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Extratos de plantas combatem fungos que atacam frutos

Pesquisadores da Unirio estão desenvolvendo defensivo agrícola


As pragas são as principais causas de perda de produção na agricultura familiar. Para tentar reduzir os gastos desses agricultores com pesticidas e os prejuízos que esses compostos causam ao meio ambiente e à saúde humana, pesquisadores da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) estão desenvolvendo um defensivo agrícola à base de extratos de plantas como o saboeiro e a lichia. Testes realizados com mamão em laboratório mostram a eficácia do material no combate a uma doença causada por fungos.

“A proposta principal do nosso projeto é analisar os extratos com potencial antifúngico e capacitar agricultores a utilizá-los de maneira segura e barata”, resume o biocientista César Luis Siqueira Júnior, coordenador da pesquisa.

Para a produção dos extratos, a equipe usa folhas, sementes e até o caule de espécies da família das sapindáceas. Essas plantas são conhecidas por suas substâncias que produzem espuma – muito usadas no passado por populações rurais para lavar roupas – e que atualmente são empregadas como expectorante e diurético, entre outras aplicações medicinais.

“Por ser 100% natural, o extrato terá custo menor que o dos pesticidas sintéticos usados atualmente para combater esse tipo de praga, além de não contaminar o solo e não fazer mal à saúde humana”, pondera o pesquisador.

O potencial dessas plantas para a inibição de pragas foi percebido durante contato com agricultores familiares da região de Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2008, quando Siqueira Júnior iniciou a pesquisa, ainda como professor do Instituto Superior de Ensino do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora (Isecensa), também em Campos. Ele observou que as plantações próximas às sapindáceas não eram ou eram menos atingidas pela ação de fungos e outras pragas.

Para comprovar a propriedade antifúngica dessas plantas, os pesquisadores decidiram testá-las no mamão, fruto muito produzido por agricultores familiares e atingido pela antracnose, doença causada por fungos como o Colletotrichum gloeosporioides.

A antracnose se desenvolve em condições de sombra e umidade excessivas e se caracteriza pelo aparecimento de manchas escuras na parte externa do fruto. Essas lesões surgem uma semana após o fruto maduro ser infectado com o fungo, o que ocorre geralmente quando a casca é danificada, seja pela ação de insetos ou por amassados.

Segundo Siqueira Júnior, o que acontece muitas vezes é que, sem saber, o agricultor coloca um fruto contaminado pelo fungo na caixa com outros saudáveis para serem transportados. Depois de uma semana, todos os frutos fechados na caixa também adquirem antracnose.

“A antracnose não faz mal à saúde humana, mas o fruto fica com uma aparência ruim e seu sabor é drasticamente alterado”, explica o biocientista. “À medida que os sintomas avançam, o fruto adquire uma aparência pior, o que faz com que seja rejeitado para consumo.”

Contaminação interrompida

Os primeiros testes com o C. gloeosporioides foram realizados no Núcleo de Pesquisa em Biocontrole de Doenças e Proteção de Sistemas Agrícolas da Unirio. Os pesquisadores aplicaram o extrato de sapindáceas em fungos isolados em meio de cultura similar à planta que eles atacam. “Os resultados foram positivos, uma vez que o extrato conseguiu inibir o espalhamento do fungo”, conta Siqueira Júnior.

Em outro teste, foi feito o tratamento direto do mamão com o extrato. Alguns frutos foram lavados apenas com água e outros foram banhados ou borrifados com o extrato. Depois que os frutos secaram, os pesquisadores introduziram fungos neles e os colocaram em caixas separadas semelhantes às usadas em seu transporte. As caixas permaneceram em cima de prateleiras em condições parecidas às dos supermercados.

Após uma semana, os frutos que receberam o extrato foram comparados aos que não receberam. “Nos frutos tratados com o extrato vegetal não apareceram lesões características da infecção, o que foi nitidamente observado nos frutos não tratados”, afirma Siqueira Júnior. Esse mesmo teste está sendo feito com pimentões, também bastante presentes na agricultura familiar.

A equipe agora está buscando pequenos agricultores que possam disponibilizar suas plantações para testes em campo com mamoeiros. O objetivo é verificar se o extrato vegetal interfere no crescimento da planta e confirmar seu potencial antifúngico. Os pesquisadores pretendem avaliar também o valor nutricional dos frutos após o tratamento com os extratos vegetais para identificar possíveis alterações.

A pesquisa prevê ainda testes com maracujá e morango, frutos de grande importância econômica para o Brasil e que são atacados por outros tipos de fungos que provocam antracnose.

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