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Sul de Minas: terra dos campeões café com queijo

Cidades da região sul do estado de Minas Gerais vêm se destacando em concursos que participaram nos últimos anos


Foto: Divulgação

Cidades da região sul do estado de Minas Gerais vêm se destacando em concursos que participaram nos últimos anos. Baependi e Alagoa estão a cerca de 60km de distância entre si e formam o circuito do café com queijo, duas iguarias muito apreciadas pelos mineiros e que, em alguns meses, conquistaram mais de 15 medalhas em premiações nacionais e internacionais. 

Baependi não tinha uma forte expressão para seus cafés até bem pouco tempo. Com uma produção voltada para o mercado local e a agricultura familiar, vinha apresentando dificuldade melhorar sua produção e aumentar o escoamento de seus produtos. Porém, recebeu ao todo seis prêmios no CUPPING do ATeG Café+Forte de 2021. premiação que avaliou os melhores cafés de Minas Gerais. Na categoria “Arábica Natural”, a cidade faturou as três melhores colocações na região, e duas entre as três melhores do estado. 

Alagoa tem uma produção de queijo com mais de 200 anos de história, tendo desenvolvido uma variedade de parmesão que hoje recebe o nome “Queijo Tradicional d’Alagoa”. Um grupo de produtores da cidade fez história na ExpoQueijos Internacional deste ano, em Araxá, faturando 11 medalhas, sendo quatro de ouro, três de prata e outras quatro de bronze. No prêmio CNA Brasil Artesanal Queijos 2022, foram duas medalhas, uma de prata e uma de bronze.

Mudando Rumos

Para se destacar é importante ter produtos de qualidade, mas é preciso também ter uma boa gestão e controle de qualidade. Percebendo as potencialidades da região, o Sistema FAEMG vem implementando grupos de assistência técnica e gerencial (ATeG) nessas cidades. Em Baependi, o ATeG Café+Forte atende 30 produtores, e vem implementando ferramentas de gestão e aumentando a renda dos produtores ao inserir novas técnicas de manejo do café, sua distribuição e agregando valor ao produto. “Quando começamos, os produtores se encontravam em um cenário desmotivador. Sem incentivo de levar os produtos para além de Baependi. Trabalhamos com eles, desde adubação, manejo do solo, para chegar a uma produtividade e qualidade bacana”, disse Leandro de Freitas, supervisor de ATeG responsável pelo desenvolvimento do projeto e também medalhista de ouro no CUPPING do ATeG Café+Forte de 2021, sendo eleito o melhor técnico de campo da cadeia do café de todo o estado. Ele acredita que depois da implementação desse trabalho, Baependi começa a se tornar uma referência em café para todo Minas. “Baependi hoje está despontando no cenário cafeeiro. É uma região montanhosa da Mantiqueira, com um terroir maravilhoso. Estamos lapidando esses cafés e pondo no mercado”, contou.

Ronaldo Maciel é, hoje, considerado o produtor do melhor café arábica natural do estado de Minas Gerais, alcançando uma pontuação de 88,07 pontos na análise técnica e sensorial. Ele recebeu a faixa de campeão do Marcelo dos Santos, segundo colocado em 2021 e campeão em 2020, alcançando 90,3 pontos. Esse ano ele marcou 87 pontos e completou o pódio estadual em terceiro lugar.  Ele afirma que a aproximação com o Sistema FAEMG, trouxe melhorias até mesmo para a autoestima do produtor. “Agradeço muito, ao sindicato e ao Senar, por terem se envolvido, pois temos esse apoio que nunca tivemos. Antes não éramos reconhecidos. Sempre fizemos bons cafés, mas nunca tínhamos participado de concursos”, disse Marcelo. O campeão atual enfatizou que as melhorias em gestão e manejo auxiliaram na qualidade e no resultado alcançado pelo seu produto. “Se eu estou onde estou hoje, é por conta do sindicato que reuniu os produtores e levou os técnicos lá na fazenda. A diferença começa já na lavoura. Plantar e colher na hora certa, selecionar o fruto, secar em terreiro suspenso. Fazendo o simples, mas com qualidade, no capricho!”., afirmou Ronaldo.

Aperfeiçoando a Qualidade

Em Alagoa, o grupo de ATeG Agroindústria de Derivados Lácteos começou a inserir mudanças principalmente na administração do negócio. A técnica de campo, Renata de Paoli, explica que esse tipo de assistência tem a capacidade de causar mudanças profundas na vida do produtor rural. “Com anos de experiência trabalhando na melhoria contínua de produtos e processos, percebo que quando focamos em qualidade, os resultados vêm. E no caso específico deste grupo, os resultados são potencializados considerando se tratar de um queijo artesanal tão único, que só existe ali e em nenhum outro lugar do mundo”, enfatizou.

Para o gerente regional do Sistema FAEMG, Wander Magalhães, o choque de gestão implementado pelo ATeG pode causar grandes mudanças na vida do produtor. “Alagoa já tem tradição na produção do queijo e o faz com bastante maestria, mas o ATeG tem uma coisa interessante, pois o processo de gestão dessas propriedades era inexistente. Isso somou muito para o produtor, principalmente na redução de custo e precificação, que eles não sabiam de maneira contundente como fazer, além de melhorias técnicas que foram sugeridas nas propriedades” disse.

O queijo mais famoso de Alagoa atualmente vem sendo produzido pelo senhor Francisco Antônio de Barros, proprietário da queijaria Sabor da Alagoa e que produz seus queijos junto da esposa, os filhos e noras. Ele recebeu uma medalha de ouro na premiação de Araxá, uma de prata no prêmio do CNA e outra de prata em Araxá ano passado. “A gente participa de concursos sempre que pode. Ganhar um prêmio em um concurso desse tamanho é um grande reconhecimento do nosso trabalho, nos mostra que estamos no caminho certo”.  

O Valdeci Mendes, da Fazenda Bugio, venceu em duas categorias, queijos aromatizados de massa cozida madurado e queijo de leite cru de vaca com massa cozida meia cura na ExpoQueijos Araxá. Com mais de 40 anos na produção leiteira, ele disse que ainda há espaço para aprendizado, e que o ATeG veio para melhorar ainda mais o seu produto. “Mostra o que não está funcionando e incentiva bastante a melhorar. A gente já fazia um levantamento básico de custo antes e agora está cada vez melhor”, afirmou. 

Ademir Mendes vem colecionando medalhas. No periodo de um ano, são três medalhas de ouro e uma de prata na ExpoQueijos Araxá. O queijo da Fazenda JM, saiu vencedor na categoria queijos aromatizados de massa cozida meia cura, com o  queijo d’Alagoa feito com café. Ele disse que participar da assistência melhorou os ânimos, na propriedade e aumentou as perspectivas de futuro do negócio. “Hoje a gente tem acompanhamento de tudo, medimos a qualidade do leite, pesamos o produto diariamente, tenho muito mais noção do custo da minha produção, hoje eu sei quanto custa fazer meu queijo”.

O que é o ATeG

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) é uma entidade que defende os interesses políticos, econômicos e sociais da categoria. Tem 386 sindicatos filiados e desenvolve ações juntamente com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para capacitar gratuitamente produtores através de cursos de FPR (Formação Profissional Rural) e PS (Promoção Social). Através do SENAR, mais de 200 mil pessoas são atendidas anualmente em todas as regiões do estado. O gerente do escritório regional do Sistema FAEMG em Juiz de Fora é Wander Magalhães. 

Uma das ações desenvolvidas pela federação para alavancar as cadeias produtivas e melhorar o desempenho de agropecuaristas de todo o estado, é o Programa de Assistência Técnica e Gerencial, o ATeG. Nesse programa, um técnico especialista na área de atuação daquela propriedade, oferece assistência gratuita para o produtor rural, capacitando-o a desenvolver ações técnicas e gerenciais, além de promover a atualização tecnológica, modernizando a vida no campo. Os grupos têm entre 20 e 30 produtores, que podem ser de diversas cidades em uma mesma região, mas sempre dentro da mesma cadeia produtiva. As principais capacidades técnicas desenvolvidas dizem respeito a boas práticas de fabricação e higiene, melhoria no aproveitamento de matéria prima, aumento na qualidade e no controle de qualidade dos produtos, saúde animal ou da lavoura, dentre outras. Já na parte gerencial, são apresentadas ferramentas para identificar os custos, ter uma precificação justa, divulgação e distribuição de produção, dentre outras capacidades. A assistência tem duração de dois anos, e cada produtor rural do grupo tem direito a uma visita de 4h por mês, para assistência durante todo o período.  

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