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Estoque de trigo bate recorde e cereal encalha com produtor

Quase 2 milhões de toneladas do cereal da safra anterior ainda estão armazenadas nas regiões produtoras


SÃO PAULO - Nem mesmo a pior safra na Argentina das últimas décadas está se mostrando capaz de destravar a comercialização de trigo no mercado interno e fazer com que o produtor brasileiro consiga escoar seus estoques. Quase 2 milhões de toneladas do cereal da safra anterior ainda estão armazenadas nas regiões produtoras e as negociações do trigo que já vem sendo colhido ainda estão em estaca zero.

Segundo analistas de mercado, além de os moinhos já estarem abastecidos, a valorização do real frente ao dólar favoreceu a importação do trigo, depreciando ainda mais os preços internos. De acordo com Elcio Bento, analista da Safras & Mercado, o produtor paranaense que quiser concorrer com o trigo norte-americano, que hoje chega nos moinhos paulistas a R$ 565 a tonelada, tem de vender seu produto por R$ 490 a tonelada, sendo que o custo de produção está estimado em cerca de R$ 510 a tonelada.

"Nossos preços são balizados de fora para dentro e mesmo com quebras de safra sendo previstas eles podem cair", afirma Bento. "Nos últimos dias o câmbio deu sinais de reação, mas nada mostra que seja uma tendência real. Por conta dos preços internacionais e bons estoques não é possível dizer que os preços do trigo não registrem novas quedas".

A Gerência de Estudos Técnicos e Econômicos da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) observa preços ainda mais baixos no mercado paranaense. O trigo é cotado ao redor de R$ 420 a tonelada, no menor nível desde outubro de 2006, absorvendo uma queda de 9% frente ao último mês de julho. "Na ausência de uma intervenção governamental, muito dificilmente o mercado brasileiro não continuará recuando", afirma Edson Alves Novaes, gerente de estudos técnicos e econômicos da Faeg. Para o especialista, os movimentos de queda de preços no mercado externo do trigo ainda são dominantes, especialmente no mercado norte-americano. "Os operadores continuam reticentes em precificar melhores preços ao grão diante da perspectiva de um índice de suprimento favorável no mundo e principalmente nos EUA durante a safra 2009/2010", afirma. "Apesar da tendência de uma baixa colheita neste ano na Argentina, o mercado brasileiro, como já era de se esperar, começa a receber mais acentuadamente a pressão negativa oriunda do mercado norte-americano", completa Novaes.

A Bolsa de Cereais de Buenos Aires informou que a área plantada de trigo na safra 2009/2010 na Argentina está estimada em 2,7 milhões hectares, 40% menor que a safra passada.

Em plena entrada de safra os compradores, de modo geral, mostram-se desinteressados, fazendo com que o trigo que está sendo colhido divida espaço com a safra anterior nos armazéns. O estoque de passagem da temporada passada para a safra 2009/2010 é de 1,9 milhão de toneladas, enquanto que na passagem anterior o volume armazenado era de 414 mil toneladas. Além de a safra passada ter terminado com um volume quase cinco vezes maior do que começou, o estoque atual equivale a um terço da safra 2009/2010 prevista pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

A produção estimada em cerca de 6 milhões de toneladas se mantém praticamente estável em relação a safra anterior. Isso porque o cenário de preços no momento de intenção de plantio, em meados de abril, era bem diferente do quadro atual, havia a expectativa pela quebra de safra argentina. No início da safra brasileira os preços no Paraná eram próximos a R$ 540 a tonelada, além disso, o governo promoveu um aumento de até 15% nos preços mínimos e o indicador mais importante, o dólar, estava cotado, em média, a R$ 2,30.

Chuvas

De acordo com estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os triticultores terão uma preocupação a mais já que as chuvas estão prejudicando a colheita do trigo, que poderá ter perdas significativas. "Em alguns locais em que as precipitações foram mais fortes, o trigo acabou acamado, o que deve prejudicar a qualidade e a produtividade das lavouras que ainda não foram colhidas", afirma Julio César Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados. Em alguns locais da região central do País os produtores que estão colhendo já verificaram perdas entre 30% e 50% de sua lavoura.

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