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Queimada de cana: fim do trololó


Boa notícia: as queimadas da cana-de-açúcar estão com dias contados. E elas vão acabar muito antes do prazo legal, que estabelece como limite, nas áreas planas e mecanizáveis, o ano de 2021. Por conta da pioneira ação do governo do Estado, firmada em um protocolo agroambiental, o prazo agora termina em 2014. E já vai tarde. O álcool combustível, agora apelidado de etanol, se consolidou no mercado brasileiro, além de ganhar força no Exterior. Mais barato e menos poluente, é uma boa alternativa de uso energético. Mas as emissões vindas da queimada mancham a boa fama dessa energia renovável. Vamos melhorar ainda mais o que já era bom.

O protocolo do Etanol Verde é a prova que um trabalho conjunto entre a iniciativa privada e poder público dá certo e funciona. Juntos deixamos o trololó de lado e estamos alcançando bons resultados - para o meio ambiente e para o agronegócio.

Conseguimos o compromisso das usinas e dos fornecedores de cana de adotarem conceitos de desenvolvimento sustentável. Estabelecemos prazos para o fim gradual da queima da palha da cana, a preservação de remanescentes florestais e as nascentes. Além do controle de erosões, do uso da água e o gerenciamento adequado das embalagens de agrotóxicos.

Hoje, cerca de 90% das usinas instaladas no Estado, num total de 155 de 198, aderiram ao protocolo. Com dois anos de existência, o Etanol Verde possibilitou a expansão de 35% para 50% na área de cana colhida com máquinas, reduzindo já em 15% a queima da palha.

As usinas se comprometeram a seguir uma receita, fazendo sua lição de casa. Acabar com a queimada, proteger a mata ciliar, economizar água e assim por diante. Mas, agora, nós estamos fiscalizando, indo ver de perto, criando um sentido de responsabilidade entre o setor sucroalcooleiro e o governo. Vamos conseguir, com o fim da queima da palha, acabar com os “carvãozinhos de cana” ou os “ciscos pretos” que sempre revoltam a população.

Esse prazo foi estabelecido como um período de transição. Nessa agenda ambiental do setor sucroalcooleiro, com o fim das queimadas, temos que estar atentos também para a questão dos empregos.

Muita gente mais radical vem até nós e diz que é preciso acabar já com a queimada. No entanto, milhares de pessoas e famílias se ocupam do corte da cana. Não podemos acabar já com a queimada, que seria desejável do ponto de vista do meio ambiente, porque pessoas sofreriam com isso.

O período de transição tem a finalidade de criar condições para que esses trabalhadores sejam requalificados para atuarem em outras funções. Outra questão é que o mercado não dispõe de colheitadeiras para promover o corte mecânico em todo o Estado.

Por isso é que estabelecemos esse tempo de sete anos - do qual, dois já passaram -, para as usinas irem se rearranjando, planejando novas estratégias para o fim das queimadas, porque sabem que lá na frente terão que por um ponto final nisso.

Em abril de 2009, o protocolo ganhou o Prêmio Governador Mário Covas, na categoria “Inovação em Gestão Pública”. Com o Etanol Verde, conseguimos que São Paulo compatibilizasse duas coisas - o etanol cresce, o canavial cresce, mas cresce também a Mata Atlântica junto, formando corredores ecológicos acompanhando os cursos de água.

Estamos dando um exemplo, não só para o Brasil, como também para o mundo. Temos notícias que lá no Exterior, na Suécia, na Alemanha, eles estão comprando álcool do Brasil e exigindo que a empresa tenha aderido ao protocolo público de São Paulo.

Com o protocolo agroambiental, nós estamos até ajudando os usineiros a fazer bons negócios, exportando álcool para o mundo todo. Por outro lado, cobramos, em contrapartida, que acabem com as queimadas, protejam as matas ciliares, economizem água, entre outros benefícios ambientais. Bom para o agronegócio, melhor ainda para o meio ambiente.

O autor, Xico Graziano, é agrônomo e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

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