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Para onde vai a cadeia de trigo no Brasil?

Debilidade da economia brasileira causa forte redução de compras


“Estamos muito, muito preocupados com os rumos que a cadeia de trigo está tomando no Brasil”. A afirmação é da Consultoria Trigo & Farinhas, segundo o qual “a grande debilidade da economia brasileira” provoca a forte redução de compras dos itens considerados supérfluos. Os especialistas apontam ainda a “grande produção mundial, principalmente da Rússia, que aviltou os preços internacionais”.

Uma das preocupações é a redução da área plantada: “Da safra de 2014/15 até a de 2017/18, um em cada três hectares foi abandonado: a redução foi de 33,81%, passando de 2,75 milhões de hectares para 1,82 Mha. A produção, que chegou a 6,71 milhões de toneladas na safra 2016/17, deverá ficar em 4,85 MT, na safra atual, queda de 28,31%”.

Outro problema apontado pela T&F é que os moinhos estão, há quase dois anos, sem margens positivas: “Somente em 2017 os preços do grão subiram 13,34% no PR e 19,35% no RS, enquanto os preços das farinhas caíram 12,73% a comum, 22,86% a inteira, 25,0% a de panificação e 6,85% a especial, gerando alto risco de quebra de alguns moinhos a curto prazo (cinco deles já entraram em recuperação judicial). Está se tornando mais barato importar farinha dos países vizinhos do que moer o grão, o que é um péssimo sinal”.

Pelo menos 10 fábricas de biscoitos e massas quebraram nos últimos 12 meses, ou foram absorvidos por outras, afunilando as decisões de compra e reduzindo a competitividade dos moinhos. “O governo brasileiro, ao invés de incentivar o setor, usa-o como moeda de troca – no Mercosul para a venda de linha branca para a Argentina e nos Estados Unidos para a venda de carne brasileira. Com isto, o governo brasileiro incentiva os agricultores argentinos e americanos (e fala em importar da Rússia, mas o setor repele) ao invés de incentivar a produção nacional, que poderia ser pelo menos cinco vezes maior (a Embrapa estima em mais 19 milhões de toneladas, só no Cerrado, tornando o país de grande importador a médio exportador), com pequeno incentivo”. 

De acordo com o analista Luiz Fernando Pacheco, o correto seria “reduzir o custo Brasil, investindo em melhor escoamento (fluvial e ferroviário) e reduzindo impostos que afetam diretamente os custos. Segundo estudos do Economista Antônio da Luz, da Farsul, os agricultores brasileiros pagam 86% a mais do que os seus vizinhos do Mercosul pelos insumos, fertilizantes, defensivos, máquinas e equipamentos e, no caso específico do trigo 26,21% a mais de impostos diretos.

“Os agricultores precisam se enquadrar mais na cadeia do trigo. A parte do agricultor, que poderia melhorar, é a escolha da semente. Plantar qualquer uma, principalmente a não certificada ou própria e não perguntar ao moinho qual o tipo de trigo que ele precisa para fazer os seus cinco tipos de farinhas é um suicídio. Corre-se o risco de ver recusada a carga ou de conseguir um preço baixo pelo não alinhamento na cadeia geral do trigo”, aponta ele.

“Consequência geral, podemos vislumbrar forte queda no faturamento geral das empresas do setor: os moinhos, como mostramos acima; as cooperativas, cerealistas e multinacionais de insumos, cujas receitas dependem em 25% (o que é muito) do faturamento das culturas de inverno, das quais o trigo é o mais expressivo. Sabendo onde dói é mais fácil curar. Agora precisa vontade efetiva em todos os níveis, cada um no seu raio de ação, para mudar este quadro. O que você pode fazer, na sua atividade, para melhorar isto?”, conclui Pacheco.

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