CI

Laboratório celebra 70 anos de pesquisa com inoculantes

Embora tenha seu uso consolidado na cultura da soja, os inoculantes podem atuar em outras leguminosas


Foto: Marcel Oliveira

A cultura da soja responde, hoje, por grande parte do setor agrícola do Rio Grande do Sul: o estado é o segundo maior produtor do grão no Brasil, com mais de 19 milhões de toneladas anuais, segundo dados da Conab 2019. Para chegar a este nível de produtividade, foi preciso uma longa história de pesquisa e desenvolvimento, que, em 2020, celebra 70 anos: o início das linhas de pesquisa em inoculantes no Estado, em 1950.

Inoculantes são produtos que contém bactérias denominadas rizóbios, que se associam à raiz da planta e realizam a fixação biológica de nitrogênio, dispensando o uso de fertilizantes. Em 1950, a antiga Seção de Microbiologia Agrícola (SEMIA), da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, iniciou a pesquisa para a seleção de estirpes destes rizóbios e a produção de inoculantes, principalmente para soja, para atender à demanda motivada pelo início da expansão da cultura no Estado. As pesquisas também contemplaram outras leguminosas de clima temperado, como alfafa, trevos, comichão e ervilha.

"O Departamento de Pesquisas da Secretaria da Agricultura sempre foi um importante braço para ajudar a garantir a qualidade da produção agrícola no Estado, trazendo reconhecimento para os nossos pesquisadores e segurança para os produtores gaúchos", destaca o secretário Covatti Filho.

Jackson Brilhante, responsável técnico do Laboratório de Microbiologia Agrícola, conta que os estudos eram coordenados pelo professor da UFRGS João Rui Jardim Freire, que iniciou sua carreira profissional na Seção de Bacteriologia da Secretaria Estadual da Agricultura. "Ele coletou, pesquisou e catalogou as principais cepas (as variedades das bactérias) de rizóbios do Brasil. Uma dessas cepas foi a SEMIA 587 obtida em uma planta de soja na região de Santa Rosa. Paralelamente houve um excelente trabalho de divulgação, com cursos de treinamento na área, publicação de artigos em jornais da época. Era um trabalho de formiguinha mesmo”, detalha. O laboratório era da antiga Fepagro, que, em 2017, se transformou no Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr).

O “trabalho de formiguinha” apresentou resultados duradouros: se a produtividade média da soja no Brasil, entre 1971 e 1975, girava em torno de 1.500 quilos por hectare. Hoje em dia, com a crescente popularização do uso de inoculantes, a produtividade média nacional está em 3.300 quilos por hectare, de acordo com a Embrapa. “A técnica de inoculação contribui com praticamente todo nitrogênio que a soja necessita além de proporcionar valores entre 20 e 30 quilos por hectare de nitrogênio para a cultura de sucessão” destaca Jackson.

O Laboratório de Microbiologia Agrícola da Seapdr é referência nacional na área de inoculantes, sendo o laboratório pioneiro do Brasil credenciado pelo Ministério da Agricultura para encaminhar as estirpes para a indústria de inoculantes. O laboratório mantém uma coleção com aproximadamente mil estirpes, para cerca de 200 plantas leguminosas de importância agrícola,  a Coleção SEMIA de Rizóbios.

Vantagens econômicas e ecológicas

A pesquisadora Anelise Beneduzi, curadora da coleção SEMIA e responsável pelas linhas de pesquisa desenvolvidas na área, destaca que os inoculantes, além de realizarem o mesmo trabalho dos fertilizantes químicos, ainda são mais acessíveis economicamente, custando bem menos. Isto representa uma economia de R$ 12 bilhões ao ano para o país, acrescentando de quatro a 15% no rendimento da soja. O Brasil atualmente é um dos principais produtores mundiais de soja graças aos inoculantes. “O uso de inoculantes também é ecologicamente mais amigável: não gera resíduos e nem lixiviados como os fertilizantes nitrogenados, que são uma grande fonte poluidora”, acrescenta.

Perspectivas de uso de inoculantes para culturas

Embora tenha seu uso consolidado na cultura da soja, os inoculantes podem atuar em outras leguminosas. Além de continuar seu trabalho na área da soja, outro desafio que se apresenta para o Laboratório de Microbiologia Agrícola é ampliar a utilização de inoculantes em outros tipos de cultura. “Nosso objetivo é buscar novas bactérias para que os produtores rurais possam utilizá-las nos diversos sistemas de produção agrícola e florestal ao invés dos fertilizantes nitrogenados”, diz Anelise.

Algumas das espécies investigadas atualmente são o feijão e a produção de mudas florestais, como a acácia-negra. A ideia principal é substituir, total ou parcialmente, fertilizantes químicos em outras culturas, contribuindo para a expansão de um tipo de produção mais sustentável. 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.