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Exportações de carne e de gado em pé ajudam a pecuária a se manter em alta

Expectativa é de que as exportações de carne bovina cresçam com mais plantas habilitadas no Estado


Foto: Pixabay

Tradicionais na pecuária gaúcha, as feiras e remates de Outono já realizadas neste ano, e que se encaminham para o final nos próximos dias, estão sendo marcadas por leilões virtuais e preços acima das médias obtidas em 2019. O quilo pago pelos terneiros, que no mesmo período de 2019 alcançou média de R$ 6,80, nesta temporada avançou para até R$ 7,50.

Apesar de alta de cerca de 6% neste ano, a média de R$ 7,20 estimada pelo presidente do Sindicado dos Leiloeiros Rurais (Sindiler), Ênio Santos, porém, esbarra nos efeitos da estiagem para que se converta em ganhos melhores ao produtor. O problema é que estão indo para as pistas de negócio animais com menos peso devido à falta de chuva em 2020, o que afetou o pasto e a engorda dos animais.

“O preço é acima do ano passado, e a liquidez está boa, com a venda de 100% do colocado em pista, como ocorreu recentemente em Caçapava do Sul, com 2,5 mil animais comercializados. Mas teríamos uma temporada bem mais remuneradora em um cenário normal”, avalia Santos.

Coordenador da Comissão de Exposições e Feiras da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Francisco Schardong assegura que as feiras virtuais foram um sucesso e são um caminho sem volta para futuros negócios, mesmo pós-pandemia. Isso porque a oferta on line aumentou o número compradores de fora do Estado. Além de mais compradores nacionais, avalia Schardong, o que está ajudando a manter os preços atuais são as exportações de gado em pé.

“Os navios que estão chegando mantém aquecida a venda de terneiros, procurados pelo mercado árabe, principalmente. O gado gordo é que está complicado porque a pastagem de inverno não aparece ainda em função da seca. Esse mercado vai ter problema”, alerta o representante da Farsul.

Com destino final a Jordânia, por exemplo, o setor embarcou no final de março cerca de 20 mil animais pelo Porto de Rio Grande. E uma nova carga já começa a ser preparados nas propriedades de quarentena organizadas em quatro cidades da zona sul do Estado: Pelotas, Capão do Leão, Cristal e Rio Grande. “Na carga de 20 mil, pagaram R$ 7,50 o quilo. Em abril, tentaram nova compra com R$ 6,50, não encontraram animais no mercado. E aumentaram a oferta para entorno de R$ 7,50 novamente”, comemora Schardondg.

Agora, diz, o pecuarista, o mercado árabe já está levado animais da Fronteira Oeste e região Central, por exemplo, para o Sul do Estado novamente. Quando os compradores fecharem uma carga de pelo menos 15 mil animais, explica Schardong, atracará um novo navio. O que pode ocorrer no final de maio, de acordo como a administração do porto.

Ainda que já ocorressem os leilões virtuais de gado, normalmente os negócios à distância eram realizados com animais mais nobres, e não gado geral (comprados para engorda e abate, e não pela genética). Agora, diz tanto Santos quanto Schardong, é um caminho sem volta para o setor porque amplia o números de compradores significativamente. O presidente do Sindiler estima que 60% dos negócios forma fechados por sites de vendas e remates virtuais e pelo telefone neste ano.

“Alguns levam o gado no local, ao vivo, e outros filmam na propriedade e apresentam as imagens para lances à distância”, explica Santos.

Para o segmento de carnes nobres, avalia o diretor técnico da Associação Brasileira de Angus, o mercado segue com bons preços, e tende a subir com a entressafra que se aproxima. Mas pode esbarrar na retração do consumo interno e pela mudança de hábito dos consumidores, que pelo isolamento social reduziram, por exemplo, o consumo de churrasco. Atualmente, calcula Rodrigues, o quilo ao produtor está na faixa de R$ 13,60 a R$ 13,80, mais bonificação por certificações de qualidade, de até 10%.

“No ano passado, na entressafra, ficou em cerca de R$ 15. Ou seja, tende a melhorar. Mas mudou a demanda e o tipo de corte, com menos procura pelos cortes de churrasco. Mas esperamos que a redução no isolamento social em alguns locais isso será parcialmente retomado”, opina o representante da Angus.

Mercado internacional ajuda a equilibrar perdas com a retração no consumo interno

Dois fatores, juntos, devem ajudar a manter os atuais preços pagos ao produtor mesmo com a provável queda no consumo interno de carne bovina no ano _ o que é esperado devido ao aprofundamento da crise, da queda da renda e do avanço do desemprego em meio à pandemia. Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul, destaca que o dólar em alta aliado a um maior número de frigoríficos brasileiros habilitados a exportar, em relação a 2019, traz perspectivas positivas ao setor.

“O que sabe hoje, certo, é que Brasil estará em crise e com a economia bastante debilitada no final do ano. A diferença em relação ao que ocorreu na crise de 2015 e 2016, quando exportações e câmbio compensaram a queda no consumo interno,é que agora há mais indústrias no Estado com plantas exportadoras.O que não sabemos é se, agora, o mercado externo vai drenar todo esse excedente”, pondera Luz.

Com a pecuária tem atividade mais longo do que uma safra de grãos, porém _ já que pode durar alguns anos entre a compra do sêmen ou do touro até a venda do terneiro_ há um nível maior de incertezas sobre o futuro, diz o economista.

No final de 2018 o preço da arroba, de acordo com o Cepea/USP, estava próximo de R$ 150 e alcançou em novembro de 2019 o pico de R$ 231_ alta de 54% estimulada pelos compradores internacionais, especialmente a China. Hoje na faixa dos R$ 200, a arroba está cerca de 30% acima dos R$ 151 registrados em 10 de maio de 2019, segundo levantamento do Cepea.

Como se comportaram os preços ao produtor nos últimos 12 meses

10/05/2019: R$ 151,25
09/08/2019: R$ 152,55
11/11/2019: R$ 183,30
29/11/2019: R$ 231,35 (Pico dos preços pagos ao produtor em 2019, com alta de mais de 50% em um ano)
10/12/2019: R$ 208,95
10/01/2020: R$ 196,25
10/02/2020: R$ 195,70
11/03/2020: R$ 203,25
09/04/2020: R$ 198,05
08/05/2020: R$ 201,30 (Os preços atuais estão 33% acima do mesmo período de 2019, quando a arroba era cotada em R$ 151,25)
Fonte: Cepea/USP

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