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Setor madeireiro passa por fusões


Em meio à queda nas vendas, indústria de painéis de madeira para fabricação de móveis vive momento de consolidação

Cristina Rios

A compra da Tafisa Brasil, ligada ao grupo português Sonae, pela chilena Arauco, anunciada na se­­mana passada, promete agitar o mercado de painéis de madeira nos próximos meses. Esse é o se­­gundo grande negócio do setor neste ano. Em junho, a Duratex, do grupo Itaúsa, e a Satipel anunciaram a unificação das operações, criando a maior indústria do setor no Hemisfério Sul e a quinta maior do mundo.


“Esse movimento vai forçar mais consolidações nos próximos meses”, aposta o consultor Marco Tuoto, da STCP Engenharia de Pro­je­tos, especializada no mercado ma­­deireiro. Juntas, Duratex e Sa­­tipel passam a deter cerca de 40% do mercado brasileiro. Na disputa pelo segundo lugar ficam Arauco/Tafisa e a Berneck – ambas com fá­­bricas no Paraná –, com cerca de 12% cada uma. Muito próxima está a chilena Masisa, com fábrica em Ponta Grossa (Campos Gerais) e Montenegro (RS).

O mercado de painéis de madeira – usados na indústria de móveis –, no entanto, não vive seus me­­lhores dias. O forte ritmo de investimentos – entre 2007 e 2010 es­­tão previstos aportes de US$ 1 bi­­lhão – deve elevar a capacidade de produção de 6 milhões de metros cúbicos por ano para 10,2 milhões de metros cúbicos, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira (Abipa). Mas as vendas de 2009 devem representar entre 4,5 milhões de metros cúbicos e 5 milhões de metros cúbicos. “A demanda só deve absorver toda essa capacidade dentro de cinco anos”, afirma Gilson Berneck, presidente da Berneck, que tem fábrica em Araucária, região metropolitana de Curitiba.

A venda de painéis nos três primeiros meses de 2009 foi 20% menor do que no último trimestre do ano passado. O mesmo aconteceu com as exportações, que tiveram queda de 30% na mesma base de comparação, de acordo com Rosane Donati, superintendente executiva da Abipa.

A crise econômica pegou o se­­tor no contrapé ao diminuir as vendas da indústria de móveis – seu prin­­cipal cliente. Afetada pela que­­da nas exportações e nas vendas no mercado interno, a indústria moveleira reduziu o ritmo de en­­comendas e forçou a queda no preço do produto em cerca de 25%, em média.


O freio no mercado fez a Ber­neck segurar a construção de uma nova fábrica em Santa Catarina, orçada em R$ 300 milhões. Em­­bora as vendas tenham começado a reagir em junho, o presidente da empresa acredita que o setor ainda deve fechar o ano com uma queda de 15% nos negócios.

Jorge Hillmann, diretor geral da Masisa Brasil, acredita que a que­­da deve ficar entre 5% e 10%. “Mui­­tos imóveis fruto do ‘boom imobiliário’ ainda não foram equi­­pados, o que representa uma demanda que terá que ser atendida no futuro”. Para ele, o fato de o setor de móveis não ter sido beneficiado com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), como aconteceu com outros setores, também dificulta as vendas. “As pessoas preferiram comprar eletrodomésticos.” A Masisa colocou em funcionamento, em maio, a fábrica de Montenegro, que vai triplicar a capacidade de produção (para 1,05 milhão de metros cúbicos). “Esperamos um equilíbrio de mercado entre de­­manda e oferta com as novas fábricas dentro de dois anos.”

Para as empresas do setor, o mo­­vimento de fusões e aquisições de­­ve provocar o fechamento de fábricas mais antigas. No mercado, co­­menta-se que é o que a Arauco de­­verá fazer a partir da compra da Tafisa – deve ser fechada a fá­­bri­­ca da Placas do Paraná em Curi­tiba, considerada obsoleta e pouco produtiva. O foco seria concentrar a produção na Tafisa, que tem unidade em Piên, a 90 quilômetros de Curitiba, e na unidade da Placas em Jaguariaíva (Campos Gerais). A empresa não comentou o assunto.

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