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Cotações do trigo continuam recuando

Os relatórios, divulgados pelo USDA no dia 30/06, apontaram uma área semeada com todos os tipos de trigo, nos EUA, em elevação de 1% sobre o realizado no ano anterior


Foto: Divulgação

As cotações do trigo, em Chicago, continuaram recuando nesta semana, tendo acelerado o processo após o anúncio dos relatórios de plantio e de estoques trimestrais pelo USDA. Assim, o fechamento do dia 30/06 ficou em apenas US$ 8,68/bushel, contra US$ 9,37 uma semana antes. Esta cotação, que fechou o mês de junho, foi a mais baixa, para o primeiro mês cotado do trigo, desde o dia 25 de fevereiro passado. 

Os relatórios, divulgados pelo USDA no dia 30/06, apontaram uma área semeada com todos os tipos de trigo, nos EUA, em elevação de 1% sobre o realizado no ano anterior. Com isso, a mesma atingiu a 19,06 milhões de hectares. Ao mesmo tempo, sobre a intenção de plantio, indicada em 31 de março passado, a área efetivamente realizada recuou 0,63%. Já os estoques trimestrais, na posição 1º de junho, recuaram 22% em relação a junho de 2021, ficando atualmente em 17,96 milhões de toneladas.

Dito isso, as condições do trigo de primavera, nos EUA, até o dia 26/06, indicavam 59% das lavouras entre bom a excelente estado, contra 60% esperado pelo mercado e 20%, apenas, registrado no ano passado na mesma data. Já o trigo de inverno registrava 41% da área colhida, contra 31% no ano anterior e 35% na média histórica para a data. Das lavouras ainda a colher, apenas 30% das mesmas estavam entre boas a excelentes condições.

Em relação as exportações estadunidenses de trigo, o país norte-americano, na semana encerrada em 23/06, embarcou 352.404 toneladas do cereal, volume este ficando dentro das expectativas do mercado. No total do atual ano comercial 2022/23, iniciado em 1º de junho para o trigo, o volume embarcado soma 1,34 milhão de toneladas, o que representa 13% a menos do que o embarcado em igual momento do ano anterior.

Por sua vez, na França, os agricultores iniciaram mais cedo a colheita do trigo, pois a onda de calor acelerou o amadurecimento dos grãos. Até o dia 27/06 cerca de 2% das lavouras de trigo macio haviam sido colhidas. Já o trigo duro, na mesma data, havia  sido colhido em 5% das lavouras locais. Naquele dia, 64% das lavouras de trigo macio, a colher, estavam em bom ou excelente estado. Em paralelo, na Argentina, além da seca, os altos custos de produção, liderados pelos fertilizantes, e a incerteza política sobre as regras de exportação, dentre elas o conhecido imposto de exportação, estão levando os produtores locais a reduzirem a área de trigo, exatamente em um momento em que diminui a oferta mundial do produto e os preços sobem, devido a guerra entre Rússia e Ucrânia. Em 2021/22 a safra argentina de trigo foi de 22,4 milhões de toneladas. A projeção para 2022/23 não passa de 19 milhões, podendo ser ainda menor se o clima não melhorar.

A Bolsa de Rosário, por exemplo, projeta uma safra de 18,5 milhões de toneladas, sendo que as áreas de trigo estão sofrendo as piores condições de plantio dos últimos 12 anos. Especificamente em relação ao custo dos fertilizantes para o trigo, o mesmo subiu para US$ 1.600,00/tonelada na atual safra, contra US$ 700,00 na safra anterior. A ureia mais do que dobrou, atingindo hoje US$ 1.100,00/tonelada no vizinho país. E, diante de uma inflação oficial de 60% ao ano, o governo argentino mantém limite de exportação muito baixo para o trigo, tendo diminuído o mesmo em relação ao ano anterior. Ou seja, a exportação de trigo, além do imposto de exportação, sofre contingenciamento no volume autorizado a ser exportado. Assim, para 2022/23, as exportações de trigo argentino estão limitadas a 10 milhões de toneladas, contra 14,5 milhões no ano anterior. Se isso permanecer, os preços para o Brasil e o resto do mundo sofrerão maior pressão altista, podendo valorizar o produto colhido em nosso país para além do esperado. Especialmente se a guerra no Leste Europeu não terminar e o Real sofrer desvalorizações maiores daqui em diante, pressionado que poderá ficar diante das eleições presidenciais.

Já em termos mundiais, as condições de oferta de trigo, para 2022/23, estão se deteriorando bastante nos últimos meses devido justamente à guerra no Leste Europeu e a problemas climáticos em muitos países produtores. Com isso, os preços sobem, colocando em xeque a alimentação mundial, pois um grande contingente populacional enfrenta enormes dificuldades de renda para se alimentar. O Brasil, por exemplo, está com 15% de sua população passando fome e outros 58,7% (mais da metade, portanto, dos brasileiros) em estágio de “viver com algum grau de insegurança alimentar”, segundo dados oficiais e de institutos privados. Em tal contexto, o Brasil acaba se tornando, igualmente, um exportador de trigo, com preços em constantes elevações. Tanto é verdade que a média gaúcha, no balcão, fechou a última semana de junho em R$ 114,21/saco, enquanto as principais praças trabalham com R$ 115,00. No Paraná, o cereal oscila entre R$ 110,00 e R$ 115,00/saco. A nova desvalorização do Real ajuda a manter os preços em alta, poisencarece as importações. Afinal, não se pode esquecer que nosso país, mesmo já tendo exportado mais de 2,5 milhões de toneladas de trigo, neste ano, deverá importar mais de 6 milhões de toneladas do cereal.

Assim, as dificuldades mundiais colocam o Brasil em outra dimensão no contexto do mercado do trigo. Ainda é cedo para considerar que isso será duradouro, porém, há uma nítida mudança de quadro, indicando uma nova tendência. Para tanto, vale destacar que, segundo a Embrapa, na década de 1970 a produtividade nacional do cereal era de apenas 600 quilos/hectare. Hoje, a média ultrapassa os 3.000 quilos, em condições satisfatórias de clima. Somente entre 2017 e 2021 a produção brasileira de trigo cresceu 80%, enquanto a área aumentou 43%. O Brasil produz, ainda segundo a Embrapa, trigos indicados para diversos usos, tanto para a alimentação humana, quando para a alimentação animal. Com as cultivares que estão no mercado, se consegue atender a indústria de pães, massas e biscoitos; a indústria de carnes, leite e ovos; a indústria de biocombustíveis; e o mercado internacional, segundo a entidade.

Por outro lado, neste momento, o Brasil é o 8º maior importador de trigo do mundo. Em 2021 foram importadas 6,7 milhões de toneladas. O consumo brasileiro é de 12,7 milhões de toneladas, com previsão de chegar a 14 milhões de toneladas nos próximos anos, desde que melhore o poder aquisitivo da população. Em 2022, em se confirmando a estimativa de produção acima de 8 milhões de toneladas de trigo, o volume será suficiente para atender 62% da demanda nacional. Por questões de logística e mercado, nossas exportações saem do Rio Grande do Sul, Estado que acaba tendo que exportar grande parte de sua produção, atingindo a 2,6 milhões de toneladas neste ano, as quais estão sendo vendidas para 14 países. Desta forma, apesar de não garantir a autossuficiência, a produção brasileira de trigo está crescendo rapidamente. Em 2015, o Brasil colheu 5 milhões de toneladas. Em 2020, a produção chegou a 6,2 milhões toneladas. Em 2021, atingiu a 7,6 milhões toneladas.

E para 2022 chega-se a projetar um volume entre 8,5 e 8,9 milhões toneladas. Em 10 anos, caso a produção de trigo cresça 10% ao ano, passaríamos de 8 milhões de toneladas em 2022 para 20 milhões de toneladas em 2031, colocando o Brasil como potencial grande exportador do cereal no mercado internacional. Obviamente, tal realidade dependerá do clima, dos custos de produção, das políticas de crédito, dos preços pagos aos produtores e dos avanços tecnológicos na área. Neste último caso, a Embrapa se prepara para colher no Brasil, em agosto próximo, as primeiras plantas de cereal geneticamente modificado. O plantio do grão com o gene HB4, desenvolvido para ser mais tolerante ao déficit hídrico, foi feito no final de março, em uma área controlada da Embrapa de 70,8 metros quadrados, em Brasília, em parceria com a empresa argentina de biotecnologia Bioceres. A semeadura de três cultivares de trigo BRS, desenvolvidas para o ambiente tropical do Cerrado, com o gene da Bioceres, foi autorizada em 15 de março deste ano pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, depois de duas rejeições, em 2017 e 2019. Embora os estudos locais não permitam, ainda, prever ganhos de produtividade com esta variedade de trigo transgênico, em outros países se detectou ganhos entre 2% a 41%, com média de 19,3%. No Brasil, um novo experimento está previsto para as próximas safras até que seja possível confirmar os benefícios ou as limitações na produção do trigo com o gene HB4 no país.

Enfim, os primeiros resultados de pesquisa deverão estar disponíveis em três anos, mas, mesmo se forem bons, o cultivo de trigo transgênico em escala
comercial no Brasil dependerá ainda de definições legais e de critérios comerciais, como o pagamento de royalties para a empresa detentora do gene.

As informações da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário - CEEMA

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