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Milho: Começar de novo...

João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte falam sobre a situação interna e mundial do mercado do milho


João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte - Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo

Situação Mundial

Durante os dois últimos meses, o preço do milho em Chicago tem sugerido um novo piso à medida em que informações favoráveis sobre o desenrolar da safra nos Estados Unidos, na Europa e na China indicam uma safra sem grandes novidades no hemisfério Norte. As notícias são tão favoráveis que nem uma quebra de cerca de nove milhões de toneladas na safra do segundo maior exportador de milho do mundo, a Argentina, foi capaz de abalar a confiança em que o abastecimento até meados do próximo ano estaria assegurado. É claro que a ainda tímida recuperação da economia mundial após a crise do segundo semestre de 2008 por enquanto não foi capaz de colocar algum ânimo nos mercados de commodities. O petróleo, que tem se constituído em principal referencial para novos indícios de recuperação da economia, tem meio que andado de lado, ao redor de US$ 70 por barril, apresentando uma tímida evolução dos preços após atingir o fundo do poço - cerca de US$ 40 por barril no início deste ano. Com a recuperação mundial ainda a caminho, nem o componente especulativo que poderia advir das baixas reservas mundiais de milho encontra algum tipo de fôlego para influir nos preços.

No último dia 12 de agosto, o Departamento de Agricultura dos EUA liberou novas estimativas em seu processo de acompanhamento de safras, alterando desta vez os parâmetros relativos aos rendimentos agrícolas, que foram aumentados em relação às estimativas anteriores e, se confirmados, constituirão o segundo maior rendimento agrícola de milho obtido no país. As condições das lavouras seguem melhorando e a avaliação da percentagem de lavouras em condição “boa ou excelente” vem aumentando a cada semana, atingindo agora 70%, um percentual superior ao do ano passado, embora esteja ocorrendo um atraso no estágio das lavouras em comparação aos anos anteriores. O resultado final é que a produção de milho americana será a segunda maior dos últimos anos, sendo cerca de apenas 2% inferior à safra recorde de 2007/08. Como se esperava uma maior redução, visto que a previsão de área colhida era de cerca de 1,5 milhão de ha (aproximadamente 7%) a menos do que esta mesma safra, os resultados são muito favoráveis. Como resultado, os preços tinham mesmo que ser reajustados para baixo em relação aos meses do plantio. O único fator desfavorável que pode afetar os preços até o final da safra se encontra no estágio atrasado das lavouras em relação ao normal; existe a possibilidade da colheita ser afetada pelo início do inverno, afetando a produtividade. A conferir.

Com base nas novas estimativas e em revisões sobre a utilização de milho para diferentes finalidades, mantém-se a expectativa de uma pequena redução nos estoques americanos de milho ao final da safra 2009/10.

Espera-se uma redução no uso do milho diretamente na alimentação animal (em virtude do acréscimo no uso de resíduos da produção de etanol de milho) e um pequeno acréscimo nas exportações (que retornam para o patamar de cerca de 51 milhões de toneladas). Por outro lado, verifica-se o contínuo incremento no uso do milho para produção de etanol (que deverá chegar a cerca de 107 milhões de toneladas, aproximadamente o dobro do milho produzido no Brasil).

Nos outros países, as condições se mostram também favoráveis. No conjunto Comunidade Européia/Rússia/Ucrânia, a safra é inferior à do ano passado, porém é superior às duas safras anteriores, que induziram a uma importação recorde, interrompendo um processo de redução na produção de milho que já se verificava há quatro anos.

Em escala mundial, a produção de milho é um novo recorde (previsão de cerca de 796 milhões de toneladas para 2009/10 contra 789 milhões no período passado), o que indica a capacidade de incorporação de tecnologia pelos produtores, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. A pronta resposta da produção de certa forma aumentou a confiança no atendimento às necessidades recentes de utilização de milho para produção de etanol e toda a cadeia de produção de milho se mostra adaptada, mesmo em uma situação de estoques mais baixos. Sazonalmente, a cada início de safra do hemisfério Norte deverão surgir dúvidas sobre esta capacidade de atendimento, que terão gradativamente menor capacidade de afetar as especulações futuras sobre os preços.

Esta situação confortável no exterior afeta profundamente o desempenho das exportações brasileiras de milho, que são vitais para escoar os estoques internos e elevar os preços. O problema é que as perspectivas neste ambiente não mostram sinais de modificações em um futuro próximo

Situação Interna

No Brasil, o décimo primeiro levantamento da Conab foi liberado no início do mês de agosto. Na safra de verão de milho, as informações estão definidas e apenas se verificaram pequenos ajustes na produção esperada. A safra total esperada é de 50 milhões de toneladas, sendo 33,5 milhões na safra e cerca de 16,5 milhões na safrinha.

A safra do Nordeste é novamente uma das maiores colhidas na região, cerca de 6% superior à safra do ano passado (atingindo um total de 4,6 milhões de toneladas), em decorrência de condições climáticas favoráveis e beneficiando o abastecimento regional. Além dos pólos tradicionais de produção, na Bahia e no Ceará, nota-se um crescimento gradativo da produção de milho nos Cerrados do Maranhão e do Piauí, que podem se constituir em novas fontes para o abastecimento regional.

No caso da safrinha, o levantamento da Conab reajustou mais uma vez as expectativas de colheita, principalmente no Centro-Oeste, onde as informações sobre a safrinha são cada vez mais favoráveis. Existe uma diferença entre os números da Conab para o Mato Grosso, publicados no relatório do levantamento (6,75 milhões de toneladas), e os resultantes de levantamentos do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola – Imea (www.imea.com.br), que indicam cerca de 7,1 milhões de toneladas. De qualquer forma, a visão de grandes quantidades de milho armazenadas a céu aberto é um indicativo claro de dificuldades no escoamento do milho colhido na safrinha no estado do Mato Grosso. Novas estimativas de safra foram realizadas pela Conab também para o estado de Goiás e, em conjunto, a expectativa de produção regional foi elevada em cerca de 500 mil toneladas no último mês.

Estes resultados, ainda preliminares, consolidam o Centro-Oeste como o grande produtor de milho, tanto na safra (em Goiás) como na safrinha (principalmente no Mato Grosso), o que garante o abastecimento regional ao longo do ano. O problema é que não está sendo possível escoar esta produção em uma condição em que as possibilidades do mercado externo estão reduzidas. O resultado final é que os preços estão em processo de queda na região desde meados de junho e já atingiram níveis preocupantes, bem abaixo dos preços mínimos, principalmente no Mato Grosso (R$7,00 a saca na região de Sinop-MT), como conseqüência da lentidão na liberação de recursos para os leilões do governo para escoamento de safra da região.

Se as perspectivas da safra têm se mostrado favoráveis, a situação do mercado do milho no Brasil continua muito difícil em 2009. Os preços internos estão em queda e as perspectivas no que diz respeito ao mercado externo não têm se mostrado animadoras. Embora as exportações registradas tenham sido, até agora, superiores às do ano passado, parece pouco provável que o montante final seja suficiente para que o estoque disponível, após três anos de boas safras, seja escoado e o mercado se normalize. Deve-se assinalar que a maior parte das exportações do ano de 2009 aconteceu nos meses de janeiro e fevereiro, sendo que desde então os quantitativos somente têm diminuído. Os dados referentes às exportações de milho no mês de julho não são animadores. A quantidade exportada foi semelhante à do mês de junho e muito inferior à de julho de 2008 (cerca da metade).

Com a possibilidade aberta pelas importações do Paraguai, já entraram no país, desde o início do ano, cerca de 450 mil toneladas que contribuíram para reduzir as perdas causadas pelos problemas climáticos que aconteceram na região Sul. Como a distância entre o Paraguai e os centros de consumo desta região é menor do que a distância dos centros de produção no Centro-Oeste, uma possibilidade existente de escoamento do milho do Centro-Oeste foi parcialmente fechada.

Do lado da demanda por milho, o crescimento da produção de aves segue se recuperando. Segundo o Avisite, o alojamento de pintos de corte retornou ao nível do período pré-crise. Em julho de 2009, nos estados com maior produção de aves, com exceção de São Paulo, todos apresentaram crescimento na população de pintos de corte alojados e os dados para o Brasil como um todo mostram um crescimento de 5% em relação a julho de 2008. Grande parte deste incentivo para o aumento de alojamento de frangos de corte vem em contra mão das tentativas efetuadas no início do ano de regular a produção de carnes de aves no Brasil. Estas ações funcionaram durante o início do ano; porém, à medida em que o preço do milho se mostrou favorável, a situação alterou. Se este crescimento será sustentável dependerá do desempenho das exportações de aves, que têm se mostrado decrescentes. Com o excesso de carne no mercado interno, os preços também têm reduzido.

Este cenário é crucial para a definição pelos agricultores da área a ser plantada com milho a partir de agora. Os preços não estão favoráveis, mas a grande modificação em relação à safra passada são os custos de produção. Informações coletadas pela Scot Consultoria indicam que, entre os fertilizantes nitrogenados e fosfatados, os preços já se encontram em níveis inferiores aos do ano passado. A exceção é o preço do cloreto de potássio, que ainda é superior, mas já se encontra em queda.

A outra grande transformação neste ano agrícola será a primeira safra com abastecimento adequado de sementes de milho transgênico. A dúvida está na relação custo benefício, em diferentes regiões com maior ou menor pressão de insetos-praga que atacam a cultura do milho. Certamente haverá uma grande demanda dos agricultores pelo significado de novidade apresentado por esta tecnologia.

Um planejamento cuidadoso da tecnologia a ser utilizada tem que ser efetuado para esta safra, pois se os preços dos insumos aparentemente estão voltando para a normalidade, os preços de milho não se mostram assim tão animadores. O estabelecimento de um melhor gerenciamento da lavoura, por meio de análise de fertilidade do solo, de teste de alternativas de cultivares e mesmo de maior cuidado na execução das práticas de plantio e de tratos culturais de sistemas de produção, é um bom início para o estabelecimento de um gerenciamento da produção, evitando-se o uso de “pacotes tecnológicos” homogêneos para toda a lavoura.

As informações são do Boletim informativo do Centro de Inteligência do Milho - Ano 2, Edição nº 20, agosto de 2009.

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