o pinhão contém vitaminas do complexo B e vitamina C e minerais como cálcio, zinco, fósforo e magnésio, além de possuir um valor proteico significativo.

Outra substância presente neste alimento junino é a luteína, um importante antioxidante que auxilia na saúde dos olhos, evitando a degeneração macular e reduzindo os riscos de catarata.

“Todos esses nutrientes tornam o pinhão um bom alimento para a prevenção da fadiga muscular, redução dos riscos de doenças cardiovasculares, controle de glicemia e de colesterol, além de prevenir o envelhecimento precoce e auxiliar na memória e no bom funcionamento do sistema nervoso central”, explica Sizele.

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