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DF produz leite para alérgicos

Parceria de fazenda de Planaltina com a Embrapa deve levar ao mercado inovação destinada a pessoas que têm intolerância a proteínas, e chega a custar R$ 8 por litro


O leite é um dos produtos mais importantes na mesa dos brasileiros. O produto, e seus derivados, ajudam a impulsionar, no Brasil, a geração de empregos e renda, contribuindo com 24% do Valor Bruto da Produção gerado pela pecuária. Estima-se que cerca de quatro milhões de pessoas trabalhem no campo, com a ordenha e o manejo do gado, e nas indústrias de laticínios. Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) indicam que a produção de leite neste ano no país será de 34,9 bilhões de litros, e o faturamento totalizará R$ 46,8 bilhões.

Os números poderiam ser ainda maiores. Uma parcela da população brasileira não pode consumir o produto por causa de uma reação alérgica às proteínas. É uma realidade que começa a mudar a partir da produção no país de um tipo de leite especial.

Pesquisas para a produção do leite de vaca não alergênico estão avançadas no Distrito Federal, por meio de uma parceria entre a Fazenda Hermínia e a Empresa Brasileira de Produção Agropecuária (Embrapa). É possível que o leite A2 esteja no mercado já no próximo ano. O projeto para a produção desse tipo de leite, a partir de manipulação genética com o gado da raça Gir Leiteiro, é do proprietário da fazenda, Paulo Horta, cirurgião cardiovascular que realizou a primeira operação de ponte de safena da região Cento-Oeste, em 1973. Aos 82 anos, aposentado, ele acompanha com entusiasmo os estudos realizados pela Embrapa, desde 2014.

Nos testes de genotipagem realizados com o gado da fazenda, mais de 90% das vacas apresentaram a variante A2 A2 da proteína Beta Caseína, ou seja, estão aptas a produzir um tipo de leite que não causaria alergia ao ser humano. A qualidade na produção depende também da observação de normas de manejo, como a criação dos animais sem confinamento, com o livre acesso ao pasto e à luz solar.

Nutrição
A importância nutricional do leite é grande, já que o produto tem ótima concentração de cálcio e fósforo, minerais essenciais para a formação e manutenção dos ossos. A alergia ao produto e a intolerância à lactose são manifestações diferentes. Essa reação ao açúcar do leite se dá por falta da lactase, a enzima que digere a lactose. Já a alergia é uma reação imunológica do próprio corpo às proteínas. “A alergia pode até diminuir com a idade. Mas, para uma criança, é uma questão primordial, pois causa problemas digestivos, circulatórios e outras complicações mais graves. No adulto, pode produzir diabetes mellitus, cardiopatia isquêmica e alterações cognitivas”, explica Paulo Horta.

Além do Gir Leiteiro, a pesquisa da Embrapa envolve os zebuínos da raça Sindi, cujo leite apresenta grandes possibilidades de ter a variante A2 A2 da proteína Beta Caseína. A base da informação genética dos animais está no DNA. Por meio de testes de genotipagem, os pesquisadores da Embrapa identificam os polimorfismos do DNA, responsáveis por características importantes para a produção animal, como ganho de peso, produção láctea, constituição de carcaça, resistência a doenças e fertilidade.

Os testes de genotipagem identificam as variantes A1 ou A2, sendo necessários esses exames mesmo em animais de uma mesma raça. “Com base nessas informações, são realizados os acasalamentos e, por meio de biotecnias de reprodução (fecundação in vitro e clonagem), é feita a seleção de fêmeas para que nasçam com a liberação da Beta Caseína no leite”, explicou Carlos Frederico Martins, pesquisador da área de reprodução animal da Embrapa.

A produção de antialergênico é uma realidade em vários países. A Nova Zelândia, que já registrou o nome “A2 Milk”, certifica as fazendas com rebanhos que produzem exclusivamente o leite A2, além de laticínios derivados desse tipo de leite. O produto também já é encontrado em gôndolas de estabelecimentos comerciais dos Estados Unidos e Austrália.

Parcerias
A parceria da Fazenda Hermínia com a Embrapa já é antiga. Do trabalho conjunto, resultou a utilização do touro Uísque A2A2 nos principais acasalamentos. Ele é um dos destaques nacionais da raça Gir Leiteiro, sendo considerado um dos principais animais na produção de leite A2 no Brasil e um dos melhores touros provados da região Centro-Oeste. Atualmente o animal está na Central de Sêmen Alta Genetics, em Uberaba, Minas Gerais, onde seu material genético é coletado para exportação.

Localizada no Núcleo Rural de Tabatinga, região administrativa de Planaltina, a Fazenda Hermínia possui rebanho de 120 animais e, desde 1982, cria gado leiteiro. Além disso, a esposa de Paulo Horta, Lindalva, faz três tipos de queijos procedentes do leite A2: Minas padrão, Minas frescal e Chanclish (árabe). A propriedade de 100 hectares é atendida pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) há pelo menos duas décadas. “O foco do nosso trabalho é o desenvolvimento rural sustentável e o atendimento inclui assistência ambiental, social e econômica. É um trabalho contínuo”, explica o engenheiro agrônomo Lucas Pacheco, gerente da Emater no Núcleo Rural de Tabatinga.

Conheça os números da produção láctea no país

156 litros é o consumo per capita

90 produtos têm o leite ou a proteína de leite na sua composição

2016

33 bilhões de litros
R$ 27 bilhões de faturamento
1,2 milhão de produtores
4 milhões de empregos
40% dos postos de trabalho no meio rural
R$ 1,34 de preço médio bruto por litro pago ao produtor

2017

34,9 bilhões de litros, produção estimada
R$ 46,8 bilhões de faturamento

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego / Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil / Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural

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