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Com déficit global, açúcar é destaque de alta

Preço médio do produto subiu quase 22% em agosto; trigo caiu 5,19% e liderou perdas no mês


A expectativa de déficit global para a safra de açúcar 2009/10, sustentada pela menor produção de cana na Índia e excesso de chuvas sobre os canaviais do Centro-Sul do Brasil, deu forte sustentação aos preços futuros da commodity em agosto. O produto foi o destaque do mês entre as principais commodities agrícolas negociadas na bolsa de Nova York, que opera as chamadas "soft commodities": açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão. Ficou à frente também de soja, milho e trigo, da bolsa de Chicago, que são as commodities agrícolas mais negociados no mercado internacional.

"O impacto da menor produção da Índia [segundo maior produtor mundial de açúcar] e o ritmo lento da colheita de cana no Brasil trouxeram importantes implicações ao mercado", disse Fernando Martins, da Newedge, corretora com sede em Nova York. "Países como o México e os EUA anunciaram que iriam elevar as cotas de importação do produto no mês passado, também dando suporte aos preços", afirmou. Efetivamente, somente o México anunciou cota de 400 mil toneladas de importação.

Ontem, as cotações do açúcar tiveram forte alta na bolsa de Nova York, atingindo o maior patamar dos últimos 28 anos, com os contratos para janeiro negociados a 25,32 centavos de dólar por libra-peso, aumento de 112 pontos. Com base nos cálculos do Valor Data, as cotações médias dos contratos de segunda posição do açúcar encerraram em agosto a 22,49, com elevação de 21,77% sobre julho. No ano, a valorização atinge 89,56%. "Com os preços nas alturas, os países vendedores estão fora do mercado", afirmou Martins.

Apesar de registrar valorização de 7,99% em comparação com o desempenho de julho (com base nas cotações médias diárias, que ficaram em US$ 1,3061 a libra-peso), o mês de agosto não foi muito animador para o café. Segundo Rodrigo Costa, da Newedge, os preços sofreram pressão da colheita do grão no Brasil e também da menor demanda por parte das torrefadoras estrangeiras.

No caso do algodão, os movimentos técnicos do mercado guiaram a commodity, segundo Martins. As cotações dos contratos de segunda posição da pluma encerraram agosto a 60,60 centavos de dólar por libra-peso, na média, com recuo de 0,22%. Os fundamentos para o cacau apontam para um déficit global. No entanto, as cotações da amêndoa tiveram uma elevação tímida no mês de agosto, em relação a outras commodities negociadas na bolsa de Nova York. Os contratos de segunda posição encerraram o mês a US$ 2.885 a tonelada, com alta de 5,33%.

A expectativa de menor safra de laranja na Flórida, segundo maior produtor global da fruta, deu sustentação às cotações do suco de laranja em Nova York. As cotações médias do suco ficaram em US$ 1,0109 a libra-peso, com alta de 5,26% em comparação com a média de julho, ainda de acordo com o Valor Data.

Em Chicago, o desempenho do trigo destoou dos de milho e soja e encerrou o mês em baixa. O preço médio dos contratos de segunda posição de entrega apurado em agosto foi de US$ 5,1405 por bushel, o que representou uma queda de 5,19%. O mês de agosto é tradicionalmente de baixa das cotações do cereal - entre julho e agosto é colhida mais de 50% da oferta mundial do ano comercial do cereal, que se encerra em maio.

Neste ano, contudo, a tendência de desvalorização da commodity nesta época do ano foi acentuada por um cenário ainda mais "baixista", avalia Elcio Bento, analista da Safras & Mercado. "O ano comercial tem uma perspectiva de oferta maior de trigo, ainda que com uma produção menor", afirma. Isso ocorre principalmente porque os estoques iniciais do ano safra 2009/10 são maiores que os da temporada anterior. O ciclo atual começou com estoques mundiais de 170 milhões de toneladas. A safra devem chegar ao fim com estoques globais de 184 milhões de toneladas.

Os preços futuros da soja com vencimento mais próximos estão maiores que os de prazo mais longo, o que aponta uma tendência de desvalorização do grão. Ainda assim, o mês de agosto foi de alta dos preços médios. Os papéis de segunda posição subiram 1,91%, para US$ 10,2706 por bushel, na média.

Flávio França Júnior, analista da Safras & Mercado, reitera a tendência "baixista" da oleaginosa no mercado internacional, mas diz que o fato de as cotações terem se sustentado em terreno positivo no mês tem relação direta com as especulações com o clima.

Prestes a ter sua colheita iniciada, a soja trilhou caminho descendente nos últimos tempos por conta de um regime de chuvas e temperaturas considerado ideal para o desenvolvimento das lavouras. Em algumas sessões, contudo, a perspectiva de que geadas afetassem as plantações americanas dominou as atenções e deu impulso aos preços. "O mês foi positivo, mas o viéis é de baixa", diz o analista.

Os fatores que influenciaram o desempenho da soja deram direção também para o milho, que, contudo, encerrou o mês com alta mais comedida. Os contratos de segunda posição de entrega subiram 0,19% em Chicago, para US$ 3,3402 por bushel, na média. Como sua colheita nos EUA começa um pouco antes, o milho praticamente já não oferece espaço para especulações com o clima.

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